Mercado

Usinas querem antecipar o corte da cana

A tecnologia possibilita o avanço. As usinas paulistas preparam-se para iniciar a safra a partir de 15 de março. Preços atraentes, estoques baixos, maior oferta de matéria-prima e lavouras próximas do ponto de corte estimulam os usineiros a antecipar a safra em até 40 dias.

A antecipação da safra só foi possível graças ao avanço da tecnologia. Variedades precoces desenvolvidas pela Copersucar e pela Universidade Federal de São Carlos garantem bons resultados à produção. Além da melhoria genética das plantas, os plantadores de cana contam ainda com produtos químicos para acelerar o amadurecimento da cultura e melhorar o rendimento da matéria-prima.

A aplicação no ápice da planta do herbicida Roundup, da Monsanto, interrompe o crescimento e acelera a produção de glicose. O Curavial, da Dupont, por sua vez, reduz o ciclo vegetativo e estimula a maturação.

A maior disponibilidade de matéria-prima deve-se à situação favorável de mercado da agroindústria canavieira. A procura por álcool cresce devido à maior demanda por energia limpa, o que coloca o álcool combustível como um dos aditivos mais indicados para oxigenar a gasolina. Esse quadro promissor provocou uma corrida em direção ao oeste paulista.

Há investimentos programados num total de R$ 3 bilhões até 2010, muitos deles já em andamento. Estão sendo construídas 27 novas usinas. (Gazeta Mercantil/1ª Página – Pág. 1)(Isabel Dias de Aguiar)

Usinas antecipam moagem da safra

São Paulo, 24 de Fevereiro de 2005 – Preço atraente e estoque reduzido estimulam produtores a adiantar o corte da cana em até 40 dias. Preços atraentes, estoques baixos e lavouras próximas do ponto de corte levarão as usinas paulistas a anteciparem a safra em até 40 dias este ano. Em vez de operar num período de 180 dias, como é habitual no setor, a atividade será estendida para até 220 dias. Um número expressivo de usinas prepara seus equipamentos para iniciar o esmagamento de cana a partir de 15 de março. Segundo o diretor executivo da Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (Udop), Antônio Cesar Salibe, a antecipação do corte da cana só depende das condições favoráveis do tempo para dar andamento à safra.

O avanço da tecnologia permite antecipar o corte da cana. Variedades precoces desenvolvidas pela Copersucar e pela Universidade Federal de São Carlos garantem bons resultados à produção. Além do desenvolvimento genético das plantas, os produtores de cana contam ainda com produtos químicos para acelerar o amadurecimento da cultura e melhora do rendimento da matéria-prima. Os mais usados são o herbicida Roundup, da Monsanto, que cessa o crescimento e acelera a produção de glicose, e o Curavial, da Dupont, que reduz o ciclo vegetativo da planta.

A agroindústria canavieira conta com um dos períodos mais favoráveis de sua história, por causa do crescimento da demanda mundial por álcool e açúcar. As boas condições de mercado não devem se esgotar a curto ou médio prazo, mas deverão permanecer por um longo período, devido à necessidade de utilizar energia limpa, o que coloca o álcool combustível como um dos aditivos mais indicados para oxigenar a gasolina.

Por conta dessa necessidade, o Brasil exportou mais 2,26 bilhões de litros de álcool combustível em 2004 e poderá repetir essa marca este ano, desde que a crescente demanda interna permita. Também os embarques de açúcar deverão ter bom desempenho, levando em conta a pressão da demanda externa, especialmente por conta da frustração da safra de cana da Índia, segundo avaliação de Roberto Egreja, diretor da Usina Diana, de Penápolis (SP).

Investimentos

As condições favoráveis de mercado estão provocando uma corrida para a cana no estado de São Paulo e em especial na região oeste, disse Egreja. Os preços da terra mais que triplicaram nos últimos anos e hoje, o alqueire passou a valer R$ 25 mil. A rápida expansão das lavouras da cana não foi acompanhada na mesma velocidade pelos investimentos em capacidade de moagem das usinas, o que explica, em parte, a necessidade de ampliação do período de corte de cana.

Levantamento feito pela Udop indica que os investimentos em curso na região oeste do estado já alcançam R$ 3 bilhões. Estão sendo construídas 27 novas usinas. Outras três entraram em operação neste ano. A velocidade da execução dos projetos será determinada pela manutenção das condições favoráveis do mercado.

As atividades agropecuárias na região oeste de São Paulo são desenvolvidas numa extensão de 10,4 milhões de hectares, das quais, 2,4 milhões de hectares são destinadas a grãos, 1,2 milhão de hectares ao cultivo da cana e 6,7 milhões à pecuária. Segundo Salibe, as áreas de pecuária são mal aproveitadas. Apenas três cabeças de gado por hectare. “Se as pastagens fossem melhoradas a ponto de comportar quatro em vez de três animais por hectare, sobrariam para a produção de cana pelo menos 2 milhões de hectares”.

Efeito da expansão

Caso isso se concretize, haveria condições para se produzir mais 146 milhões de toneladas de cana, o que significa volume suficiente de matéria-prima para a construção de mais 75 usinas. Atualmente, segundo a Udop, há 65 usinas e destilarias instaladas e em funcionamento na região, das quais 15 estão fazendo investimentos em modernização e ampliação de capacidade. Como cada usina gera em média 1.500 empregos, a concretização dessas projeções significa que seriam criados pelo menos mais 112 mil novos postos de trabalho na região. Roberto Egreja ressalta que são empregos diretos, com carteira assinada, que devem ser somados aos indiretos.

A concentração de recursos no oeste paulista deve-se às condições excepcionais da região, plana e propícias à cultura da cana. E ainda, por representar a fronteira agrícola remanescente num estado que dispõe de infra-estrutura para o processamento e o escoamento das safras, explica o diretor da Udop. Essa é uma tendência natural que poderá ser acelerada com a chegada de investidores estrangeiros interessados em explorar a atividade.

A produção de cana também cresce em outras regiões do País e também deverá se acelerar nos próximos anos. Entre essas regiões, o diretor da Udop aponta o Triângulo Mineiro (MG) e algumas áreas de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná para onde deverão ser também dirigidos novos investimentos.