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Usinas podem parar moagem de cana com suspensão de queimadas

Ribeirão Preto, Pegas de surpresa com a suspensão das queimadas de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo a partir de hoje, as usinas e destilarias podem paralisar a moagem e a produção de açúcar e álcool em pleno pico da safra 2006/2007. Cerca de 70% da colheita é manual no Estado, o que obriga a queima da cana.

As unidades sucroalcooleiras devem processar cerca de 261 milhões de toneladas de cana nesta safra, ou 71,5% de toda a safra do Centro-Sul do Brasil, estimada em 365 milhões e toneladas.

A suspensão das queimadas foi decidida ontem por decreto do secretário do Meio Ambiente José Goldemberg e vai durar por tempo indeterminado. A decisão foi tomada por conta da estiagem e da baixa umidade na região.

“Até domingo tem matéria-prima para as unidades, mas depois simplesmente muitas usinas não sabem o que irão fazer; por ser uma medida inédita e sem aviso prévio, o setor não conseguiu se preparar”, afirmou Fernando Perri, diretor da Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (Udop), entidade que reúne 44 unidades produtoras, 42 delas em São Paulo. Segundo o executivo, se a paralisação do corte de cana ocorresse em uma situação contrária, com um longo período de chuva, “as usinas teriam tecnologia suficiente para prever e se preparar a tempo de evitar algum impacto na produção”, disse. “Mas fomos praticamente informados pela imprensa da suspensão e todo mundo tomou um choque”, completou Perri. Ainda de acordo com o diretor da Udop, sequer é possível prever um impacto da medida tomada pela Secretaria do Meio Ambiente no preço de açúcar e álcool, pois ela é por tempo indeterminado.

O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq), que faz o monitoramento diário dos preços desses derivados da cana, informou que não irá se manifestar sobre o assunto porque as unidades consultadas pelo órgão durante o dia sequer tinham sido informadas da suspensão do corte de cana.

O presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro Sul do Brasil (Orplana), Manoel Ortolan afirmou que a suspensão das queimadas “pegou os produtores de supetão” e criticou o fato “de um setor tão grande como o canavieiro sequer ser chamado para uma conversa antes de uma medida como essa”.

Já o consultor e presidente da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool do Ministério da Agricultura, Luiz Carlos Correa Carvalho, explicou que o fato de 70% da cana em São Paulo ser colhida manualmente faz com que seja “inevitável o aumento dos preços de açúcar e álcool” se o cenário perdurar por algum tempo. Carvalho disse que conversou hoje com usineiros e produtores de cana e que a medida “travou o mercado justamente na época em que a cana está pedindo para ser colhida”. O presidente da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool citou ainda a ironia da atual situação, já que o setor produtivo, que reclama dos períodos de chuva durante a safra, por representarem queda na produção, agora torce pelo fim da estiagem.

A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) informou há pouco que até o momento não foram informados, na sede da entidade, em São Paulo, registros de autuações pelo descumprimento do decreto assinado pelo secretário do Meio Ambiente, José Goldemberg.

O conselho da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) segue reunido hoje para discutir o assunto e a entidade deve se pronunciar sobre o assunto. O conselheiro da Unica, Maurílio Biagi Filho, optou pela ironia ao comentar a suspensão das queimadas. “Isso é ótimo para os advogados e, com certeza, vai engordar os cofres do Governo do Estado se a Cetesb agir direito na fiscalização”, afirmou.