Massimo D’Alema, ex-premiê da Itália e atual presidente da Delegação Permanente das Relações entre a União Européia e o Mercosul, está no Brasil com a missão de ajudar a acelerar a conclusão de acordo entre os dois blocos.
Nesta semana, D’Alema tem encontros com o presidente Lula, com parlamentares e com ministros para levar a seguinte mensagem: “Temos que acelerar as negociações entre a UE e o Mercosul ou terminaremos por nos afogar em meio à Rodada Doha”.
As negociações entre UE e Mercosul estão paradas desde outubro de 2004. Mas na OMC (Organização Mundial do Comércio), recentemente, o Brasil saiu vencedor de painéis contra a UE nos casos do frango e do açúcar. É a agricultura, justamente, o maior obstáculo das conversas entre os blocos. A seguir, entrevista concedida à Folha ontem, em São Paulo.
Folha – Qual o objetivo da visita dessa delegação do Parlamento Europeu ao Brasil?
Massimo D’Alema – É uma reunião periódica entre o Parlamento Europeu e a Comissão Parlamentar Conjunta do Mercosul. É também uma ocasião para deslanchar conversas bilaterais entre o Brasil e a UE. A comissão diz que a dificuldade está do lado sul-americano. Estamos aqui para ouvir. Vamos nos reunir com o presidente Lula, com deputados, com empresários e com o ministro [das Relações Exteriores] Celso Amorim, que é um chefe dos negociadores latino-americanos.
Folha – As negociações entre o Mercosul e a União Européia estão travadas desde outubro de 2004. Quais as perspectivas de avanço?
D’Alema – As negociações estão realmente num momento de dificuldade desde outubro de 2004. Estamos preparando uma reunião ministerial entre os dois blocos em breve. Mas, dos dois lados, suspeita-se de que as duas partes não querem fazer um acordo. A Europa acusa Mercosul de não querer um acordo e de refutar a importância da oferta na área agrícola feita pelos europeus. O Mercosul argumenta que ela é inadequada. Para nós, essa visita servirá para descobrir qual é a estratégia e a vontade do lado brasileiro. Obviamente, elas são fundamentais no âmbito do Mercosul.
Folha – E qual é o desejo do lado europeu neste momento?
D’Alema – A UE fez uma oferta agrícola sem precedentes e de alto nível. Mas a UE quer a liberalização de serviços. Eu tenho pedido à Comissão [Européia] que adote uma posição ainda mais flexível. Mas, ao mesmo tempo, dependo de respostas do Mercosul. O governo brasileiro precisa sinalizar para nós se é mais vantajoso para o Brasil priorizar as negociações multilaterais da OMC. Compreendendo melhor a posição brasileira, poderemos orientar melhor a Comissão na Europa.
Folha – Além de maior acesso a produtos agrícolas, o Mercosul teria mesmo mais alguma vantagem com esse acordo?
D’Alema – Acredito que, no Brasil, muitos setores agrícolas vêem a oferta com simpatia. Do ponto de vista político, o acordo com a UE é vantajoso, porque a UE reconhece o Mercosul como um sujeito de negociação, diferentemente dos EUA, que preferem negociar individualmente com os países. Um acordo entre a UE e os sul-americanos também tem a questão estratégica de reforçar uma visão de multilateralismo.
Folha – Há como conciliar as duas posições para se chegar a um acordo em breve?
D’Alema – Agora há uma janela de oportunidade e temos que nos esforçar para não perdê-la. É importante que o nosso acordo seja fechado o quanto antes. Temos que acelerar as negociações entre a UE e o Mercosul ou terminaremos por nos afogar em meio à Rodada Doha (ronda de liberalização comercial da OMC). Isso seria um grande erro. Se tivéssemos um acordo, chegaríamos à negociação da OMC mais fortes.