O agronegócio é uma forte engrenagem da economia brasileira. O setor foi responsável por 21,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, em 2019, segundo a Confederação Nacional da Agricultura (CNA).
Neste ano, em meio a uma pandemia, o agro brasileiro seguiu performando e deve apresentar um crescimento de cerca de 9% em relação ao ano passado, conforme a CNA.
Em 2021, apesar de algumas incertezas, principalmente por questões climáticas, o setor deve continuar crescendo. Apesar de toda essa pujança, o agronegócio possui uma participação tímida no mercado de capitais.
Hoje, na Bolsa de Valores Brasileira (B3), considerada a maior da América Latina e com valor de mercado de US﹩ 938 bilhões, estima-se que o agronegócio represente apenas 4%.
Das quase 400 empresas listadas na B3, apenas 11 são ligadas ao agronegócio – sendo sete de diversos segmentos, de sementes à produção de açúcar e etanol, e quatro companhias do mercado de proteína animal.
LEIA MAIS > Valor médio do açúcar volta a cair no spot paulista
Em 2020, notamos que o cenário começou a passar por uma transformação muito importante. De outubro ao começo de dezembro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) recebeu o registro de seis companhias do setor interessadas em abrir capital.
A Bolsa de Valores Brasileira, embora com 130 anos, só agora visualiza um movimento considerável do principal motor econômico do País. A maioria das companhias ao buscar uma Oferta Pública Inicial (IPO – sigla em inglês) tem interesse em levantar capital. Mas por que isso está ocorrendo somente agora? Essa é uma pergunta que debatemos ao longo de reuniões do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), da Fiesp, com a participação de especialistas do setor financeiro e da área econômica.
A dinâmica do mercado é uma explicação. Com a queda de juros ao menor patamar da história, os investidores estão em busca de outras opções para aplicar. Por outro lado, as empresas estão atrás de capital para financiar suas operações e sua expansão e encontram, com as IPOs, uma boa alternativa.
Com as perspectivas de crescimento e a performance do agronegócio renovadas anualmente, o interesse por investir no setor também aumenta.
LEIA MAIS > Pedra Agroindustrial tem vagas disponíveis nas três unidades
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que, até 2050, quando a população mundial chegará a quase 10 bilhões de pessoas, será necessário um aumento de 60% na oferta de alimentos no mundo. Graças à sua competitividade e capacidade de crescimento da produção, por meio da tecnologia, o Brasil deverá ter um papel importante para o cumprimento desta meta.
Práticas em sustentabilidade e governança
Os investidores que almejam ver suas empresas listadas na bolsa precisam cumprir rigorosos requisitos, não apenas dos órgãos reguladores, mas também de mercado.
Não basta apenas um bom desempenho financeiro e uma receita consistente. É necessário ter uma boa história para contar e, mais que nunca, ter políticas corporativas ambientais que, de fato, façam a diferença para a sociedade.
Uma tendência da Europa e dos EUA que chegou com força e ganha cada vez mais espaço no Brasil é o ESG, sigla para Environmental, Social and Governance (em português, melhores práticas ambientais, sociais e de governança).
Plano diretor mandatório que deve estar bem definido e fazer parte do DNA de qualquer empresa que queira conquistar investidores. O ESG é uma oportunidade de mercado, já que investidores consideram as práticas ambientais, sociais e de governança nos processos de tomada de decisões. Vale ressaltar que o agronegócio brasileiro se pauta pela sua sustentabilidade.
LEIA MAIS > ANP realiza audiência sobre redução de metas individuais de CBios
A abertura de capital possibilita a implementação de uma melhor governança em todos os aspectos de funcionamento da empresa, trazendo maior transparência e credibilidade para suas práticas. Consequentemente, a companhia consegue acesso a outras modalidades de financiamento ligados às metas de ESG.
Outra vantagem da IPO, no caso das empresas familiares de terceira e quarta geração, é possibilitar a saída de sócios, minimizando eventuais conflitos de avaliação da companhia. Em qualquer empresa, abrir capital exige de seus executivos uma gestão mais eficiente dos ativos. Ou seja, é uma possibilidade de alavancar o crescimento, acessar novas formas de financiamentos e buscar a eficiência operacional de forma acelerada.
Muitas corporações que fizeram a lição de casa saíram na frente e estão colhendo bons frutos. Para os líderes das empresas do agro que desejam ingressar neste caminho, a boa notícia é que essa janela de oportunidades continuará aberta em 2021. É provável que em um breve futuro o agro tenha a representatividade na B3 à altura da sua importância na economia do país.
*Jacyr Costa Filho é presidente do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag) da Fiesp