Embora 2009 prometa ser um ano marcado pela consolidação no setor sucroalcooleiro, devido ao quadro atual de endividamento e desvalorização de ativos, a Cia. Brasileira de Açúcar e Álcool (CBAA), comandada pelo empresário José Pessoa de Queiróz Bisneto, olhará atentamente para o mercado interno com interesse em aquisições somente a partir de 2010. A CBAA tem 7 unidades em 3 estados: São Paulo, Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro.
“Este ano, será um período para finalizarmos um processo de consolidação e estruturação pelo qual vem passando a companhia. Nos últimos dois anos reduzimos drasticamente o nosso passivo, em 50%. E vamos reduzi-lo ainda mais até o final deste ano”, disse Queiróz Bisneto, em entrevista ao DCI.
O empresário afirma que este ano será “difícil para muita gente” independentemente do tamanho da usina, se pequena, média ou grande.
“Muitos perderam dinheiro devido ao cenário econômico. Concordo com o que vem sendo dito, de que haverá forte consolidação no segmento. Dos atuais 200 grupos atuantes, em alguns anos, não sei prever quantos, restarão entre 60 e 80”, avalia.
Após o estouro da crise financeira global, a situação das usinas de cana se agravou. Muitas dessas companhias já enfrentavam quadro de endividamento, que resultava de alto volume de investimentos somado às baixas remunerações pelos preços baixos de açúcar e etanol.
Comercialização
Ao longo deste ano, a CBAA vai optar pela estratégia de apostar mais fortemente no mercado interno. “É uma opção mercadológica”, afirma Queiróz Bisneto, sem mais detalhes.
As usinas de cana, de modo geral, deverão apostar na comercialização do biocombustível no mercado interno em 2009, acreditam especialistas. Isso porque, após a crise, o etanol se tornou menos competitivo do que a gasolina em muitos mercados. “Só o Brasil e uma fração mínima do mercado dos Estados Unidos consomem o etanol puro. Outros países usam a mistura e os porcentuais não são muito altos”, avalia Peter Ho, analista da Corretora Planner. “Não há outro país além do Brasil com uma frota de carros flex significativa. E, além disso, há países que tem maior interesse no desenvolvimento dos carros elétricos, inclusive”, comenta Fausto Gouveia, economista da Infra Asset Management. Como no Brasil o preço da gasolina não reflete imediatamente a queda do preço do petróleo e a frota de carros flex é grande, o mercado se mantém atraente.
Segundo analistas, o enfraquecimento das exportações já se nota. Os preços do biocombustível não tiveram tanta alteração no Brasil, mesmo agora no período de entressafra quando deveriam reagir mais fortemente, lembra Ho, da Planner. Além disso, o volume de novos contratos de exportação firmados em janeiro é bastante insignificante se comparado ao número de negócios fechados no mesmo período do ano passado, de acordo com Miguel Biegai, analista da Safras & Mercados. “Com a desvantagem pela queda de preços do petróleo, vai haver a demanda por etanol onde há mistura obrigatória e olhe lá”, diz Biegai. Há estados norte-americanos onde não há obrigatoriedade do uso do etanol e, em alguns países, o percentual máximo para a mistura na gasolina não é obrigatório, lembra o analista da Safras. “Em alguns países o percentual da mistura pode variar entre 2% a 5%, por exemplo”.
Com a possível redução de demanda por etanol no globo, as usinas poderão optar pela alteração do mix. A safra 2008/09 foi alcooleira (aproximadamente 60% etanol e 40% açúcar). Biegai arrisca a opinião de que na próxima safra (2009/10), o mix possa chegar a 50% de cada produto.
No entanto, a aposta na diversificação dependerá do consumo de açúcar e da oscilação dos estoques mundiais do produto. Na opinião de muitos consultores, o volume atual é alto. No entanto, espera-se que a quebra da safra da Índia, importante concorrente do Brasil e grande produtor, auxilie da redução rápida desses estoques. De acordo com números mais atuais do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos), fornecidos pela Safras, no final do ano passado o nível dos estoques estava entre 41 e 42 milhões de toneladas. Na mesma época do ano anterior (final de 2007), os estoques registravam cerca de 40 milhões de toneladas.
Na safra 2009/10, a produtividade da cana não será tão alta como na safra 2008/09, por conta de menor uso de insumos. Dessa forma, os preços não devem oscilar mais do que o normal durante o próximo período de safra, acreditam os analistas.