Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo, diretor comercial da Usina Alta Mogiana, situada em São Joaquim da Barra (SP), integra também o Conselho da União de Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica).
Nesta entrevista exclusiva para o Portal JornalCana, o executivo explica porque poucos grupos sucroenergéticos irão aproveitar a temporada de bons preços para o setor, que parte da área com grãos deverá ceder espaço para cana-de-açúcar e como foi a safra 15/16 na Alta Mogiana, que encerrou a moagem em 20 de novembro.
Vêm aí entre dois a três anos de preços remuneradores para o setor sucroenergético. Como as pouco menos de 400 usinas de cana-de-açúcar do País deverão aproveitar essa temporada?
Luiz Gustavo Junqueira Figueiredo – Realmente teremos margens acima da média nos próximos dois a três anos. No setor sucroenergético, haverá os grupos mais capitalizados, que sairão bem fortalecidos [nessa temporada], alguns inclusive com endividamento muito baixo.
Não significa necessariamente que são grandes grupos em termos de moagem?
Junqueira Figueiredo – Não necessariamente, mas que poderiam fazer aquisições ou expansões. Então nós temos esse primeiro tipo de usina. Mas não dá para dizer que [esse tipo] será a maioria [dos que irão se beneficiar com a temporada de margens melhores]. Será a minoria.
E as demais?
Junqueira Figueiredo – A maioria [das usinas] estará na condição de diminuir o endividamento, mas não necessariamente irá se aventurar em grandes investimentos, em grandes expansões. [Diante o cenário de margens] vejo uma parte pequena do setor se dando ao luxo de poder fazer uma expansão nos próximos dois a três anos.
Novos investimentos
Entre os grupos sucroenergéticos que terão como investir, esse investimento será mais na área agrícola, já que o Centro-Sul está no teto de produção de 600 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra?
Junqueira Figueiredo – As usinas que hoje estão mais saudáveis são companhias que têm cuidado muito forte com o canavial. Há essa correlação nos grupos menos alavancados. Evidentemente que o cuidado com o canavial sempre será importante. Mas acho que o caminho natural para essas unidades é fazer expansão orgânica, ou seja, aumentar a área das unidades que já possuem, principalmente aproveitando que o preço da cana-de-açúcar também irá subir com esse momento.
Fale mais, por favor.
Junqueira Figueiredo – Áreas que hoje estão destinadas a grãos provavelmente irão começar a migrar para cana-de-açúcar.
Quando poderemos ter uma produção maior de cana-de-açúcar?
Junqueira Figueiredo – No curto prazo é difícil ultrapassar o teto de 600 milhões de toneladas de cana-de-açúcar no Centro-Sul. Mas em cinco anos deveremos ter um novo patamar de moagem e, aí, muito mais sustentável, porque nesses cinco anos quem estará processando, moendo, será realmente quem possui custo competitivo, produtividade agrícola boa, uma solidez financeira interessante.
Fornecedores particulares de cana
Essa previsão abrange também os fornecedores particulares de cana, que atuam como parceiros das usinas?
Junqueira Figueiredo – Com certeza os fornecedores mais capitalizados vão poder agregar produção a esse momento favorável de preços. Evidente que para a maioria dos fornecedores a situação não é muito diferente do que aconteceu com as usinas. Ou seja, o canavial deles também está envelhecido. Precisam renovar mais rápido o canavial. Então, em um primeiro momento os fornecedores poderão até diminuir a produção, ao invés de aumenta-la. Mas em um segundo momento não só irão recuperar a produção que tinham há três anos, como também aumentar a produção em um ciclo mais positivo.
Importação de anidro
Acompanhamos um movimento de maior consumo de gasolina no Brasil, com a necessidade de mais etanol anidro. Com a incidência de mais chuvas às vésperas do fim da safra na maioria das usinas do Centro-Sul, será que precisaremos importar anidro para atender ao consumo?
Junqueira Figueiredo – Em um cenário drástico de excesso de chuvas em dezembro, existe a possibilidade de importação de anidro. Mas eu acredito que, apesar do dezembro chuvoso, haverá oportunidade de moer no Centro-Sul um volume de cana suficiente para dar tranquilidade ao abastecimento [de anidro].
Safra na Alta Mogiana
Como está a safra 2015/16 da Usina Alta Mogiana?
Junqueira Figueiredo – Terminamos a safra no dia 20 de novembro. Moemos 5,1 milhões de toneladas de cana-de-açúcar.
Era a previsão inicial?
Junqueira Figueiredo – A previsão inicial era moer 5,3 milhões de toneladas. Mas tivemos uma quebra de produção de cana dos fornecedores maior que o previsto. É o que eu vinha dizendo: na medida que investiram menos, a produtividade veio caindo. Só agora, dentro de dois a três anos, é que lentamente eles irão recuperar a produtividade.
Então não há cana bisada?
Junqueira Figueiredo – Não. O lado positivo é que nós renovamos muita área de plantio neste ano. Renovamos próximo de 20% de nossa área [a Alta Mogiana opera 80% com cana própria e 20% de cana de terceiros]. [Essa renovação] significa que a Alta Mogiana terá um incremento em 2016, que irá reduzir o custo de produção e esperamos aproveitar a fase boa de preços.
Qual a previsão de moagem da Alta Mogiana para a safra 16/17?
Junqueira Figueiredo – Acredito em mais de 5,3 milhões de toneladas de cana. Poderemos chegar a 5,7 milhões de toneladas de cana.
E a produção da Alta Mogiana na 15/16, foi mai alcooleira?
Junqueira Figueiredo – Começamos mais alcooleiros. Eu, no começo do ano, defendi muito no setor que se produzisse mais etanol. Estamos com uma produção recorde de biocombustível. E felizmente as usinas produziram mais etanol, porque ele é utilizado gota a gota. Tanto é que, como mencionado, há a possibilidade de importação.
E o açúcar?
Junqueira Figueiredo – No último terço da safra, quando a produção de etanol já era suficiente para abastecer o mercado, é que, no caso da Alta Mogiana, decidimos aumentar um pouco mais o mix para o açúcar, mas por conta de uma necessidade específica nossa. Tínhamos contratos de mercado interno para atender, e, já que havia menos cana do que em 2014, precisamos direcionar um pouco mais de cana para o açúcar.
Com ficou o mix?
Junqueira Figueiredo – Normalmente o mix da Alta Mogina fica entre 63% e 69% para açúcar, e fechamos este ano bem no meio desse intervalo. Digamos que não fomos tão açucareiros, como poderíamos ter sido, e nem tão alcooleiros.
Palha e bioeletricidade
Bioeletricidade: como está esse processo na Alta Mogiana?
Junqueira Figueiredo – Nós geramos na Alta Mogiana cerca de 180 mil megawatts (MW) por ano para exportação. Desse volume, ou contratamos os 180 mil MW, ou contratamos menos, mas deixamos o preço definido para apenas 70%. Ou seja, se tivemos alguma frustração da produção por algum motivo, ainda tenho 30% da produção prevista, não precificada, o que dá uma certa tranquilidade caso o preço suba, e vá acima do que vendi, e não prejudica a receita.
O recolhimento de palha para cogeração na Alta Mogiana é embrionária?
Junqueira Figueiredo – É embrionária, mas é uma promessa que veio para ficar. Acho que iremos aumentar cada vez mais o transporte de palha para a unidade produtora.
Mercado e Cop 21
E quais suas expectativas sobre etanol enquanto redutor das emissões de carbono, por conta da Conferência do Clima, a Cop 21, realizada em Paris?
Junqueira Figueiredo – Eu vejo com otimismo, com mais otimismo nos países desenvolvidos do que no Brasil. Aqui já se viu no passado que algumas promessas governamentais não se traduziram em realidade. Então olho com certa ressalva as metas colocadas pelo governo brasileiro [de 50 bilhões de litros de etanol em 2030]. Mas espero que sejam cumpridas. Se o que o governo brasileiro propõe, aliado ao que outros países devem objetivar, isso irá dar um grande alento ao setor.
Assista um trecho da entrevista:
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