Estudo de um órgão do próprio governo de Mato Grosso do Sul diz que uma usina de álcool em Sidrolândia já polui a bacia do Alto Paraguai, onde fica o Pantanal.
O documento foi mostrado ontem pelo ambientalista Alcides Faria na Câmara dos Deputados, Brasília, sobre o projeto que visa liberar usinas de álcool no entorno da planície pantaneira. A audiência foi acompanhada por Iracema Sampaio, 67, viúva do ambientalista Francisco Anselmo de Barros, 65, o Franselmo, que morreu no dia 13 após ter ateado fogo ao corpo em protesto contra o projeto. A viúva, em uma cadeira de rodas, chorou no evento.
A proposta é do governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, que não vê risco de poluição da área preservada. Ele diz que as usinas ficarão no planalto, longe dos rios. Sua assessoria disse que ele não conhece e buscará informações sobre o laudo -feito pela Sema (Secretaria do Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul).
Faria mostrou dois relatórios. Um diz que resíduos de “uma grande usina de álcool e açúcar” são lançados no córrego Canastrão, que deságua no rio Cachoeirão. “Uns 30 km estão poluídos.” Ele exibiu fotos de peixes mortos na região. O Cachoeirão deságua no rio Aquidauana, um dos mais importantes do Pantanal.
Segundo o ambientalista, a poluição foi causada pela usina Santa Olinda, instalada em 1977. Desde 1982, lei estadual proíbe destilarias de álcool na bacia do Alto Paraguai, mas as unidades anteriores à medida podem operar.
A direção da usina diz não haver contaminação porque os resíduos são usados para irrigar e fertilizar a cana. Diz ainda que a qualidade da água, incluindo a do subsolo, é monitorada. A usina afirma estranhar não ter sido procurada por Faria para discutir o estudo.
O projeto do governo deve ser votado na Assembléia na quarta.
O ramo que mais contribuiu para campanha de reeleição do petista, em 2002, foi o sucroalcooleiro. Três usinas doaram, juntas, R$ 956.780 à campanha.
Zeca arrecadou R$ 6,52 milhões ao todo -ou seja, 14,6% de sua verba de campanha veio das usinas. As doações foram legais.