Somente as usinas sucroenergéticas capitalizadas, ou com condições de ir ao mercado financeiro, conseguem implantar a estratégia de estocar etanol hidratado para vender durante a entressafra, entre janeiro e março de 2016, quando os preços tendem a ser remuneradores.
Conforme apurado pelo Portal JornalCana junto a empresários e analistas do setor sucroenergético, a maioria das unidades não tem como investir em estocagem simplesmente porque precisa vender o produto hoje para fazer caixa.
Em Carta Financeira divulgada aos acionistas, o Grupo São Martinho revela ter aumentado sua dívida líquida em 3,8%, totalizando R$ 2,67 bilhões no primeiro trimestre da safra 2015/16.
Leia mais: Lucro líquido da São Martinho cai 53,4%
Conforme a Carta Financeira, o aumento da dívida líquida da Companhia se deve aos investimentos de aproximadamente R$ 200 milhões no capital de giro, refletindo principalmente na estratégia da companhia de estocar os produtos para serem vendidos nos trimestres futuros.
A Guarani, controlada pela francesa Tereos Internacional, emprega recursos financeiros próprios para estocar etanol com foco na entressafra, quando as cotações deverão ser impulsionadas. A estratégia da companhia foi comentada pelo diretor da Região Brasil da Tereos, Jacyr Costa, para a Agência Estado e para o jornal Valor.
Leia mais: Guarani usa recursos próprios para estocar etanol
Confira 5 motivos que impedem a maioria das usinas brasileiras de seguir os exemplos da São Martinho e da Guarani:
1 – Falta de recursos financeiros próprios e de condições de ir ao mercado recorrer a crédito com juros altos para investir na armazenagem do biocombustível
2 – Sem folga no caixa, a maioria das usina não tem como formar estoques estratégicos para a entressafra e comercializa a produção. Um exemplo é a venda de hidratado no mês de julho, que, segundo a Unica, chegou a 1,605 bilhão de litros: aumento de quase 50% sobre os 1,09 bilhão de litros observados no mesmo mês do ano passado e praticamente idêntico ao recorde histórico registrado para o período (1,606 bilhão de litros vendidos em julho de 2009)
Leia mais: Seca faz safra de cana recuperar moagem
3 – O BNDES, que tradicionalmente oferece financiamento para estocagem de etanol para a entressafra, ainda não se posicionou se essa linha de crédito será liberadas
4 – Se o BNDES liberar o crédito, também chamado de warrantagen, será preciso checar se ele será flexível, uma vez que muitas das unidades produtoras estão com restrição de acesso a financiamentos
5 – O setor sucroenergético já avança discussões sobre um risco: o de faltar etanol hidratado nos meses de entressafra, caso o consumo do mercado doméstico siga perto de 1 bilhão de litros mensais. O temor é de que sem estocagem suficiente possa haver escassez do biocombustível. E a culpa pode cair sobre o setor como um todo.
Diretor da Unica faz alerta ao BNDES
O diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Padua Rodrigues, cobrou o BNDES diante a demora na liberação do crédito para estocagem de etanol, que é tradicional no mercado.
Para Rodrigues, é preciso maior agilidade na liberação dos recursos para a estocagem de etanol.
“Já estamos no meio da safra e até agora não temos ideia de quando os recursos serão liberados. Precisamos evitar um movimento sazonal exagerado de preços, pois isso cria dificuldades para o abastecimento, prejuízo para os produtores, que vendem a maior parte da produção na safra, e desconforto aos consumidores de etanol”, ressaltou.