BRUXELAS – A União Européia (UE) apresentou hoje um novo plano de desenvolvimento de biocombustíveis, para tentar quadruplicar o consumo do produto no bloco em cinco anos, na esperança de que as agitações atuais do mercado de energia incentivem os Estados membros a se envolverem mais no setor. Assim, a UE poderá se tornar concorrente do Brasil.
Os biocombustíveis, que são feitos de biomassa – substância orgânica como resíduos de madeira, cultivos agrícolas e animais – são usados em veículos e vistos na UE como uma maneira de reduzir o crescente papel do setor de transportes como emissores de gases que aquecem o planeta.
Assim, a UE poderá se tornar concorrente do Brasil, primeiro produtor e consumidor mundial de biocombustíveis. O Governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou em novembro que investirá 10 bilhões de dólares nos próximos sete e oito anos para dobrar sua produção.
Com a intenção de confirmar uma lei européia de 2003, a Comissão Européia pretende aumentar a proporção de consumo de biocombustível no bloco a 5,75% do combustível total consumido na UE em 2010.
A lei fixava uma meta de 2% para 2005 que não foi alcançada: a proporção de biocombustível subiu para apenas 1,4% neste ano, após 0,8% em 2004, segundo a Comissão.
Mas a situação mudou, diz Bruxelas, por causa dos novos recordes históricos do petróleo, da recente crise de abastecimento energético com a Rússia e também da necessidade de reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa para lutar contra o aquecimento global.
“Os próprios Estados membros e os cidadãos agora têm muito mais consciência disso e da vulnerabilidade da União Européia por sua dependência energética”, declarou a comissária para a Agricultura e o Desenvolvimento da UE, Mariann Fisher Boel.
Os bicombustíveis produzidos na UE ainda não são tão competitivos quanto o petróleo. Um barril de etanol custa 80 euros, e um barril de biodiesel, 60 euros, segundo um especialista da Comissão, contra 55 euros (65 dólares) para um barril de petróleo.
Para reduzir os custos de produção, Bruxelas se dedica à pesquisa, com a fabricação de “biocombustíveis de segunda geração”, e às economias de escala garantidas por um aumento da produção.
A Comissão, porém, não forneceu dados sobre a redução dos preços esperada nem sobre os investimentos necessários para atingir estes objetivos.
Além do interesse em reduzir os gastos com petróleo e a dependência energética européia, o projeto de desenvolvimento dos biocombustíveis responde à necessidade de reduzir a emissão de CO2, de acordo com os compromissos do Protocolo de Kyoto, assinado pela UE, lembrou a comissária Fisher Boel.
Como os transportes estão na origem de um quarto das emissões de gases causadores do efeito estufa da UE, os biocombustíveis podem reduzir de 20% a 70% a emissão de CO2 na comparação com o petróleo, segundo um especialista da Comissão.
Por fim, a estratégia ambiciosa para os biocombustíveis pretende oferecer “novas alternativas para os agricultores da EU”, explicou Fisher Boel.
Na UE, o etanol é produzido com o açúcar de beterraba e cereais, e o biodiesel com grãos de oleaginosas como a colza (variedade de couve comestível cuja semente fornece óleo).
Os produtores de açúcar afetados recentemente pela reforma do regime açucareiro da UE poderão se beneficiar deste projeto, ressaltou a comissária.
No mesmo tom, o comissário do Desenvolvimento e da Ajuda Humanitária Louis Michel disse que o mercado de biocombustíveis representa uma nova oportunidade para os países em desenvolvimento produtores de açúcar.
O plano da UE ilustra assim “a coerência de diferentes políticas européias, em agricultura, pesquisa, energia e desenvolvimento”, comentou Louis Michel.