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Uma difícil rota para chegar à China

Terá vida curta a pretensão do governo de atrair investimentos chineses para criar um corredor ferroviário que permita a exportação de produtos brasileiros pelo porto chileno de Antofagasta, no Chile. Apesar de o assunto estar na pauta da viagem que o presidente Lula fará à China, em maio próximo, a implantação da ferrovia ligando o Centro-Oeste brasileiro ao porto chileno é considerada economicamente inviável para o Ministério dos Transportes, que sequer foi consultado formalmente sobre o projeto.

A ligação ferroviária com o Chile, teoricamente, reduziria a distância entre o Brasil e os mercados da Ásia, especialmente a China e o Japão. Cruzando o Pacífico, seriam 8 mil quilômetros a menos para os grandes navios cargueiros e uma economia no frete bem interessante para os chineses, grandes compradores de soja e minério de ferro do Brasil. A malha ferroviária existe, tanto no Brasil quanto na Bolívia e no Chile.

Autoridades do governo chegaram a declarar que bastaria fazer a integração dessas ferrovias. Para recuperar o trecho brasileiro, os investimentos nem seriam tão altos (cerca de R$ 80 milhões) se comparado com o custo de implantar uma ferrovia nova, de R$ 2 milhões/quilômetro.

O problema é que entre o Brasil e a costa do Pacífico existe uma barreira natural que inviabiliza o transporte em larga escala: a Cordilheira dos Andes, um conjunto de montanhas com mais de 4 mil metros de altura. A ferrovia que hoje atravessa a cordilheira é antiga, tem traçado sinuoso, bitola estreita e baixa capacidade para transporte de carga.

“É muito precipitado pensar nesta rota como corredor de exportações. Os investimentos para adaptar a ferrovia seriam muito altos”, disse o secretário-executivo do ministério dos Transportes, Keiji Kanashiro. Ele explicou que, para viabilizar o projeto, a ferrovia precisaria ter poucas curvas e bitola larga para suportar trens com mais de 150 vagões. Isso implicaria na construção de uma série de túneis, inviabilizando economicamente o projeto.

“Durante muito tempo ainda escoaremos a nossa produção pelos portos do Atlântico”, previu Kanashiro. Para ele, a ligação com o Pacífico precisa ser vista pela ótica da integração regional. A ferrovia serviria para transporte turístico de passageiros e de volumes menores de carga.

Mesmo inviável no médio prazo, o projeto poderá será objeto de um memorando de entendimento para ser assinado durante a visita de Lula à China, segundo informou o Itamaraty. Até o BNDES se mostrou interessado em financiar o empreendimento.

Do lado chinês, o interesse foi demonstrado pelo vice-ministro da Agricultura da China, Fan Xiaojian, que liderou recente missão comercial ao Brasil. Além do setor de infra-estrutura de transporte, a China quer investir na expansão da fronteira agrícola brasileira e em alguns setores da agroindústria, como o de combustíveis renováveis – álcool e biodiesel.

A China é o terceiro maior mercado do mundo para produtos brasileiros, principalmente soja e minério de ferro. No ano passado, os chineses foram responsáveis pela entrada de US$ 4,5 bilhões em divisas de exportação. A China é o maior comprador de soja em grão do Brasil e o segundo maior mercado para óleo de soja. De 2002 para 2003, as vendas de produtos brasileiros para a China cresceram quase 80%.