O número de pessoas que consomem carne e café, que conduzem automóveis, que gostam de pílulas e se tornam obesas é o mais elevado em toda a história da humanidade, segundo relatório publicado semana passada em Washington.
Essa insaciável necessidade de consumir afeta negativamente o ambiente e a saúde humana, adverte o Sinais Vitais 2001, estudo anualmente publicado pelo organização não-governamental Worldwatch Institute sobre as tendências sociais e ambientais. “Cada vez mais encontramos evidências de que os estilos de vida baseados no consumo no mundo industrializado não são saudáveis para as pessoas e para o planeta que habitamos”, disse Michael Renner, pesquisador do Worldwatch.
Embora grande parte do mundo seja demasiado pobre para seguir tais modelos, as classes médias das nações em desenvolvimento adotam as mesmas condutas perigosas, iniciadas nos países ricos. O consumo de carne e de café está se elevando, assim como a obesidade. Mais da metade dos fumantes do mundo se encontra nos países em desenvolvimento.
Tendências – O relatório, de 192 páginas, documenta 49 tendências, desde o crescimento da população e da produção de automóveis até o desaparecimento dos recifes de corais e de muitas línguas do mundo. “Como resultado do crescente consumismo, as tendências ambientais conduzem à destruição da complexa rede de segurança ecológica da Terra”, diz o documento, acrescentando: “O aumento do consumo humano de alimentos, como carne, ovos e leite, ameaça a qualidade das águas do planeta, uma vez que a população mundial de vacas, frangos e porcos triplicou desde 1960. O uso tradicional de fertilizantes orgânicos, baseados no esterco, cedeu espaço para a fertilização química, que contamina as bacias aqüíferas”.
A produção mundial de café chegou a 7,1 milhões de toneladas em 2000, um salto de 10% em relação à safra anterior. Esse contínuo aumento contribui para o desmatamento e para o emprego cada vez maior de fertilizantes químicos e de pesticidas. Por outro lado, estima-se que existem no mundo 250 milhões de toneladas de plástico (PVC) em materiais de construção, embalagens, cabos elétricos e diversos produtos de largo consumo. A produção de PVC cresceu 39% entre 1992 e 1999. Tanto a manufatura quanto os dejetos plásticos geram substâncias altamente tóxicas, como as dioxinas, que estacionam no solo e na água.
Expansão agrícola – O Sinais Vitais prevê que, em 2080, terá desaparecido a metade das atuais terras úmidas que compõem as costas oceânicas, devido à expansão agrícola, à urbanização caótica e à elevação do nível do mar provocada pelo aquecimento do planeta. Áreas úmidas e pântanos servem para controlar inundações e para purificar a água.
Os recifes de corais do mundo também estão em perigo. A porção deles danificada era de 10% em 1992, hoje chega a 27%. Essas formações são bem conhecidas por sua riqueza biológica, e são também importantes como fonte de alimentos para os peixes. Ademais, elas protegem os terrenos costeiros da destruição provocada por tormentas marinhas, pela erosão e pelas inundações. “A deterioração dos ecossistemas estabelece condições para que os desastres naturais sejam mais freqüentes e mais destrutivos”, assinala o documento.
Clima – As mudanças climáticas, causadas pelo aumento da temperatura da Terra, podem agravar ainda mais esse quadro. A maioria dos cientistas atribui o aquecimento planetário ao consumo de carvão, de gás e de petróleo. Embora o consumo de combustíveis fósseis tenha diminuído em 0,3% desde 1998, ainda continua muito alto. “As emissões de gases estufa quadruplicaram nos últimos 50 anos.”
Um dos fatores que mais contribuem para o consumo de combustíveis fósseis é o aumento dos veículos particulares e o nulo avanço na eficiência dos combustíveis para contrabalançar esse aumento. A maior dependência dos automóveis não só aquece o planeta como conduz a um estilo de vida mais sedentário, tornando epidêmica a obesidade. Um em cada seis habitantes da Terra vive acima do peso, a maior proporção da história. A Organização Mundial de Saúde considera a obesidade o principal problema de saúde pública, sendo um fator importante nos acidentes cérebro-vasculares, nas enfermidades cardíacas, no câncer e no diabetes.
O relatório assinala algumas tendências positivas, como o crescimento das fontes renováveis de energia, mesmo considerando-se que representam uma parte muito pequena do mercado. Hoje, gera-se dez vezes mais eletricidade por energia eólica que em 1990, e a produção de células fotoelétricas é dez vezes maior que em 1987.
Danielle Knight escreve na revista Ambiente Global