Usinas

Cientistas desenvolvem processo de obtenção de material para indústria através do bagaço da cana

Concessão da patente da tecnologia foi aprovada na terça-feira (10)

(Foto Cícero Oliveira – AgecomUFRN)
(Foto Cícero Oliveira – AgecomUFRN)

Um grupo de dez pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) criou uma nova utilização para as cinzas do bagaço in natura da cana-de-açúcar. A tecnologia patenteada é um processo de obtenção de uma sílica, importante material para o desenvolvimento de diversos produtos, como tintas, cosméticos, pneus de carro, revestimentos e filtros de água e na indústria petrolífera.

O diferencial do produto é a utilização de uma rota inovadora para a obtenção de sílica gel a partir das cinzas desse resíduo e com a utilização de materiais de baixo custo, facilidade no processo de síntese e diminuição no consumo da energia necessária para sua a obtenção.

Luciene da Silva Santos, a professora do Instituto de Química (IQ) e coordenadora do Laboratório de Tecnologias Energéticas (Labten), local onde os testes ocorreram, ressalta que o bagaço da cana é o maior resíduo da agroindústria brasileira. Estima-se que, a cada ano, sobrem de 5 a 12 milhões de toneladas deste material, que corresponde a aproximadamente 30% da cana moída.

LEIA MAIS > Agronegócio Paulista tem saldo recorde em 2022

Parte dos pesquisadores em atividade no laboratório (Foto Cícero Oliveira – AgecomUFRN)

“Esse processo contribui para a preservação do meio ambiente, visto que faz a reutilização do bagaço da cana, podendo agregar um maior valor comercial bastante importante à cadeia de produção da cana e do etanol de primeira e segunda geração”, pontua.

A sílica é um produto de elevado valor agregado, aplicado em diversos setores industriais e sendo inclusive considerado um dos principais constituintes da indústria de base moderna. No invento, a metodologia inovadora adotada acaba na obtenção de um material de ótima pureza.

José Alberto Batista da Silva, inventor que, na época do depósito de pedido de patente, em 2017, era aluno do Programa de Pós-graduação em Química (PPGQ), enumera que o resultado é alcançado apesar de a cinza do bagaço possuir composição variável, tanto em sua morfologia, tamanho e forma das partículas, como em sua composição química, de acordo com as diferentes condições de temperatura e tempo de incineração.

“A sílica do bagaço de cana, também denominada sílica MP2, pode ser utilizada em vários processos industriais, por exemplo como suporte para processos de adsorção de compostos de enxofre no diesel, aplicabilidade essa utilizada nessa patente nos testes que fizemos, em que se utilizou na síntese de peneiras moleculares do tipo MCM-41, e posterior impregnação com metais para a utilização na retirada do enxofre do diesel”, explica o hoje professor da rede estadual na Paraíba e no Rio Grande do Norte.

LEIA MAIS > Desembolso do crédito rural soma R$ 202,8 bilhões até dezembro

(Foto Cícero Oliveira – AgecomUFRN)

A tecnologia apresenta um Technology Readiness Level (TRL) entre três e quatro. Os TRLs são níveis de prontidão tecnológica, um método para estimar a maturidade das tecnologias em uma escala que se estende até nove. Há um “protótipo” ou produto já sintetizado, em escala de bancada, em torno de 10 gramas. Luciene da Silva Santos frisou que há a necessidade de escalonamento, ou scale up, para uma produção em planta piloto de até um quilo e, futuramente, em escala industrial.

Com o pedido feito em abril de 2017, o Processo de Obtenção de Sílica Proveniente da Cinza in natura do Bagaço da Cana-de-Açúcar recebeu a concessão definitiva da patente na terça-feira, dia 10 de janeiro. A pesquisa também com a participação de outros cientistas em suas áreas específicas, como José Carlos Florêncio de Andrade, Etemistocles Gomes da Silva, Renata Martins Braga, Dulce Maria de Araújo Melo, Valdic Luiz da Silva, Rafael Viana Sales, Fernanda Maria de Oliveira e Keverson Gomes de Oliveira.