A quebra da safra 2024/25 estimada em 7%, já foi alcançada em agosto. Segundo Luciano Rodrigues, diretor de Inteligência Setorial da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), a continuidade das secas e o aumento de queimadas devem acentuar essa quebra até o final da temporada. Rodrigues fez essa avaliação durante o Prêmio Produtividade com Modernidade, realizado nesta quarta-feira (11), no Centro de Cana, em Ribeirão Preto-SP, pelo Programa Cana IAC, onde palestrou sobre as perspectivas do setor.
A baixa precipitação de chuvas desde o início da safra, em abril, intensificou o cenário de queda. Entre abril e agosto, a pluviosidade foi muito inferior à média histórica, fator que impactou diretamente a produtividade das lavouras. Durante sua apresentação, Rodrigues exibiu gráficos que mostravam as áreas mais afetadas pela seca, evidenciadas por regiões mais escuras nos mapas, destacando a ausência de precipitações em relação ao esperado.
“A condição dos canaviais no início e no fim da safra é completamente diferente”, disse Rodrigues. Ele explicou que as mudanças climáticas e a disponibilidade de água resultam em uma variação significativa na qualidade da cana colhida ao longo da safra, o que pode ampliar a diferença de produtividade entre as regiões.
Apesar de uma expectativa inicial de aumento na área de colheita, a realidade se mostrou mais complexa. Embora a área plantada tenha sido ampliada, problemas como a presença de cana bisada em algumas regiões de São Paulo prejudicaram a qualidade da produção. Segundo Rodrigues, a produtividade observada na safra anterior, beneficiada por melhores condições climáticas, não se repetiu integralmente nesta temporada.
Além disso, incêndios em áreas de cultivo causaram novas perdas. “Em um levantamento parcial, cobrindo 70% das áreas de usinas, identificamos 231 mil hectares afetados por incêndios, dos quais cerca de 100 mil hectares já foram colhidos”, relatou.
No setor de etanol, há um cenário misto. Enquanto a produção de etanol de milho deve crescer e representar uma parcela significativa da oferta, a produção de etanol a partir da cana-de-açúcar está sofrendo com a menor produtividade.
Em relação ao açúcar, a produção também ficou abaixo do esperado, prejudicada pelas condições climáticas desfavoráveis e problemas de qualidade da matéria-prima. Embora os preços do açúcar estejam elevados e permaneçam atrativos, a oferta global está reduzida em relação à demanda. “O preço do açúcar está convidativo, mas ainda não alcançou os níveis do ano passado”, apontou.
Por outro lado, o etanol tem registrado uma recuperação no mercado de combustíveis, com o consumo se aproximando dos níveis pré-pandemia. A participação do etanol hidratado no mercado sinaliza um movimento positivo para o setor.
Rodrigues também abordou aspectos do programa ‘Combustível do Futuro’, que foi aprovado e, definitivo pela Câmara, nesta quarta-feira (11), e agora segue para sanção da Presidência da República. O programa promete trazer transformações importantes para o setor, sendo uma das principais mudanças propostas é a flexibilização no percentual de mistura de etanol na gasolina, hoje fixado em 27%. A proposta prevê uma variação entre 22% e 35%, com um debate inicial em torno da fixação de 30%.
Outra inovação do programa é a introdução de biocombustível no querosene de aviação. O plano propõe uma mistura inicial de 1%, com possibilidade de crescimento gradual até 10%. Esta medida é vista como um importante passo para a redução de emissões no setor aéreo.
Além disso, o projeto inclui a mistura de biometano ao gás natural, começando com 1% e podendo chegar a 10%. Também está prevista a criação do ‘Certificado de Garantia de Origem do Biometano’, facilitando a comercialização desse combustível ao desvincular o atributo ambiental do gás natural, o que permitirá transações mais transparentes e acessíveis no mercado.
Outro destaque é o marco regulatório para a ‘Captura e Armazenamento de Carbono (CCS)’. Essa tecnologia visa capturar o CO2 emitido durante a produção de biocombustíveis e armazená-lo em camadas subterrâneas, permitindo a produção de etanol com pegada de carbono negativa. Essa inovação reflete o compromisso da indústria com práticas mais sustentáveis e com a redução de emissões.
Adicionalmente, o programa de ‘mobilidade verde’ oferece incentivos baseados nas emissões por quilômetro rodado. Com isso, veículos movidos a etanol, especialmente aqueles produzidos com energia renovável, terão vantagens sobre os movidos a gasolina.
Por fim, o projeto também aborda a regulamentação do ‘hidrogênio renovável’ e do potencial do etanol na geração de biogás e biometano, demonstrando o foco em um futuro energético sustentável e diversificado.
Luciano Rodrigues finalizou ressaltando a importância da preservação das atuais regras tributárias para o etanol, alertando sobre o impacto negativo que mudanças abruptas poderiam causar à competitividade do setor. O ‘Combustível do Futuro’ visa, portanto, assegurar a estabilidade regulatória e tributária, garantindo um ambiente favorável ao desenvolvimento da bioenergia no Brasil.
Segundo o diretor, este cenário de desafios climáticos e inovações tecnológicas reforça a necessidade de adaptação e planejamento estratégico do setor sucroenergético para garantir a sustentabilidade e competitividade em um mercado global cada vez mais exigente.