
As consultorias INTL FCStone e Datagro têm projeções diferentes para o déficit global de açúcar. Em agosto, durante evento em Ribeirão Preto (SP), o presidente da Datagro, Plínio Nastari, previu em 8,89 milhões de toneladas o déficit.
Já a INTL FCStone, também em evento em 25/08 em Ribeirão Preto, previu o déficit em 9,7 milhões de toneladas.
A diferença entre as projeções é de 8,2%, ou 810 mil toneladas.
A diferença entre as projeções também representa 5% de todo o açúcar produzido pelas usinas da região Centro-Sul desde o começo da safra 16/17 até 1º de agosto. Segundo a União da Indústria Canavieira (Unica), no período as unidades produtoras processaram 16,91 milhões de toneladas.
Impacto na safra 17/18
O déficit global de açúcar é considerada ‘senha’ para a produção da safra de cana-de-açúcar 2017/18. Entre analistas de companhias sucroenergéticas, a escassez de adoçante fortalecerá o mix açucareiro da próxima safra.
Outro motivo para a puxada para o açúcar é a possível volta de tributação do PIS/Cofins sobre o etanol hidratado, que deverá encarecer o litro ao consumidor em R$ 0,12, e que também deverá fazer o consumo do biocombustível recuar.
O mercado doméstico de etanol tem outro ‘inimigo’: a oferta durante a entressafra (dezembro/2016 a março/2017) estará reforçada com armazenagem de biocombustível por usinas e com etanol importado dos EUA.
A combinação de estocagem elevada tende a impactar negativamente no preço do biocombustível para produtores.
Projeção da INTL FCStone

O déficit mundial, segundo a INTL FCStone, resulta de aumento de 1,7% (em relação à safra 2015/16) projetado pelo lado da produção total, em 176,44 milhões de toneladas, que não conseguiu compensar uma elevação também na demanda, de 1,8% (em relação à safra 2015/16), alcançando 186,13 milhões de toneladas.
João Paulo Botelho, analista de mercado da consultoria, explica: “este aumento [na demanda] é resultado do crescimento esperado para as economias dos principais consumidores de açúcar, principalmente nos mercados emergentes, onde a urbanização e industrialização têm efeito considerável sobre o consumo do adoçante.”
Apesar da desaceleração na economia chinesa ter diminuído ligeiramente o ritmo de crescimento global, não há expectativa de grandes solavancos nos países que vem puxando o consumo de açúcar ao longo dos últimos anos.
Anteriormente, a consultoria apontava déficit global de 7,8 milhões de toneladas. Desde que esta estimativa preliminar foi divulgada até agora, a perspectiva para a produção de alguns grandes players foi reduzida e, pelo menos em parte, isso ainda se deve aos efeitos do El Niño.
Conforme a INTL FCStone, o El Niño, que teve uma de suas ocorrências mais intensas da história entre abril do ano passado e junho deste ano, causou seca na entressafra de alguns países produtores e condições adversas para a colheita na safra de outros. Acrescida ao clima desfavorável, a falta de novos investimentos em expansão da capacidade produtiva nos principais produtores ao longo dos últimos anos manteve a produção estacionada no patamar de 173 a 184 milhões de toneladas, que vigora desde a safra 2011/12.
Na Tailândia, onde o clima seco que predomina desde o ano passado prejudicou os canaviais em momentos críticos do desenvolvimento vegetativo, a produção deve ficar em 9,6 milhões de toneladas, 3,9% abaixo do ano passado e o menor patamar desde 2009/10.
Destaca-se ainda que os estoques do adoçante nesta safra devem cair 13,5%, para 61,9 milhões de toneladas, o menor volume desde 2011/12 e 23,4% abaixo da máxima de 2014/15. Desta forma, a relação estoques-uso deve ser reduzida para 33,3%, igualando a mínima da série histórica de 2010/11, quando o preço médio na bolsa de Nova Iorque foi de US¢28,15/lb.
Projeção da Datagro

Além dos problemas no Brasil, a Índia deve sofrer com os efeitos do El Niño em seus canaviais a serem colhidos em 2016/17. A longa estiagem também afetou a rebrota e o desenvolvimento na cana na Tailândia, Paquistão e na China.
Em estimativa anterior, divulgada em maio, a Datagro previa déficit de 7,1 milhões de toneladas. Como resultado, a relação entre estoque e consumo mundial no final de 2016/17 deve atingir 37,9%.
“A nossa visão é de que toda vez que essa relação estoque e consumo cai abaixo de 41% há uma condição para que o mercado fique com a percepção de fluxos mais apertados”, explica Nastari.

