Nem tanto pelo El Niño, com atuação considerada moderada, mas pela antecipação das chuvas em outubro e novembro, que devem prejudicar a moagem de cana, o analista de mercado Maurício Muruci, avalia que os preços de açúcar devem chegar a US$ 0,30 por libra-peso em novembro, na bolsa de Nova York. Ele estima uma moagem de 580 milhões de toneladas na região Centro-Sul na safra 2023/24.
As considerações foram feitas durante o 6º SAFRAS Agri Week onde Muruci falou sobre os efeitos do El Niño sobre a entressafra de cana da temporada 2023/24 e perspectivas para a safra 2024/25.
“Em 2016 tivemos um El Niño “monstro”, com elevação de temperatura de 2,5 graus, Mas mesmo assim tivemos uma safra dentro da regularidade. Agora temos um El Niño , moderado, mas em cenário completamente diferente do de 2016. Em 2023, o mercado global de açúcar convive com um cenário de seca na Tailândia, monções abaixo da média na Índia e duas incidências de chuvas depois do início da safra 23/24 no Brasil, o que atrasou a moagem da cana”, disse.
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Para o analista, “temos um vetor de risco climático de curtíssimo prazo para semana que vem para cana-de-açúcar, com uma onda calor de 7 a 10 dias no máximo, que não é um período de tempo extremamente prolongado, que possa resultar em uma nova estiagem, uma nova seca, uma nova quebra, relembrando aquele drama todo que a gente teve a dois anos atrás. Muito longe disso”, argumentou.
Muruci avalia que a incidência de chuvas entre outubro, novembro e provavelmente dezembro deve prejudicar a moagem das usinas. “No médio prazo nós temos as chuvas com médias de 100 a 130 mm nas área de cana. Outubro vai ser um mês excessivamente chuvoso no Norte de São Paulo, Norte do Mato Grosso do Sul, Centro de São Paulo e eu diria que expressivamente, exponencialmente chuvoso no Sul de São Paulo e Norte do Paraná. Então como é que as usinas vão moer cana com essa chuva toda em outubro. Então mês que vem já teremos um belo problema pela frente e em novembro a situação não melhora muito”, avaliou.
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Segundo ele, por menor que seja a incidência de chuvas no oeste de São Paulo, onde há a maior concentração do canavial, ainda assim, são volumes muito elevados. “Quando chove 3 milímetros em um dia, as usinas já apresentam dificuldade para moer cana, tendo que desacelerar os trabalhos. Com 5 milímetros, eles já param a moagem”, pontua.
De acordo com Mucuri, a antecipação dos acumulados de chuva no Centro-Sul, que normalmente ocorrem apenas em novembro, devem criar um grande problema para as usinas, sendo um suporte de alta para os preços do açúcar na bolsa de Nova York (ICE Futures) e o etanol hidratado no Brasil.
“Ainda que haja bons estoques de etanol, já que os preços estavam abaixo e as usinas não queriam vender, as usinas vão ter um bom volume para atender o mercado. No entanto, isso será um vetor de alta para o açúcar em NY e o etanol hidratado, que consequentemente puxará o anidro. O açúcar cristal no mercado interno deve subir também”, avalia.