Na próxima semana, o mundo marca os 22 anos do pior desastre nuclear do mundo, com a explosão da Usina de Chernobyl, na Ucrânia. Territórios inteiros do país, além da Bielo-Rússia e outros vizinhos, foram contaminados e a produção agrícola deverá ser retomada somente em 600 anos. Porém, a alta dos preços do petróleo e das commodities deve mudar a história. Uma empresa européia acaba de assinar um acordo com o governo da Bielo-Rússia para usar as terras contaminadas para produzir cereais que serão usados como matéria-prima do etanol. Na Ucrânia, alemães estudam investimentos parecidos nas áreas contaminadas para a produção do etanol.
Para a usinas, utilizar a área contaminada pode ser a única forma de competir com o etanol brasileiro no mercado europeu. A primeira empresa responsável pela idéia foi a Greenfield Project Management, com sede na Irlanda. O objetivo da empresa é usar as vastas extensões de terras contaminadas, que não podem produzir alimento para o consumo, para cultivar produtos que seriam transformados em biocombustíveis. Pelas regras da União Européia, 5,75% do combustível usado nos países até 2010 terá de vir do etanol. Até 2020, esse porcentual será elevado a 10%.
Com uma concorrência cada vez maior pela terra, a saída dos irlandeses foi negociar o uso da terra contaminada. Nos últimos anos, a região de Chernobyl e as florestas nos países vizinhos se transformaram em verdadeiros laboratórios a céu aberto. Isso porque, diante da contaminação, não foram tocadas por duas décadas. A vegetação passou a dominar, mas com mutações geradas pela radiação que jamais haviam sido encontradas pelos cientistas.
O pior ocorreu na Bielo-Rússia, que tem a fronteira a poucos quilômetros de Chernobyl – 70% da nuvem radioativa foi levada para o país e 20% do território foi contaminado. O custo do desastre chegou a US$ 234 bilhões, além dos inúmeros casos de câncer na população.
Mas a Greenfield aposta que, com tecnologia e medidas de segurança para os trabalhadores, a terra pode ser cultivada. Segundo a empresa, estudos realizados indicam que a recuperação da terra e a descontaminação serão mais rápidas se o cultivo voltar. “Acredito que alimentos poderão ser produzidos para consumo humano em 60 anos, se começarmos a utilizar a terra”, disse ao Estado o porta-voz da empresa, Basil Miller.
Segundo ele, uma primeira usina está em construção para produzir 550 milhões de litros de etanol, que seriam exportados à UE. Nos próximos meses, a usina fará os primeiros testes para saber qual o grau de radiação do combustível. A empresa plantará cereais e beterraba para extrair o etanol.
Por enquanto, institutos de vários países, como a Suécia, Dinamarca e Estados Unidos, estão envolvidos no estudo. “Os primeiros testes foram encorajadores”, disse Miller. Ele espera o sinal verde para a produção do etanol ainda neste ano.
Miller admite que só produzindo nessas terras abandonadas é que o custo será equivalente ao do Brasil. “O etanol brasileiro é o mais competitivo do mundo e precisamos ser criativos para chegar ao mesmo ponto. O Leste Europeu é provavelmente o único lugar do mundo onde os custos de produção são parecidos com o do Brasil.”
Alta das commodities pára usinas no leste europeu
Usinas de etanol enfrentam uma pane seca no leste europeu. Investidores montaram, nos últimos dois anos, usinas de etanol apostando no crescimento do setor em países como República Checa e Hungria. Mas, com a alta nos preços dos cereais e outros produtos, as usinas não estão conseguindo comprar a matéria-prima.
Algumas estão fechadas desde o início do ano e investidores afirmam que isso prova que a produção do etanol europeu não é eficiente e só pode ocorrer com volume importante de subsídios. A seca que atingiu o leste europeu complicou ainda mais a situação dos usineiros.
Na República Checa, os usineiros rejeitam a tese de que são os responsáveis pela alta no valor dos alimentos. Para a Câmara de Agricultura do país, a produção de etanol também sofre ao ter de pagar mais pela matéria-prima. A alta nos preços dos cereais na República Checa chegou a 400% em dois anos.
A Ethanol Energy interrompeu a produção do biocombustível a partir de açúcar de beterraba em novembro. A usina fica na região da Boêmia e custou 40 milhões. Hoje, as empresas que usavam o seu etanol são obrigadas a importar dos Estados Unidos ou Brasil.
Na Hungria, 30 usinas foram construídas em 2007. Agora, só duas estão operando, com capacidade de produção de 200 milhões de litros. Uma das que fecharam é a sueca Sekab, que previa investir US$ 600 milhões.
Os húngaros querem mais subsídios terão para compensar a alta das commodities. O próprio governo está desistindo de destinar 2,5 milhões de toneladas de grãos para o etanol.