Consultas para projetos de construção de novas usinas se multiplicam. “É como pipoca. Não pára de arrebentar. Não passamos um dia sem receber consulta de alguém querendo montar uma destilaria de álcool”, diz Luiz Carlos Rubiano, presidente da Auston Consult, empresa de Ribeirão Preto especializada em análise de viabilidade de negócios no setor sucroalcooleiro.
Em meio a dezenas de consultas efetivas e a pelo menos dez negócios em fase de captação de recursos fechados só nos últimos seis meses, a Auston obviamente tem contatos com pessoas que não são do ramo. “O pessoal novo normalmente tem grandes áreas de terras no Mato Grosso e em Goiás, mas nunca viu um pé de cana”, diz Rubiano.
Segundo ele, tem todo tipo de investidor querendo entrar no setor. São usineiros estabelecidos, produtores de cana, grãos e gado, fundos de investimento americanos, investidores daqui e de fora, com terra ou dispostos a comprá-la. “Temos até que tomar cuidado, pois a inexperiência poderá transformar uma grande expectativa em danos irreversíveis”, afirma Rubiano.
“Temos assessorado cinco grupos de produtores de cana, grãos ou gado, no interior de São Paulo e Minas Gerais, que querem ter a própria usina, mas recebemos consultas de clientes com planos inviáveis”, afirma Dimas Facioli, da Facioli Consultoria, também de Ribeirão Preto. A Facioli procura potenciais investidores para investir no Maranhão. O governador José Reinaldo Tavares quer levar 20 usinas para o Estado e anunciará em maio, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), projeto agrícola da cana no Maranhão, desenvolvido por agrônomos da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), em Piracicaba (SP).
“Fundos americanos querem adquirir uma usina pronta, mas não tem nada à venda”, diz Dimas. As consultas não se limitam a consultorias especializadas. “A gente está até cansado de tantos oferecimentos, tantas propostas de investidores daqui e de fora”, afirma o empresário Maurílio Biagi Filho, que não descarta boas ofertas e negocia com potenciais investidores.
A Auston e a J.A. Rubiano, empresas do mesmo grupo, trabalham com a Petrobras para viabilizar a pretensão do ex-governador Marconi Perillo de implantar 50 novas destilarias em Goiás. O projeto contempla a instalação de alcoolduto ligando Goiânia a Ribeirão Preto.
“Este é o momento de fortificar os negócios com etanol”, diz Sillas Oliva Filho, gerente de comércio de álcool da Petrobras. Segundo ele, o Centro de Investimentos da Petrobras programou investimentos de US$ 260 milhões para o qüinqüênio 2006-2010, a serem aplicados na construção de plantas piloto para produção de álcool e biodiesel e em projetos envolvendo os carros do futuro, movidos a célula de combustível. “São tecnologias que surgirão com o aumento do petróleo”, diz Oliva Filho.
Os investimentos são exemplos da efervescência do setor sucroalcooleiro no País, que deverá receber entre 120 e 180 novas unidades produtoras até 2010, num investimento superior a R$ 2 bilhões, considerando apenas a parte industrial.
A alta do petróleo e o mercado interno de carros flex, cuja frota deverá passar de 5 milhões de unidades ainda em 2009, justificam os investimentos para dobrar a produção de etanol para 28 bilhões de litros em 2010. Cinco milhões de carros consumindo 2,4 mil litros por ano demandariam 12 bilhões de litros.
Com rentabilidade boa na safra e excelente na entressafra, numa operação de seis, sete meses de safra, o retorno do investimento varia de acordo com a moagem da destilaria: para processar 400 mil toneladas de cana por ano (30 milhões de litros), retorno em oito a dez anos; para 800 mil toneladas, retorno em cinco anos; para 1,2 milhão de toneladas, retorno em quatro anos.