

No entanto, muitos tinham dúvida sobre o potencial de otimização de uma ferramenta como o S-PAA em uma planta que conta só com uma caldeira, um gerador, e que é muito bem gerida em termos de balanço de vapor. Este é o caso específico de uma das implementações do S-PAA na safra 2019/20, a Usina Rio Dourado da SJC Bioenergia.
A Rio Dourado, localizada em Cachoeira Dourada, no estado de Goiás, é uma destilaria que conta com uma caldeira e um gerador de contrapressão, e seu balanço energético é bastante otimizado, o que em teoria reduz o potencial de otimização neste setor. A implementação do S-PAA contratada foi a dos módulos de Energia e Processos.
A força do algoritmo de otimização híbrida multi-objetivo
O S-PAA é uma ferramenta que permite a modelagem matemática do processo industrial sucroenergético. Sua modelagem se baseia em termodinâmica aplicada na representação digital das operações unitárias de plantas de açúcar e álcool, sendo que nestes modelos cada operação unitária conhece a sua função no modelo da planta industrial como um todo.
Estes modelos matemáticos por princípio tecnológico conseguem definir qual a demanda de entalpia de processo em cada condição de processamento e, utilizando a modelagem detalhada das caldeiras e geradores e um poderoso algoritmo de otimização híbrida multi-objetivo, define qual o melhor arranjo de carga para a entrega de entalpia no escape e/ou via válvulas rebaixadoras.
No caso da Rio Dourado, os modelos matemáticos do S-PAA logo definiram a otimização antecipando as ações junto ao gerador de contrapressão para mitigar as variações de combustível e outros fatores que têm como consequência as variações de combustão da caldeira. Com esta ação típica do S-PAA, a otimização da combustão da caldeira fez com o que a qualidade do vapor produzido por esta fonte primária ganhasse em qualidade da entalpia disponível e com a redução da variabilidade.
Na outra ponta, com o S-PAA calculando apenas a entalpia necessária para manter o vapor de processo V1 estável, obteve-se uma redução média do vapor de escape e com isso uma maximização do salto isentrópico na turbina de contrapressão, reduzindo o seu consumo específico e evitando o desperdício de entalpia, o que resultou uma redução da vazão de vapor da caldeira e consequente aumento da sobra de bagaço.
A otimização padroniza a entrega do vapor de processo
Outro ponto importante de otimização na definição da entalpia mínima para o processo é o consumo de vapor V1 no difusor. O S-PAA padronizou a entrega de vapor para manter os parâmetros de temperatura do difusor e garantir a melhor condição de operação deste equipamento. Com isso estabilizou o consumo de vapor no equipamento e, por consequência, em toda a planta.
Todas essas ações de otimização conjugadas levaram a um aumento na eficiência da planta como um todo e uma redução substancial no consumo de vapor, mostrados no Quadro de Resultados.
Os resultados obtidos pela Usina Rio Dourado respondem a dois grandes questionamentos:
– Existe potencial de otimização em plantas com arranjo mais simples e sem geradores de condensação?
O caso da Usina Rio Dourado mostrou que definir a demanda de energia em tempo real e em cada condição de processamento é muito complexo e exige uma ferramenta que analise o balanço como um todo on-line e com atuação em laço fechado. Atualmente só o S-PAA pode fazer isso, já que é o único RTO (Real Time Optimization) para usinas.
– Plantas bem geridas e com excelentes resultados tem menos potencial de melhoria?
Em plantas em que já está consolidado o modelo de gestão e melhorias contínuas como a Rio Dourado, uma ferramenta como o S-PAA se alia à cultura da empresa e levam o processo a pontos de operação ainda melhores. De fato, somente o uso de um RTO permite transpor as melhorias da gestão para a operação de forma contínua, obtendo o ajuste fino que maximiza a eficiência industrial.
A implementação bem-sucedida na Usina Rio Dourado mostra mais uma vez o vasto potencial de otimização do S-PAA, e o retorno proporcionado apenas com a área de energia (onde se esperava que o potencial fosse menor) pagou todo o projeto e ainda se tem muitos outros pontos de melhoria a explorar na área de processos, em implantação.
**Douglas Castilho Mariani, é engenheiro químico com doutorado em engenharia química na área de simulação e otimização de processos industriais e consultor da Soteica.
*Josias Messias é jornalista e presidente da ProCana Brasil
Integrar as pessoas com as tecnologias é o desafio da gestão
Conhecido como profissional de excelência e de liderança harmônica, Marcus Andre Lages da Silva, gerente de Processos Industriais da Usina Rio Dourado, do grupo SJC Bioenergia, está liderando o projeto de implantação do S-PAA na Unidade. Para falar sobre o projeto, ele concedeu entrevista exclusiva ao JornalCana.
Como foi a implantação do S-PAA na Rio Dourado?
Na Rio Dourado buscamos diariamente a excelência, de forma que desde o início enxergamos que com o S-PAA daríamos um grande salto na excelência operacional.
Nos primeiros meses de operação do sistema, apenas com o laço fechado de energia, tivemos um ótimo resultado.
Como percebemos que o maior desafio seria a integração da gestão com a operação, e desta com o software, escalamos um engenheiro de processo focado no projeto, fazendo a ponte entre a operação e a Soteica de forma a atualizar rápido todos os pontos de melhoria identificados.
Quais foram os principais desafios?
O desafio da gestão é realmente a mudança de paradigma, porque o operador deixa de fazer uma atuação ativa e passa mais a fazer o acompanhamento da operação. Então, o maior desafio foi a integração da equipe com a ferramenta. Primeiro, focamos no trabalho de esclarecimento e convencimento de todos quanto aos resultados muito maiores proporcionados pela ferramenta. Assim, conquistamos que todos os integrantes – operadores, líderes e coordenadores – acreditem e confiem no sistema porque a busca pela excelência é constante.
Para implantação do laço fechado de energia, por exemplo, nossa equipe passou alguns fins de semana conectados com o pessoal da Soteica para realizar os ajustes necessários. E o bom é que a equipe já enxergou os ganhos, já está bem integrada e recebemos diversos feedbacks de operadores, contribuindo, dando opinião, e a gente passa as observações para a Soteica que tem agido rápido, implantando todas as melhorias.
Quais os próximos passos?
Estamos mais confiantes com a implementação recente do laço de embebição e fluxo de caldo, e o nosso objetivo é integrar a planta inteira, para que até o final da safra estejamos com todos os laços fechados instalados.
Nosso objetivo é ter toda a planta controlada pelo S-PAA, desde a entrada da cana até a produção final do etanol, cuidando de cada processo com excelência.
Em nossa busca incansável pela excelência na operação, a gente enxerga uma oportunidade imensa na utilização do S-PAA e estamos confiantes de que iremos colher muitos frutos ainda com as funcionalidades do sistema. E como não acredito em resultado sem trabalho, estamos trabalhando fortemente para alcançar esta meta.
