Nem anúncio feito hoje de que algumas centrais termoelétricas japonesas poderão utilizar o etanol brasileiro como combustível a partir de 2010 sensibilizou a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica), principal entidade do setor sucroalcooleiro do Brasil, em relação à possibilidade de venda de etanol aos orientais. De acordo Alfred Szwarc, assessor técnico da entidade, “as negociações para a venda de álcool para o Japão são frustrantes e as perspectivas que tínhamos antes não se concretizaram”, resumiu.
O executivo explica que os usineiros brasileiros tinham a esperança de abrir um mercado de 1,8 bilhão de litros de álcool combustível por ano para o mercado japonês, fruto de negociações e visitas periódicas de comitivas de ambos os países e de uma previsão de se misturar 3% de etanol a toda gasolina consumida no Japão.
Só que o plano nacional de energia com essa proposta foi elaborado na gestão do então primeiro-ministro Junichiro Koizumi, substituído por Shinzo Abe nas eleições de setembro na Câmara dos Deputados do Japão. “Não é só no Brasil que novas administrações fazem revisões de planos a partir de uma nova ótica. Os planos podem ser os mesmos, ou não, mas trabalhamos com certo grau de frustração”, reafirmou.
Outro fator que atrapalha as negociações de etanol com os japoneses é o lobby da indústria petrolífera de se adotar o ETBE (Éter Etílico Terc-Butílico), como aditivo à gasolina, produto feito com 60% e isobutileno, um derivado de petróleo, e 40% de etanol.
“Mesmo com essa mistura e com a cadeia de produção mantida com a indústria de petróleo, o mercado potencial de etanol ainda poderia atingir 1,8 bilhão de litros por ano, mas sequer estão claros quais os segmentos (tipos) de gasolina que poderiam utilizar a mistura”, explicou o assessor da Única.
Por fim, segundo a entidade produtora brasileira, uma previsão mais recente dá conta de uma demanda anual de 380 milhões de litros de álcool para Japão a partir de 2010, o que seria um quinto do total previsto nas conversas bilaterais. “Mesmo assim, os japoneses querem que parte desse combustível seja produzida internamente com resíduos florestais, casca de arroz ou mesmo lixo urbano. Outra parte poderia ainda ser buscada em países do Pacífico que são potenciais fornecedores”, concluiu Szwarc.