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Ações isoladas não podem criminalizar o setor sucroenergético

Adepto às práticas ESG, o setor é responsável pelo emprego direto de mais de 700 mil trabalhadores

Ações isoladas não podem criminalizar o setor sucroenergético

2,3 milhões de empregos diretos e indiretos. Mais de 700 mil vagas diretas. Números da empregabilidade do setor sucroenergético do Brasil, o maior produtor de cana-de-açúcar em todo o mundo.

Ao longo dos últimos anos o setor se reinventou, se modernizou passando uma verdadeira revolução tecnológica. E quando se fala em sustentabilidade, não sem motivos, o setor é um dos poucos que pode dizer que ela faz parte do seu DNA, em toda sua cadeia de produção.

Estudo realizado por pesquisadores da Esalq/USP e do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) demonstram que, ainda que o número de trabalhadores no setor sucroenergético tenha caído entre 2008 e 2016, a qualidade dos empregos no setor cresceu nesse período.

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Segundo pesquisadores do Cepea e da Esalq/USP, de 2008 a 2016, observa-se aumento da proporção de trabalhadores no setor sucro, com maior escolaridade frente ao total de empregos e também elevação significativa dos salários reais. Dentre outros fatores, esse cenário é resultado do processo de mecanização da colheita, notadamente na região Centro-Sul do Brasil.

De acordo com pesquisadores do Cepea e da Esalq/USP, essa mudança tecnológica trouxe evoluções importantes, como a possibilidade de empregos de melhor qualidade e ganhos salariais, que foram verificados inclusive entre os trabalhadores com menor qualificação.

O estudo aponta que na agroindústria da cana, 95% dos ocupados são empregados com carteira assinada, enquanto para a agroindústria em geral esse percentual é de 58%. No agronegócio como um todo, apenas 36% das pessoas ocupadas possuem carteira assinada. Tal resultado é um indicador do nível de qualidade mais elevado dos empregos gerados pela atividade sucroenergética.

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Porém, recentemente vem ganhando espaço na mídia, matérias que buscam transformar o setor em vilão, imputando-lhe práticas que o segmento repudia e combate de forma veemente, como o trabalho análogo à escravidão.

Com base apenas em casos pontuais, envolvendo empresas de terceirização de mão de obra, e que não refletem a verdade do setor que já evoluiu muito com a questão da mecanização e na capacitação para os antigos cortadores de cana serem alocados a outros trabalhos dentro da própria empresa.

O trabalhador, que se dedicava ao corte e “carregamento manual”, passa a operar as máquinas, aumentando a sua capacidade produtiva e ganhando eficiência e conforto na execução do trabalho.

A atividade sucroenergética também ganhou uma legislação ambiental forte nos últimos anos, especialmente em São Paulo com o Protocolo Agroambiental do Setor Sucroenérgetico Paulista, assinado em 2007 com o objetivo de acabar com as queimadas, comuns nos canaviais com a extração manual da cana. Em dez anos, o número de colhedoras no Brasil aumentou em 80%, segundo a UNICA.  Só no estado de São Paulo, passou de 753 em 2007/08 para 3.747 em 2016/17. Foram 400 mil trabalhadores qualificados que passaram do trabalho manual para operação de máquinas e outras funções nos campos.

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As práticas ESG já vinham sendo aplicadas pelo setor, antes mesmo de ganharem esse dimensionamento global, motivo pelo qual o setor vem obtendo importantes certificações internacionais, como a Bonsucro, por exemplo, que são extremamente criteriosas na adoção destas boas práticas.

Casos pontuais

A BP Bunge Bioenergia se manifestou sobre a operação do Grupo Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego, que na sexta-feira (17), resgatou um total de 212 trabalhadores em Goiás, que prestavam serviço nos municípios de Araporã, em Minas Gerais, e Itumbiara, Edeia e Cachoeira Dourada, naquele Estado.

Os trabalhadores haviam sido contratados por uma empresa de prestação de serviços terceirizados que realiza a intermediação de mão de obra para as usinas destas regiões.

“A empresa repudia qualquer prática irregular relacionada à saúde e segurança do trabalhador e não compactua com situações que exponham as pessoas a condição degradante de trabalho, seguindo o cumprimento das leis e normas do país e adotando as melhores práticas e padrões para desenvolver suas atividades em conformidade com os direitos humanos”, comunicou a empresa que informou ter  agido “rapidamente em defesa dos trabalhadores para garantir as prioridades sociais e humanas e arcou prontamente com os pagamentos indenizatórios”. A empresa também colabora com as autoridades e exige rigor nas investigações.

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(Divulgação Agência Brasil)

A mesma postura adotada pela Colombo Agroindústria, assim que tomou ciência das denúncias, instaurando sindicância, por meio de auditoria externa, cuja apuração poderá contribuir com o Ministério Público do Trabalho (MPT).

Em seu comunicado, a empresa reforça a defesa dos direitos humanos.

“Nossa conduta tem sido de atuar com transparência, numa postura proativa diante das autoridades, dos nossos colaboradores, clientes, cadeia de distribuição, sociedade e imprensa, de forma a reafirmar nosso compromisso com a legalidade, a ética e os direitos humanos”.

Não é o que parece

As atuações coincidem com o período de péssimas notícias para o novo Governo, inclusive com invasões de terras por parte do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), o que causou uma repercussão negativa junto aos setores produtivos do país.

A impressão é de que parece ser uma “cortina de fumaça” para desviar a atenção da opinião pública, usando o agro como “bode expiatório” dos males brasileiros e, de certa forma, tentando dar um ar de legitimidade até para as invasões.

(Reprodução vídeo internet)

“Como jornalista, consigo identificar evidências de ações orquestradas com objetivo de criar factoides, e parece ser esse o caso. O exemplo está na desproporção utilizada nas informações divulgadas, dando peso total a 7 empregados de uma empresa que podem estar numa situação irregular contra 4.993 que a companhia emprega, de forma 100% legal e regular, cumprindo rigorosas normas de saúde e segurança, as quais não são exigidas da maioria das atividades urbanas. Fatos positivos que deveriam constar nas reportagens, mas que são desconsiderados!”, avalia Josias Messias, CEO da ProCana Brasil.

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“Se a preocupação real da fiscalização e da mídia coordenada fosse o cuidado com a empregabilidade e qualidade de vida das pessoas e com o estabelecimento da cultura ESG (de responsabilidade Ambiental, Social e de Governança) no setor, agiria de forma proativa e constante e não com oportunismo“, completa Messias.