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Com produção tendendo para o etanol, usinas freiam exportações de açúcar

Consultorias têm reduzido estimativas de produção já refletindo o desempenho percebido pelas usinas nesse início de moagem

Com produção tendendo para o etanol, usinas freiam exportações de açúcar

Com os preços impulsionados pela recuperação da pandemia e também pela longevidade da guerra entre Rússia e Ucrânia, as usinas de cana-de-açúcar estão optando por uma safra mais alcooleira, provocando uma desaceleração nas exportações de açúcar.

Quase todas as empresas envolvidas no comércio de açúcar no Brasil tiveram cancelamentos, estimados entre 200.000 a 400.000 toneladas de açúcar bruto, segundo apurou a agência Reuters junto a um trader de um grande comerciante internacional de commodities durante a Sugar Week em Nova York na semana passada.

Projeções recentes de analistas mostram números mais baixos de produção de açúcar e volumes mais altos de etanol porque as vendas de biocombustíveis se tornaram mais lucrativas para as usinas. As vendas de etanol aumentaram 2,6% em abril.

Um segundo trader, que também trabalha para um grande comerciante internacional de alimentos, confirmou os cancelamentos – conhecidos no setor como “washouts” – e disse que a maioria dos traders está tentando ser flexível ao negociar. “São contratos take-or-pay, há uma taxa, então às vezes o custo pode ser alto para a usina”, disse ele.

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Segundo executivo do setor, os ganhos com a mudança do açúcar para o etanol compensaram os custos dos cancelamentos. “As vendas de etanol são pagas em um ou dois dias, enquanto a exportação de açúcar demora muito mais, e as usinas têm muitas contas a pagar no início da safra”, disse.

O etanol hidratado estava sendo negociado ao equivalente ao preço do açúcar a 20 centavos de dólar por libra no final da semana passada, enquanto os contratos futuros de açúcar em Nova York estavam sendo negociados a pouco mais de 19 centavos de dólar por libra-peso.

Na safra passada, as usinas utilizaram 45% da safra de cana-de-açúcar para produzir açúcar e 55% para produzir etanol. Cada ponto percentual corresponde a cerca de 700 mil toneladas de açúcar.

Os números recém-publicados pela UNICA da moagem de cana no Centro-Sul alertam para a real possibilidade de uma redução na produção de cana desta safra. Várias consultorias têm reduzido suas estimativas de produção já refletindo o desempenho percebido pelas usinas nesse início de moagem.

A Archer Consulting reduziu sua estimativa na produção de cana para 22/23 no Centro-Sul para 548 milhões de toneladas (a anterior era de 552 milhões) também reduzindo a ATR em pouco mais de um quilo por tonelada de cana, o que ajusta a produção de açúcar para 31.5 milhões de toneladas, 525,000 a menos do que o ano passado.

O mix de produção, deve priorizar o etanol em 56.2% e coloca a previsão de produção do combustível em 25.4 bilhões de litros que somados ao etanol de milho totalizam 29.8 bilhões de litros, dos quais 11.5 bilhões de litros de anidro e 18.3 bilhões de litros de hidratado. Tem usina que vai elevar a produção de etanol mais de 10 pontos percentuais em relação à safra passada.