A conjuntura econômica desconfortável, com juros altos e futuro próximo sem avanços, sinaliza um novo triste episódio para o setor sucroenergético, que já enfrenta crise agravada há três anos.
Em entrevista para o Portal JornalCana, Alexandre Figliolino, diretor de Agronegócios do Itaú BBA, traça uma estimativa negativa de curto prazo para parte das 300 usinas em atividade nesta safra 2015/16 em andamento na região Centro-Sul do país e que deve ser iniciada a partir de setembro nas regiões Norte e Nordeste.
A entrevista foi concedida durante o VII Simpósio de Tecnologia de Produção de Cana-de-Açúcar realização pela Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq) entre os dias 15, 16 e 17/07 em Piracicaba (SP).
Figliolino fez palestra na abertura do evento sobre o tema “O que esperar do mercado de açúcar, etanol e energia para os próximos anos.”
Confira a entrevista.
Avalie a crise enfrentada pelo setor
Alexandre Figliolino – O setor sucroenergétio atravessa sua maior crise dos últimos tempos. Já dura 3 anos. Com preços de açúcar deprimidos no mercado internacional, a indefinição de políticas públicas para o etanol e ausência de mecanismos de reajustes de preços de longo prazo para a gasolina continuarão a agravar a situação em um horizonte de tempo previsível.
Isso tudo ocorre em um ano de consumo crescente de etanol?
Figliolino – Sim, neste ano deverão ser consumidos 30 bilhões de litros de etanol. Para melhorar a rentabilidade do setor, há dependência [de ações] do Governo em relação [a aumento] da Cide sobre a gasolina e paridade internacional de preços da gasolina. A defasagem hoje está em 20%.
Quais outras ações podem ser tomadas pelos governos?
Figliolino – Aumento do mix de anidro na gasolina, que hoje está em 27% e pode ir aos sonhados 30%. E o ICMS, que teve impacto maravilhoso em Minas Gerais [onde caiu para 18% desde fevereiro último], também pode se reduzido em outros estados.
E quais sua avaliação que o setor pode fazer?
Figliolino – Elevar a produtividade agrícola, aumentar eficiência da indústria, crescer a cogeração, empregar etanol de milho na entressafra e alongar o período da moagem. Outras medidas de longo prazo: tarifa sobre a gasolina, reconhecendo-se a competitividade do combustível renovável, e adicionar maior valor agregado ao mix do setor, como etanol celulósico. Com medidas assim, a taxa de retorno de capital sairia de atuais de 6,9% ao ano para 13%. O ganho de produtividade faria a taxa de retorno alcançar 14,9%.
Mas há o cenário econômico atual que emperra isso. Fale a respeito, por favor.
Figliolino – O cenário de endividamento, agravado pela alta dos juros, coloca em risco 35% das unidades em função do peso das despesas financeiras nos seus resultados. Está-se chegando ao limite. Estamos em uma conjuntura macroeconômica muito negativa. O ambiente de negócios no Brasil está muito ruim. O clima de aversão a riscos é enorme. Estamos em um ambiente de restrição de crédito. Só parte do setor hoje consegue crédito. Outra parte do setor não consegue. Então como é que faz? Para manter o negócio, sacrifica-se, por exemplo, a renovação dos canaviais e moe-se até onde der. Com isso, penhora-se o futuro. Graça a Deus a cana é uma bichinha resistente.
Qual sua previsão para essas unidades?
Figliolino – As que estão mais perto do fim da linha tem condições de avançar duas, mais três safras.
Quantas usinas do país estão nessa linha de risco?
Figliolino – Umas 100 unidades estão em situação de agravamento contínuo. Isso tem um limite.
E o que fazer? Criar um Proer para essas unidades?
Figliolino – Hoje é difícil. Dependeria muito da melhora nas condições.
E atrair investidores de fora do Brasil?
Figliolino – O setor precisa ficar mais assim atrativo para que capitais de fora entrem, para que o preço dos ativos se recuperem. O que aconteceu hoje é que o endividamento por tonelada cresceu e os valores de negociação que os possíveis investidores estariam dispostos a pagar são muito inferiores. Tem empresa hoje com o valor dela negativo.
Então não há saída?
Figliolino – Saída agradável não tem.