Mercado

Unibanco Corretora projeta alta para papéis da Cosan

Foi divulgado na sexta-feira um novo relatório sobre a Cosan, a gigante brasileira na produção de álcool e açúcar. A análise, da Unibanco Corretora e assinada por Carlos Albano, ajudou a movimentar um mercado que já é muito favorável à empresa. Na sexta, as ações ordinárias da Cosan (ON, com direito a voto) tiveram alta de 4,32%, enquanto o Índice Bovespa registrou quedas em boa parte do dia e fechou com uma leve alta de 0,25%.

É o primeiro relatório da corretora do Unibanco sobre a Cosan e era aguardado com muita expectativa, uma vez que são ainda poucas as instituições que cobrem a empresa e os relatórios que existiam até agora apontavam preços alvo para o papel que já não guardavam muito espaço para ganhos.

Mas eis que vem Albano e sinaliza ainda um potencial de alta de 35% para o papel. Pelos seus cálculos, o preço justo para cada ação da Cosan é de R$ 135,00 e não os R$ 104,00 pelos quais foi negociada na quinta-feira. Assim, uma nova correria em direção ao papel foi observada na sexta-feira, puxada principalmente por investidores estrangeiros, e a ação fechou a R$ 108,50. Era o combustível que faltava a um mercado que quer comprar as ações da Cosan. Se comparado ao preço que foi negociada na sexta, o potencial de alta para o papel ainda é atraente, de 24,42%.

O preço alvo apontado por Albano leva em conta um risco-Brasil de 325 pontos base. No caso de o risco-país chegar a 225 pontos base, o preço projetado pode chegar a R$ 145,81 (o que eleva o potencial de ganho para 33,62%).

Muito já se falou nos últimos meses sobre os atributos de Cosan, seus investimentos, sua competitividade e projeção de expansão para os próximos anos. Mas pouco se tem falado sobre os riscos. Há um teto para as ações da Cosan?

“Certamente que sim”, diz Albano. Mas, seguramente, não é este pelo qual a empresa é negociada. Pelos múltiplos da empresa – indicadores que avaliam se uma empresa está cara ou barata-, não é possível dizer que a alta recente é uma euforia. O relatório da Unibanco Corretora traz uma tabela com as principais ações do setor no mundo e os múltiplos de Cosan estão abaixo da média dos calculados para essas empresas internacionais. O Preço/Lucro – que dá uma estimativa do número de anos para se obter ganhos com o papel – para o setor em 2006 é de 14,78 vezes. Cosan é negociada a 10,55 vezes. Outra medida, o múltiplo EV/Ebtida (valor da empresa em relação a sua geração de caixa), também favorece a Cosan. A média internacional está em 8,04 para o ano de 2006 e o da Cosan, em 7,45.

A demanda de investidores pelo papel tem incentivado as corretoras a acompanhar a empresa. Mas o investidor que não comprou o papel – que só neste início ano acumula quase 60% de alta – quer saber mesmo é se ainda há chances de embolsar um lucro com essas ações ou se, como costuma ocorrer em momentos de euforia, vai entrar apenas para pagar a conta. Afinal, quais são os riscos de comprar Cosan neste momento?

Segundo Albano, não há euforias. Os fundamentos da empresa sustentam a alta recente e a projetada. É claro que há riscos, como em qualquer investimento. Neste caso específico, diz Albano, o forte risco está relacionado ao produto da empresa ser uma commodity. “O açúcar é uma commodity e, como tal, seu preço está sujeito a variações cíclicas”, diz. Se a produção de açúcar de um determinado país der um salto, por exemplo, pode pressionar os preços para baixo, o que certamente vai afetar os resultados futuros da Cosan e, portanto, vai se refletir no preço da ação.

Apesar de a empresa ter vantagens competitivas, a produção de cana está sujeita às condições climáticas, que podem afetar a qualidade e a produtividade da companhia. Outro ponto para se prestar atenção é petróleo. “A dinâmica do preço internacional do petróleo é que está mantendo o valor do álcool nos níveis atuais, o que faz com o preço do álcool fique sujeito às oscilações do mercado de petróleo”, diz Albano. “Se o petróleo cair muito, o álcool deixa de ser competitivo”. Assim, a venda de carros bicombustíveis tende a cair, provocando uma redução na demanda por álcool. “As usinas então deixam de produzir álcool para produzir açúcar, o que vai pressionar para baixo o preço do açúcar”, diz.

Por fim, interferências políticas. O risco que sempre vai existir é o de o governo interferir nos preços do álcool por conta de pressões inflacionárias. “Recentemente, o governo colocou um limite de alta nos preços para o álcool no mercado doméstico”, diz o relatório da Unibanco Corretora.