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Usinas da região entram no novo ano revalorizadas

No final de 2008, o setor sucroalcooleiro estava longe da plena forma. Atropelado pela crise econômica, seu estado era agravado pelos excessos dos anos anteriores. A ressaca do crédito farto chegava na forma de endividamento incompatível com o cenário econômico adverso e seus dois principais produtos -etanol e açúcar- amargavam baixas cotações. Um ano depois, a revalorização marca as usinas da região de Ribeirão, mais tradicional polo produtor do país.

De acor! do com relatório do ItauBBA sobre a consolidação do setor sucroalcooleiro, 2010 aponta para a inversão da curva de endividamento do setor. A alavancagem para a safra 2010/11 deve baixar para R$ 35 bilhões, ante os R$ 40 bilhões da safra que está terminando e R$ 42 bilhões da anterior.

Com isso, deve se intensificar o processo de recuperação das margens de lucro das usinas, já que a tendência é de alta na moagem, mostra o relatório. Ou seja, um horizonte bem mais nítido do que o de dezembro do ano passado.

O prognóstico positivo do setor está relacionado à revalorização dos seus ativos. De acordo com o professor de estratégia da USP Marcos Fava Neves, o valor de uma usina é medido pela relação entre sua moagem e o preço final de seus produtos. A baixa remuneração do açúcar e do etanol durante o segundo semestre de 2008 havia jogado o preço das usinas a R$ 60 por tonelada, ante R$ 120 em seu auge, patamar que vem se recuperan! do graças à cotação do açúcar e do etanol.

“O ano [2009] começou muito mal, ficou um pouco melhor no meio e acabou muito bem”, afirmou Maurilio Biagi Filho, consultor e usineiro.

Para 2010, ele é ainda mais otimista. “A tendência é termos preços melhores, chover menos, tudo ser mais favorável, um espetáculo”, disse Biagi Filho. Sua única ressalva fica por conta do preço crescente do etanol que sai das usinas. A alta é considerada um equívoco pelo empresário.

Para o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, a demanda pelo açúcar deve continuar aquecida no próximo ano, com cotações elevadas, o que deve garantir um ano promissor para o setor.

Rodrigues também vê a volta dos investimentos no setor, paralisados após a seca do crédito entre o último trimestre de 2008 e o primeiro de 2009. A compra da Santelisa Vale pela Louis Dreyfus e a aquisição do grupo Moema pela Bunge já são sinais da volta do apetite pelos negócios relacionados à cana.

Ele disse, porém, que e! ssa atração não deve repetir a euforia experimentada pelo setor antes da crise. “Aquilo foi feito sem planejamento, sem visão de longo prazo”, disse.

Dois movimentos que devem se intensificar a partir da melhoria nas expectativas do setor, segundo Rodrigues, são a concentração e a internacionalização. “São irreversíveis.”

A participação dos cinco maiores grupos do setor no total de negócios, num horizonte de cinco a dez anos, deve chegar a 40%, ante os 21% atuais.

O engenheiro agrônomo da Scot Consultoria, Alcides Torres, não compartilha do otimismo de integrantes do setor. Segundo ele, a situação financeira estabilizada não é uma regra nas usinas nesse período pós-crise. “Muitas ainda estão inadimplentes”, disse.

A falta de pagamento de arrendamentos no início da safra, segundo ele, também prejudicou muitos fornecedores.