Em recente pesquisa com 51 empresas de capital aberto, a Deloitte avaliou os custos de operação como companhia aberta.
Entre os resultados, praticamente dois terços dos respondentes consideram que os custos são compensados pelos seus benefícios, tais como visibilidade no mercado, melhoria de controles e processos de governança e oportunidade de captar recursos mais facilmente, e com menor custo.
Abrir capital, então, é uma saída estratégica também para as empresas do setor sucroenergético?
Para responder esta e a outras perguntas, o JornalCana entrevistou Carlos Zanotta, sócio de Global Capital Markets Group da Deloitte, atuante há mais de 15 anos na área de auditoria.
Confira:
JornalCana: Na média, a receita líquida das unidades sucroenergéticas de cana e de milho ativas no País fica abaixo de R$ 300 milhões/ano. Sendo assim, como destaca o estudo da Deloitte, elas se encaixam na faixa de 20% das empresas participantes da pesquisa e que em 2019 tiveram receita líquida abaixo de R$ 300 milhões.
Diante disso, e dos ganhos de estar listada, abrir capital é uma estratégia também para as médias empresas sucroenergéticas, com receita líquida de R$ 300 milhões?
Carlos Zanotta – Abrir o capital pode ser uma potencial estratégia para o crescimento do setor, assim como dos demais segmentos da nossa economia. A atividade de abertura de capital na B3 no ano de 2020 representou uma “democratização” da nossa bolsa, com a inclusão de empresas de diversos segmentos até então ainda não representados e também de menor porte.
Por exemplo, em 2020 diversas operações inéditas de abertura de capital ocorreram no nosso mercado, como a primeira transação com investidores 100% nacional, sem necessitar acessar investidores estrangeiros e também as primeiras operações de IPO com esforços de emissão restritos a investidores apenas institucionais, diminuindo o custo destas transações.
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No caso das sucroenergéticas, essa abertura de capital é ainda facilitada pelo fato de já existirem empresas listadas no segmento, facilitando o entendimento do setor pelos analistas e potenciais investidores e permitindo comparações entre estas empresas.
A abertura de capital possui diversos ganhos adicionais para uma empresa, tais como acesso a novas possibilidades de capitalização e financiamento (e muitas vezes com acesso a créditos mais baratos, pela redução dos riscos dos bancos pelo fato da companhia aberta fornecer informações ao mercado), aprimoramento das suas práticas de gestão corporativa na condução dos seus negócios, visibilidade e atratividade da empresa, inclusive para retenção e contratação de profissionais, tendo em vista a maior exposição da companhia.
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JornalCana: Existe uma média de custo para o processo de abertura de capital? Como ele é formado?
Carlos Zanotta – A média de custos para a realização da oferta inicial de ações ou abertura de capital no Brasil, entre 2004 e 2020, de acordo com estudo realizado pela Deloitte em conjunto com a B3, divulgado em setembro de 2020, foi de 4,9% do valor captado [link para este estudo: https://www2.deloitte.com/br/pt/pages/audit/articles/custos-para-abertura-de-capital.html].
A grande maioria destes custos, representando na média 3,9% das emissões, segundo o estudo, são de comissões pagas aos bancos intermediadores do IPO e incorridos apenas no caso de sucesso da captação de recursos.
O 1% restante se refere aos custos com auditores, advogados, consultores, taxas de registro junto à CVM e B3, estes sim incorridos independentemente da finalização do processo de abertura de capital. Os requerimentos usualmente envolvem a Companhia ter sido auditada nos últimos 3 anos, assim como existe a obrigação das companhias adaptarem sua governança aos requerimentos de governança corporativa requeridos pela B3, com a implementação de comitês, conselhos e políticas relevantes para a gestão dos negócios.
Como as despesas das emissões, excluindo-se as comissões dos bancos representam em torno de apenas 1% dos valores usualmente captados pelas companhias, não existem linhas de financiamento específicas para a abertura de capital. De forma resumida, na média, para cada R$ 100,00 que a empresa busque captar num IPO, são gastos R$ 1,00 com consultores, R$ 3,90 com as comissões dos bancos, fazendo com que a companhia tenha um aumento de capital líquido de R$ 95,10 – sem a necessidade de pagamento de juros futuros, como acontece em um financiamento, sendo desta forma uma oportunidade muito barata para sustentar o crescimento dos negócios das empresas.
JornalCana: Com o avanço do mercado de descarbonização, o que protagoniza o etanol (como redutor da emissão de gases de efeito-estufa) e as usinas credenciadas no programa RenovaBio, estar com capital aberto acrescenta mais possibilidades de negócios já que a venda de créditos de carbono (os CBios do RenovaBio) e mesmo o etanol tende a crescer em termos mundiais?
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Carlos Zanotta – O mercado discute cada vez mais a importância das companhias divulgarem suas práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança Corporativa, da sigla em inglês Environmental, Social and Governance) que, sendo uma companhia aberta, a exposição da companhia oferece diversas oportunidades de se comunicar com mercado sobre as práticas sustentáveis adotadas.
Além disso, segundo o estudo realizado pela Deloitte e B3 em setembro de 2020, também destaca que, depois da abertura de capital, o custo para novas captações via emissões de ações cai de 4,9% para 3,5%, em média, tornando o acesso ao capital mais simples e barato para que as companhias possam realizar os investimentos necessários na melhoria da sua operação, visando a redução do seu impacto ambiental e, desta forma, facilitando também a obtenção das certificações necessárias do RenovaBio.
Adicionalmente, é cada vez mais comum empresas também exigirem uma maior divulgação de seus fornecedores sobre as suas práticas, desta forma, a companhia já sendo aberta e divulgando estas informações periodicamente ao mercado, facilita o processo de diligência já requerido por esses seus potenciais cliente antes da assinatura de novos contratos de venda.
* Delcy Mac Cruz
Esta matéria faz parte da edição 325 do JornalCana. Para ler, clique AQUI!