Um sistema de escoamento da produção de álcool do Nordeste interligando a maior parte das 85 unidades produtoras litorâneas através de cerca de 350 quilômetros de dutos começa a tomar forma junto ao setor sucroalcooleiro regional. O projeto que começa a ser desenhado interligaria as unidades produtoras de álcool aos três principais portos da região, Suape (PE), Maceió (AL) e Cabedelo (PB). “Um álcoolduto do gênero reduziria em até 50% os custos de transferência hoje praticados. O álcool está se tornando a grande vedete e a tendência é de uma consolidação deste produto no mercado internacional nos próximos anos. Um álcoolduto, além dos menores custos de transferência, também teria impacto direto sobre as exportações, já que o custo de fobização (custos referentes a levar o produto do local de produção até o navio)”, diz o consultor especializado na área sucroalcooleira e secretário-geral da União Nordestina dos Plantadores de Cana, Gregório Maranhão.
De acordo com Maranhão, o projeto pode ser feito de forma modular – dividido em quatro secções com cerca de 80 quilômetros cada. O custo de cada etapa é avaliado em torno de US$ 15 milhões. “O projeto se paga em quatro ou, no máximo, cinco anos. A relação custo-benefício é quase inacreditável. A fonte originária destes recursos já existe. A Contribuição sobre Intervenção do Domínio Econômico (Cide) prevê que os recursos dela originados sejam aplicados em infra-estrutura e isto é infra-estrutura pura e simples”, afirma. Maranhão observa, ainda, que o projeto também pode ser implementado através do sistema de Parcerias Pública e Privada (PPP). “Já existem interessados neste projeto”, garante o executivo.
Uma outra alternativa de financiamento seria a conversão dos créditos da equalização canavieira devidos pelo Governo Federal aos produtores do Nordeste. Segundo o setor, os créditos pendentes não são repassados a três safras, correspondendo a aproximadamente R$ 1,5 bilhão.
O álcoolduto que está sendo formatado seria instalado às margens do gasoduto já existente que interliga os estados de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Como é em uma faixa litorânea com cerca de 400 quilômetros de extensão por 60 quilômetros de profundidade onde estão localizadas a maioria das unidades produtoras, o custo de implantação seria relativamente baixo e o retorno aconteceria em um espaço de tempo também relativamente pequeno. O potencial alavancador do projeto é enorme. “O Nordeste produz cerca de 1,5 bilhão de litros de álcool a cada safra. O peso relativo das exportações na balança regional gira na casa dos 30%. O potencial é de uma elevação para até 50%. Em termos comparativos, o peso relativo das exportações de álcool na região Centro-Sul é de apenas 10%”, observa Maranhão.
“Além do mais, a distância média dos portos de Cabedelo, Suape e Maceió das unidades produtoras é de apenas 70 quilômetros contra 400 quilômetros no Centro-Sul. Nós temos custos menores e vantagens comparativas e competitivas no tocante a exportação de álcool. Recentemente a Transpetro – subsidiária da Petrobras – anunciou a ampliação da malha de dutos daquela região do País. Reivindicamos a mesma situação para o Nordeste, onde a situação é até mais viável”, afirma.