Usinas

Crise hídrica ameaça indicadores da safra 21/22

Apesar da perspectiva da elevação dos custos, a rentabilidade dos produtos traz esperança para os produtores

Crise hídrica ameaça indicadores da safra 21/22

Avançando no debate sobre custos, perdas e gestão agroindustrial em relação à safra 21/22, a 4ª Estratégica do JornalCanal, realizada no dia 9 de junho, reuniu um seleto grupo de profissionais e pesquisadores do setor sucroenergético para debater os impactos que já estão sendo sentidos pelo setor.

O grupo formado por Eder Paz, da área de Controle e Qualidade da Usina São Domingos; Helton de Oliveira, gerente industrial da Usina Santa Adélia; João Rosa (Botão), professor e gestor de Novos Projetos do Pecege e a professora universitária na FCAV/Unesp, Márcia Mutton, deu prosseguimento ao segundo webinar com essa mesma temática.

Sob a mediação do jornalista e diretor do ProCana, Josias Messias, o evento online  contou com o patrocínio da AxiAgro; GDT by Pró-Usinas; HRC; Project Builder e S-PAA Soteica.

Ao longo de sua explanação, Eder Paz, da Usina São Domingos, apresentou alguns números que apontam uma evolução na capacidade de moagem das usinas da região centro sul, em relação à safra 19/20. Passando de 590 para 605 milhões de toneladas, um aumento de 2,56%. Neste período também se registrou um aumento de 4.44% no ATR, que passou de 138,57 para 144,72 kg, o que possibilitou a operação das plantas industriais por mais tempo.

Paz informou que o custo de uma planta de médio porte parada está em torno de 18 mil dólares a hora. Por isso, é importante manter essa unidade processando, com utilização de 100% da sua capacidade instalada.

LEIA MAIS > Entenda como a qualidade da cana atrelada a dificuldades operacionais na fábrica afetam a fermentação
Eder Paz

O gerente industrial da Usina Santa Adélia, Elton de Oliveira destacou que as ações da usina se baseiam no tripé: pessoas, estratégia e operações. Com 84 anos de existência a usina conta com duas unidades nas cidades de Jaboticabal e Pereira Barreto. A capacidade de produção na safra 2020/2021 foi de 137 mil toneladas de açúcar, 322 milhões de litros de etanol, além da comercialização de 58,8 MWh por tonelada de cana de energia exportada, totalizando uma moagem de 5,8 milhões de toneladas de cana.​

Oliveira comentou, que em 2015, a usina deu início a implantação do programa de gestão VOAR (Valorizar a Operação e Aumentar os Resultados), baseado no sistema Toyota de Produção. Um programa muito focado no chão de fábrica, sempre buscando a melhoria das operações.

Através da implantação do programa “Kaizen Tempo é Dinheiro” foram identificadas pelo menos 146 oportunidade de melhorias, sendo que muitas delas implantadas trazendo resultados bastante satisfatórios como: roteiro de inspeções preditivas; identificação e padronização da manutenção preventiva; registro histórico de parâmetros operacionais; padronização de ferramentas de manutenção; treinamento de manutenção preditiva para operação; entre outros. Em 2021 a Santa Adélia foi uma das empresas finalistas da 5ª edição do prêmio Kaizen Brasil, na categoria Excelência de Produtividade.

LEIA MAIS > Diana Bioenergia pretende quadriplicar lucro na próxima temporada
Helton de Oliveira

Para o professor do Pecege, João Rosa, o Botão, a palavra desafiadora é a que melhor define a safra 21/22. Um dos detalhes que ele chamou a atenção é que a quebra de safra, consenso geral entre todos analistas, não será a mesma para todos. Uns deverão sentir mais e outros, sentirão bem menos.

Segundo ele, em algumas regiões a quebra pode ser de 15 a 20%, estimando que no noroeste paulista, em São José do Rio Preto, Araçatuba e Triângulo Mineiro tenham quebras mais acentuadas devido à questão climática. “Mas o que não pode acontecer é considerar essa situação como um cenário para o setor com um todo”, explicou.

Pecege prevê quebra de 6%

João Botão Rosa

Rosa ressalta que algumas regiões como no caso de Mato Grosso do Sul, em Assis e na região de Presidente Prudente, inclusive, estão moendo entre 10% a 20% a mais do que o previsto. Em função disso, o Pecege estima que a quebra de safra fique entre 5% a 6%, com uma previsão de moagem de 580 milhões de toneladas para o Centro-Sul. Com relação ao aumento de custo de produção, a perspectiva é que fique entre 8 e 10%. Já os custos industriais devem subir 17%.

O professor lembra, no entanto, que o que vale na verdade é a rentabilidade. “Nem tudo está ruim. Vai subir o custo? Sim vai, mas felizmente os preços estão subindo num patamar maior. Imagina que nós estamos com ATR de R$ 1,00 por quilograma e estava com R$ 0,77 no fechamento da safra. Então é uma safra desafiadora em termos de custos, mas felizmente acredito que o setor vai colher bons frutos em termos de margem”, finalizou.

A professora da FCAV/Unesp, Marcia Mutton destacou aspectos que contribuem para a perda da qualidade da cana, comprometendo a produção. “Quando agrícola e indústria começam a se relacionar ocorrem perdas, e toda vez que nós experimentamos perdas, nós vamos ter um efeito negativo ou menor sobre as eficiências e com isso um aumento de custo do produto impactando no êxito da empresa”, explica a pesquisadora.

Ela lembrou que no processo de produção de cana além das reações fisiológicas normais: brotação, desenvolvimento do sistema radicular, perfilhamento, crescimento, biossíntese e maturação, é preciso considerar, principalmente, o florescimento e isoporização que são eventos muito importantes e que têm comprometido a qualidade.

LEIA MAIS > Usina DACALDA realiza sua primeira emissão de CRA
Marcia Mutton

De acordo com Márcia, poderá ser observado nesta temporada a ação de dois fatores abióticos em especial. Além da falta de água e excesso de temperatura, pode-se encontrar nesta safra, níveis inadequados de nutrientes no solo e excesso de luminosidade que são parâmetros que têm determinado a redução significativa na produção com qualidade.

“Nós tivemos diferentes níveis de precipitação nas regiões produtoras de cana em São Paulo no Mato Grosso, Goiás em algumas regiões essa precipitação acumulada foi de 1.300 mm. Quando a gente observa a previsão e o que tem ocorrido na safra 21/22, verificamos que essa precipitação é da ordem de 882 mm sendo muito mais grave para algumas regiões”, esclarece Márcia.

Diante desse cenário, a professora informa que está sendo observado a quebra de produtividade em tonelada de cana por hectare entre de 5 a 20%, dependendo da região.

Outro problema apontado por ela, é a densidade de cargas. “O custo do transporte vai ser impactado quando levo cana isoporizada para a indústria, pois o volume de carga aumenta, mais a qualidade da matéria-prima que chega na moenda não é a desejada”, conclui.