Num movimento agressivo para abocanhar o mercado paulista de trigo, a multinacional Bunge comprou, por um valor não revelado, a totalidade do capital do Moinho Pacífico, comandado pelo empresário Lawrence Pih e um dos maiores da América Latina. Além da planta industrial no porto de Santos, a aquisição incluiu a infraestrutura existente no complexo portuário, formada por armazéns para 200 mil toneladas e um berço de atracação para desembarque do cereal importado.
Ainda que não tenha informado o valor do negócio, o CEO da companhia, o argentino Raul Padilla, disse que esse é o maior investimento na área feito pela Bunge nos últimos anos, conforme adiantou o Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor.
Em abril de 2014, a Bunge anunciou a injeção de R$ 500 milhões para construir um novo moinho no Rio de Janeiro, com condições de moer 600 mil toneladas de trigo. O Pacífico tem estrutura para moer 700 mil toneladas, mas estava processando efetivamente 250 mil toneladas.
Cálculos feitos pela consultoria FG Agro, com base na média do Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) dos últimos dois anos do Moinho Pacífico, apontam que a empresa – sem considerar o berço de atracação em Santos – tem um valor entre R$ 600 milhões e R$ 700 milhões. O cálculo foi feito aplicando um múltiplo de 8 vezes o Ebitda, o mais usado para empresas dessa natureza, conforme a consultoria.
O valor da dívida bancária do Pacífico em 31 de dezembro passado era de R$ 125 milhões. Na mesma data, a empresa tinha em caixa (disponibilidades) de R$ 133 milhões. A receita em 2014 foi de R$ 278 milhões e o resultado líquido, um lucro de R$ 9,4 milhões.
Procurado, o empresário Lawrence Pih não quis comentar a venda do moinho, fundado em 1955 por seu pai e que, até a década de 1990, era o maior da América Latina. O grupo comandado por Pih tem elevados investimentos no mercado de capitais e uma empresa do ramo imobiliário detentora de um estoque de terrenos em São Paulo de 2 milhões de metros quadrados – o equivalente a mais de nove vezes o estádio do Maracanã.
Pih, hoje com 73 anos, foi um dos primeiros empresários de maior expressão no país a apoiar publicamente o Partido dos Trabalhadores (PT), ainda na segunda metade dos anos 1980. Mas, passada mais de uma década de administração petista no governo federal, Pih se tornou um dos maiores críticos da gestão do PT.
Agora nas mãos da Bunge, o Moinho Pacífico será a plataforma de crescimento da multinacional americana no Estado de São Paulo. Vai também ajudar a companhia a cumprir seu plano de crescer nessa área a uma taxa duas vezes maior que a dos concorrentes.
Segundo Filipe Affonso Ferreira, vice-presidente de Alimentos e Ingredientes da Bunge no Brasil, a múlti detém, em média, no país uma participação de mercado de 16% a 17% em trigo. Em São Paulo, essa fatia é de 10% a 12%. “Com o Pacífico, vamos ganhar 5 pontos percentuais”, disse.
Na região “Leste”, formada na nomenclatura da Bunge pelos Estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo, a multinacional vem assumindo uma postura mais agressiva de expansão. Quatro meses antes de anunciar o investimento na planta fluminense, em dezembro de 2013, a Bunge havia adquirido o moinho mineiro Vera Cruz – que já teve sua capacidade duplicada pela empresa.
Quando colocar em operação o moinho no Rio, a moagem total da Bunge no Brasil vai saltar para 1,850 milhão de toneladas por ano, ante as 1,65 milhão atuais. O plano para o Pacífico ainda não foi definido, afirmou Filipe Ferreira. Mas, segundo ele, será superior ao volume atual, de 250 mil toneladas. “O moinho Santista [pertencente à empresa e localizado em São Paulo] já está no seu limite de capacidade. A expansão no mercado paulista virá por meio dessa planta recém-adquirida”, acrescentou.
A conclusão da compra do Moinho Pacífico ainda precisa ser aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) o que, segundo a empresa, deve ocorrer em 45 dias.
O interesse da Bunge no ramo, conforme Padilla, CEO da multinacional no Brasil, baseia-se nas taxas de crescimento do negócio, na casa de 5% ao ano, apesar do ambiente altamente competitivo. “A operação, obviamente, traz margens mais robustas que aquelas vindas da operação de trading, por exemplo”, comparou Padilla.
Uma das maiores companhias globais do agronegócio com um faturamento de US$ 58 bilhões no ano passado, a Bunge tem no Brasil a sua maior operação na área de trigo. “Responde por 60% das operações da companhia com o cereal no mundo”, observou Padilla. No Brasil, a Bunge faturou com todos os seus negócios – Agronegócio, Alimentos e Ingredientes e Açúcar e Bioenergia – R$ 40 bilhões. A operação de trigo responde por cerca de 40% a 50% do negócio de Alimentos e Ingredientes da multinacional no país.
(Fonte: Valor Econômico)