Mercado

Uma feira para apagar a tristeza

Apaga-tristeza, engasga-gato, quebra-goela, dindinha, espanta-moleque, água-que-passarinho-não-bebe. Não importa o nome que se dê a ela. A brasileiríssima cachaça foi tema central de uma feira inteira que foi até o domingo: a “Expocachaça — 1ª Exposição Internacional da Cachaça”. A feira esperou um público de 15 mil pessoas, entre empresários do setor e admiradores que não dispensam o gole de um produto que hoje já é a terceira bebida destilada mais consumida em todo o mundo, só perdendo para a vodca e o soju, produzido pela indústria coreana.

O objetivo dos organizadores é aproveitar a vocação de negócios da capital paulista para atrair novos importadores e fornecedores de equipamentos e serviços. A feira tem 60 expositores, nacionais e estrangeiros, como a francesa Monin, gigante do ramo de essências para coquetelaria e cafés.

O potencial de exportação da bebida fez com que o governo editasse em dezembro de 2001 um decreto que estabeleceu a denominação cachaça como oficial e exclusiva da aguardente produzida no Brasil — a exemplo dos registros de origem estabelecidos para os grandes vinhos no mundo. A caipirinha também foi incluída na proteção e é essa mistura de aguardente, açúcar e limão que abriu as portas para o produto brasileiro no mercado internacional.

Na Alemanha, que sozinha importa 29% de toda a cachaça destilada no Brasil, a caipirinha é a bebida da moda, principalmente entre o público feminino. No Japão, a mistura é consumida em garrafas long neck, com 5% de álcool, disputando o mercado com bebidas do tipo ice. Já em algumas redes nos EUA é possível encontrar a caipirinha em potes de plástico, como os de iogurtes, com pedaços de limão.

— A cachaça tem tudo para ocupar o espaço vazio deixado pela queda na produção da tequila no mercado internacional e pelas dificuldades do uísque em conquistar fatias mais jovens de consumidores e renovar seu público — afirma o empresário José Lúcio Mendes, diretor de Marketing da feira paulista e responsável pela Expocachaça mineira.

Entre 1995 e 2002, a exportação de cachaça aumentou quase 30 vezes e chegou a 70 países diferentes. Mas os valores comercializados ainda são miúdos diante do potencial. Do cerca de 1,5 bilhão de litros produzidos por ano, apenas 14,5 milhões (1% do total) são vendidos no exterior, gerando receita de US$ 20 milhões. Esse valor corresponde a menos de 7% do que a Baccardi gasta anualmente em investimentos para produzir e distribuir o seu famoso rum.

Pelo Programa Brasileiro de Desenvolvimento da Cachaça (PBDAC), a meta é exportar 42 milhões de litros até 2010, mas para isso os produtores locais terão de encontrar alternativas para driblar três problemas: falta de escala, inexistência de padrão e preço. Hoje, a média de produção dos cerca de 30 mil produtores brasileiros oscila entre 70 mil e 150 mil litros por ano, quando o mínimo para garantir uma distribuição mais efetiva no mercado externo seria de 500 mil litros.

A falta de uma padronização na produção e de recursos para investir em compra de equipamentos leva a situações em que o país é tratado de forma desigual em relação aos demais concorrentes. A aguardente brasileira é vendida nos EUA como rum brasileiro e, por causa disso, tem de pagar uma taxa extra de US$ 0,29 por litro. O preço, finalmente, é reflexo dessa falta de escala.

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