O comércio agrícola da União Européia é cada vez mais dominado por produtos de alto valor agregado, o que colabora para elevar os lucros do setor enquanto seus representantes se adaptam à reforma da Política Agrícola Comum (PAC) do bloco. Dados da Comissão Européia, o braço executivo da UE, mostram que 67% das exportações agrícolas dos países-membros já envolvem produtos processados, mais caros. No caso dos Estados Unidos, o percentual alcança 44%; no Brasil, 43%. Ou seja, os europeus são, entre grandes exportadores agrícolas, aqueles que mais reduziram sua dependência dos embarques de commodities, que movimentam volumes superior mas são mais baratas. Nesse caminho, a Europa vem elevando as exportações de produtos processados como queijos, presuntos, farinhas e bebidas, voltados em grande parte à classe média em expansão em destinos como Ásia, Rússia e Oriente Médio. Ao mesmo tempo, os embarques de commodities como cereais, açúcar, manteiga e carnes diminuem, e essa curva fica mais acentuada porque os subsídios para afrontar a concorrência nos mercados internacionais continuam a declinar e deverão desaparecer em 2013. “É uma tendência forte e que ajuda a UE a reduzir o déficit comercial”, diz Pierre Bascou, um dos dirigentes da direção-geral da agricultura da UE, em Bruxelas. A UE vai revelar em breve que em 2007 voltou a ser importadora líquida de produtos agrícolas. Mas que o déficit da balança agrícola foi menor graças ao crescimento das exportações de produtos transformados. Assessores em Bruxelas atribuem a “nova face” do agronegócio europeu às alterações da PAC. A UE continua a conceder US$ 68 bilhões em subvenções por ano a seus agricultores. O que mudou foi o sistema de apoio, não mais vinculado à produção ou à exportação de commodities específicas. E mais agricultores procuram crescer em áreas que consideram ser mais lucrativas. Para Bascou, a situação é ilustrada pelos lácteos. De um lado, a fatia do comércio global de leite em pó, uma commodity barata, caiu de 50%, em 1999, para 27% em 2007. De outro, o leite europeu está sendo utilizado cada vez mais para produzir queijos com alto valor. Com isso, a parte da Europa no comércio global de queijo passou de 35% para 42% desde 1999. A UE estima que mais de dois terços de suas exportações são compostas por produtos processados, enquanto a parte de commodities recuou de 10% para 8%. Países como Austrália e Nova Zelândia também tentam se especializar em produtos processados. No Canadá, é essa categoria de produtos que vem avançando nos embarques. Em comparação, os europeus notam que o “impressionante crescimento” das exportações agrícolas de Brasil e Argentina é atribuído às commodities, mesmo que suas exportações de bens intermediários também tenham se desenvolvido rapidamente. No caso do Brasil, a fatia das commodities cresceu de 32,4%, em 1999, para 40% em 2004. A parte dos intermediários ficou em 20%, enquanto as exportações de valor agregado teriam passado de 48,5% para 40%. Somente um produto, a soja, representou 50% (US$ 5,4 bilhões) de todas as commodities exportadas pelo Brasil há três anos, ilustram os europeus. Também os EUA venderam mais commodities, enquanto ampliaram as compras de maior valor agregado. Visivelmente surpresa com o rumo da agricultura européia, a revista americana Newsweek estima que os 13 milhões de agricultores do velho continente deixam enfim de combater a globalização para tentar se aproveitar dela e para enriquecer. A Organização Mundial do Comércio (OMC) atribuiu a dois fatores a evolução internacional para o comércio de produtos agrícolas mais elaborados: eles oferecem maior potencial no comércio entre segmentos e na diferenciação de produtos, e a possibilidade de acrescentar valor a um produto de consumo é maior. Em Genebra, nas negociações para liberalização global, negociadores constatam, em todo caso, que o lobby dos agricultores europeus para manter a proteção de suas fatias no mercado doméstico segue duro.
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