Ao contrário do que se viu em anos passados, a safra de cana deste ano deve se prolongar até meados deste mês em diversas unidades produtoras do centro-oeste. Mas isso não significa maior volume processado. Desde o início do ano o setor vem alertando para a queda da produção dos canaviais, provocada por problemas climáticos e pela falta de investimento na renovação das lavouras de cana. –
Temos ainda o fato de as usinas estarem percentualmente produzindo mais açúcar este ano. O etanol hidratado continua sendo a segunda opção. O álcool anidro, que é misturado à gasolina, este ano ganhou maior atenção dos usineiros e teve produção maior, mas o volume é bem menor que o do hidratado. Também não é de esperar um estoque de passagem elevado. Provavelmente será menor que em 2010.
O resultado será nova escalada do preço do etanol nas bombas de combustível. Hoje, segundo levantamento da ANP, somente em Goiás o álcool combustível é mais competitivo que a gasolina. No restante do País é preferível abastecer o veículo com gasolina.
Se considerarmos que até 2020 mais de 80% da frota brasileira de automóveis terão a tecnologia flex, temos um problema sério a resolver. É preciso que o governo estabeleça novas políticas públicas de estímulo à produção de cana-de-açúcar, além de normatizar o setor, estabelecendo regras mais claras para produção de etanol. Caso contrário, veremos o desabastecimento ocorrer em plena safra, e não, como é comum, na entressafra.
Um dos fatores que afetam o setor, segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), é o controle do preço da gasolina, que o governo exerce e que estaria tirando a competitividade do etanol e estimulando as usinas a apostarem no açúcar. O próprio presidente da Unica, Marcos Jank, disse recentemente que “não adianta aumentar o número de veículos flex se na bomba o valor da gasolina segue congelado”. O executivo garantiu que o setor não quer o aumento da gasolina, “apenas uma concorrência mais justa”. São questões a serem analisadas. Afinal, o biocombustível já não é apenas uma aposta do Brasil, mas uma necessidade global para conter o efeito estufa. O governo também precisa ter pulso firme e impor regras rígidas que garantam a produção do etanol para atender a demanda nacional.