O Brasil não deverá importar etanol anidro dos Estados Unidos para equilibrar a oferta do combustível no mercado interno, que estaria limitada e fazendo os preços subirem. A informação é do diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Antonio de Pádua Rodrigues, e foi feita a propósito de comentários no mercado de possível importação do produto pelo Brasil.
Os rumores teriam surgido depois que a trading ADM fez uma consulta sobre custos logísticos de se importar etanol dos Estados Unidos com destino ao Nordeste brasileiro. Na Bolsa de Chicago, os contratos do milho, matéria-prima para o etanol americano, subiram nos últimos dias.
No Brasil, o anidro é utilizado na mistura com a gasolina na proporção de 25%. Para Rodrigues, vários fatores inviabilizam neste momento a importação de etanol norte-americano. “Em primeiro lugar existe a necessidade de uma especificação para o etanol norte-americano, que é de milho”, disse. Outro fator seria o custo. Embora o dólar mais fraco e o preço do etanol nos Estados Unidos estejam mais baratos que no passado, ainda é inviável a importação para que o anidro seja vendido no mercado interno do Centro-Sul nos atuais preços.
Porém, para o Nordeste brasileiro, a operação é matematicamente viável, segundo o consultor Arnaldo Correa, gestor de riscos da Archer Consulting. Segundo ele, considerando o preço do etanol norte-americano, em torno de US$ 1,85 por galão e o imposto pago pelo importador de 20%, o etanol norte-americano ainda chegaria aqui com um ganho de R$ 100 por metro cúbico.
Ele ressalta, contudo, que esta viabilidade está vinculada ao dólar mais fraco e que se trata de uma operação arriscada, se ocorrer. “Isto não significa que a importação vai acontecer. Existem outras questões a se considerar”, disse.
Uma destas questões seria a importação de etanol pelo Nordeste no momento em que a região inicia sua safra. “Seria moralmente condenável se esta importação ocorrer. Este produto ocuparia o espaço de etanol que poderia ser produzido durante a safra que se inicia, o que significa redução de mão-de-obra contratada”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool do Estado de Pernambuco (Sindaçucar), Renato Cunha.
“Seria contraditório o Brasil importar etanol quando está construindo uma imagem de grande exportador de biocombustíveis”, disse. O executivo lembra também que este álcool norte-americano é subsidiado e possui características diferenciadas ao do produto utilizado aqui.
Rodrigues, da Unica, ressalta, entretanto, que o Brasil possui anidro e que a importação é desnecessária. “Cerca de 30% da safra ainda está para ser processada e isto deve suprir o mercado”, afirma. Se não suprir, o mercado vai se autorregular, afirma ele.
Segundo Rodrigues, com a alta do preço do etanol hidratado que está sendo registrado, os preços do etanol irão subir, o que pode tirar sua competitividade em relação à gasolina. Com o uso de mais gasolina, a qual o anidro é misturado, os preços do anidro devem subir ainda mais. “Com a alta do preço do anidro, os usineiros vão produzir mais etanol, equilibrando a oferta e demanda”, informa. Para Pádua, as coisas podem ser resolvidas internamente sem a necessidade de importação. (Eduardo Magossi)