As usinas sucroalcooleiras listadas na BM&FBovespa, que estão entre as maiores do setor no país, voltaram a elevar seus investimentos, especialmente com foco no crescimento orgânico, depois de iniciar a safra mais voltadas para o objetivo de reduzir o comprometimento do caixa com suas dívidas.
Raízen Energia – joint venture entre Cosan e Shell -, Biosev e São Martinho registraram, no acumulado da safra 2016/17 (de abril a dezembro), forte aumento de receita e de geração de caixa, apesar da derrapada no último trimestre, seja por problemas de safra ou decisões estratégicas. Nesse contexto, também cresceram os desembolsos com investimentos em bens de capital (Capex), mesmo em um período de moagem, quando os aportes costumam ser mais comedidos.
Os investimentos feitos pelas três companhias no período somaram R$ 2,668 bilhões, um aumento de 23% em relação aos aportes feitos por elas nos nove primeiros meses da safra passada. No entanto, esse montante ainda está abaixo do investido no mesmo período da safra 2014/15, de R$ 2,686 bilhões.
Afinal, nesta safra, as empresas ainda buscaram aproveitar o bom momento do mercado de açúcar e etanol para minimizar a alavancagem, enquanto naquela temporada o mercado ainda não havia atingido o fundo do poço.
Maior do setor, a Raízen Energia desembolsou, nos nove primeiros meses da safra atual, R$ 1,190 bilhão em investimentos, alta de 24,3% na comparação anual. Apenas no último trimestre, os investimentos saltaram 31%, para R$ 456,7 milhões, já que a companhia encerrou a moagem de cana mais cedo que no ano passado e antecipou o dispêndio com plantio e tratos culturais, explicou Paula Kovarsky, diretora de relações com investidores da Cosan, em teleconferência com analistas.
Essa tendência de alta inverte o movimento da safra 2015/16, quando a Raízen Energia gastou, em todo o ciclo, 24% a menos com investimentos do que na temporada anterior, seja por adequação dos projetos, pelo longo período de moagem de cana ou por ganhos de eficiência.
Neste quarto trimestre, se a empresa quiser alcançar sua meta para esta temporada de um Capex entre R$ 1,9 bilhão e R$ 2,1 bilhões, deve realizar aportes entre R$ 710 milhões e R$ 910 milhões.
E, para a próxima safra, os investimentos da joint venture devem crescer mais com a conclusão de projetos ligados à melhoria de produtividade e maximização de açúcar, possíveis aportes em aumento da disponibilidade de cana, em produção de biogás, em novos projetos de logística e infraestrutura para açúcar e etanol, além de adequação para práticas e impacto de inflação, afirmou Kovarsky durante a teleconferência.
A meta é que os aportes da companhia fiquem entre R$ 2,1 bilhões e R$ 2,4 bilhões no ciclo 2017/18, que começa oficialmente em abril, sendo que os investimentos recorrentes (com canavial e manutenção de equipamentos) devem ficar estáveis, entre R$ 1,7 bilhão e R$ 1,8 bilhão.
Segunda maior processadora de cana do país, a Biosev, controlada pela Louis Dreyfus Company (LDC), também vem elevando seus investimentos nesta safra, com foco principalmente nas lavouras. No acumulado da temporada, o Capex ficou em R$ 847 milhões, um avanço de 24% ante o mesmo período da safra passada.
Esse aumento decorre de “maiores desembolsos com plantios e tratos, maior dosagem de insumos para elevar a produtividade agrícola”, além de “investimento industrial e de gastos com manutenção, já que houve menos dias de moagem ante safra passada”, informou Paulo Prignolato, diretor financeiro da Biosev, durante teleconferência com analistas.
Questionado na ocasião sobre o orçamento para os investimentos para a próxima safra, Rui Chammas, CEO da Biosev, disse que os guidances serão divulgados após o fim do ciclo, mas que “as condições climáticas dão um horizonte positivo para a próxima safra”.
O Grupo São Martinho também elevou seu Capex desde o início da temporada para R$ 630 milhões, um aumento de 21% em relação ao acumulado da safra passada, devido ao incremento dos gastos com manutenção de entressafra e ao projeto de ampliação de capacidade da Usina Santa Cruz.
Para a próxima safra, a companhia já prevê que apenas os investimentos em manutenção irão a R$ 900 milhões, informou Felipe Vicchiato, diretor financeiro da companhia, durante teleconferência com analistas. Na safra 2015/16, os aportes em manutenção, plantio e tratos culturais foram de R$ 676 milhões.