As usinas sucroalcooleiras do Centro-Sul fixaram até a primeira semana de agosto os preços de cerca de 65% dos volumes de açúcar destinados ao mercado externo. No mesmo período do ano passado, menos de 30% do produto voltado para exportação tinha sido fixado. A recuperação dos preços da commodity no mercado internacional tem estimulado as operações de hedge (proteção), disse Arnaldo Corrêa, presidente da Archer Consulting, empresa especializada em gestão de risco.
Tradicionalmente nesta época do ano, as fixações de preços ficam abaixo de 50% do total negociado no mercado externo. As exportações brasileiras do produto estão estimadas para esta safra 2009/10 em cerca de 24,5 milhões de toneladas, de acordo com a consultoria Datagro. A forte oscilação dos preços, sobretu! do nos últimos dois anos, levou parte das usinas a acelerar as operações de hedge. Desde o início desta safra até a semana passada, os preços médios foram fixados em 15 centavos de dólar por libra-peso.
Esse tipo de operação de proteção permite que os produtores de açúcar garantam uma remuneração mínima com base nos custos de sua produção. Mas como os preços da commodity continuam subindo no mercado internacional, há analistas que já temem um default por parte das usinas que fixaram suas vendas muito abaixo das cotações atuais.
Ontem, os preços do açúcar voltaram a registrar forte alta no mercado internacional, atingindo o maior patamar dos últimos 28 anos e meio, segundo Rodrigo Costa, da Newedge, corretora com sede em Nova York. Na bolsa de Nova York, os contratos para janeiro encerraram a 22,50 centavos de dólar por libra-peso, aumento de 97 pontos. No ano, a valorização chega a 83%. Na bolsa de Londres, os contratos para dezembro encerraram a US$ 573,30 a tonelada, elevação de US$ 23,90. Os contratos de outubro fecharam a US$ 557,40 a tonelada, mas durante o dia chegaram a bater US$ 561,90, recorde histórico na bolsa inglesa. No acumulado do ano, o açúcar refinado registra alta de 74,2%.
A forte escalada dos preços do açúcar tem respaldo na perspectiva de déficit global pelo segundo ano consecutivo. Além da produção menor da Índia por falta de chuvas – o país é o segundo maior produtor global, mas que se tornou importador -, outros produtores, como México, Rússia, Paquistão, China e Austrália, também registram menor oferta e parte deles deve elevar a importação de açúcar, afirmou Plínio Nastari, presidente da Datagro.
Na semana passada, o México anunciou a importação de até 400 mil toneladas de açúcar por meio de cotas. Os EUA também podem fazer o mesmo. Ontem foi a vez do Egito anunciar que vai isentar de taxas as importações de açúcar bruto e refinado a partir de 15 de agosto até o fim de dezembro, informou o Ministério das Finanças daquele país à Reuters. O déficit global de açúcar é calculado em cerca de 5 milhões de toneladas.
A expectativa é de que os preços continuem em alta no curto prazo. “O mercado apostava que se os preços subissem mais, os países produtores poderiam vender açúcar. No entanto, os preços continuaram em alta , mas o produto não foi colocado à disposição do mercado”, observou Nastari.
Na semana passada, o açúcar no mercado paulista remunerava 73% mais que o álcool hidratado e 60% mais que o anidro, segundo levantamento semanal do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Ontem, a saca de 50 quilos fechou a R$ 42,63, de acordo com o índice Cepea/Esalq.
Maior produtor e exportador mundial, o Brasil deverá produzir um volume recorde de açúcar nesta safra. Mesmo assim, a maior oferta não trará alívio ao mercado. As chuvas sobre as regiões produtoras de cana durante este inverno estão afetando a qualidade da cana. “Com as chuvas fora de época, a cana voltou a brotar novamente”, disse Nastari. A expectativa inicial era de que a produção de açúcar atingisse no Brasil 35,9 milhões de toneladas. Agora, a oferta no país deverá recuar para 35,1 milhões.