O governo formaliza, hoje, a medida que aumenta de 23% para 25% a mistura de etanol ao litro da gasolina. A iniciativa, fruto de uma resolução conjunta assinada por quatro ministérios (Agricultura, Fazenda, Minas e Energia e Desenvolvimento, Indústria e Comércio), entrará em vigor no dia 1º de julho. A decisão representa um alívio para os produtores, que, em um ano, passarão a colocar mais 400 milhões de litros de álcool combustível no mercado.
A produção brasileira de álcool vem crescendo de forma exponencial. Nos últimos seis anos, expandiu 70%. Graças à preocupação mundial com o aquecimento do planeta e à alta do preço do petróleo nos últimos anos, a maior parte desse aumento ocorreu nos últimos anos. Na safra 2006/2007, a expansão foi de 13,1% em relação à anterior. Para o próximo período – 2007/2008 -, a estimativa é de um crescimento de 13,5%.
Com isso, a produção brasileira deverá chegar a 20,2 bilhões de litros por ano – a meta é dobrá-la até 2017. O Brasil, como se sabe, produz cada vez mais álcool e ao menor custo. De acordo com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, ¾ do crescimento da última safra foi obtido pelo aumento da área plantada de cana-de-açúcar. O restante, pela elevação da produtividade.
Apesar das perspectivas de abertura, em algum momento, de mercados no exterior, a grande motivação dos produtores de álcool tem sido o crescimento do mercado interno. Em 2006, o mercado brasileiro consumiu 13,2 bilhões de litros de álcool combustível (anidro e hidratado). Para 2007, segundo o coordenador-geral de açúcar e álcool da Secretaria de Produção e Agroenergia do ministério, Alexandre Strapasson, a expectativa é que o consumo aparente fique entre 14,5 bilhões e 15,5 bilhões de litros, uma alta, portanto, entre 9,8% a 17,4%.
Com a safra crescente de álcool, a tendência é que não haja problema de abastecimento e os preços do produto não sofram grandes pressões. O problema são as exportações, que estão praticamente estagnadas. Em 2006, o Brasil exportou o equivalente a 3,4 bilhões de litros de álcool (US$ 1,6 bilhão). Neste ano, a previsão é que as vendas cresçam apenas 1%.
“O mercado internacional para álcool combustível deverá continuar bastante fechado e não está prevista a abertura de qualquer novo mercado importante”, adverte Strapasson. De qualquer forma, há um frenesi dos produtores brasileiros, e também dos estrangeiros que estão investindo no país, porque há boas perspectivas de países da Europa, bem como os Estados Unidos e o Japão, passarem a comprar etanol brasileiro a partir de 2008. Em 2006/2007 foram inauguradas 13 unidades de produção. Em 2007/2008 estão começando a funcionar outras 16 e 47 estão previstas para entrar em operação em 2009/2010.
“Como em 2008 começarão a contar as metas de redução da emissão de dióxido de carbono do Protocolo de Kyoto, alguns países signatários, como o Japão, poderão mudar sua atitude conservadora e começar a desenhar programas mais explícitos de uso de etanol”, aposta Strapasson. “Os japoneses querem garantia de fornecimento e diversificação porque não desejam depender de um país só”, acrescenta o ministro Stephanes.
O grande mercado de importação do álcool continuará sendo, na avaliação do governo, o mercado americano, que compra do Brasil entre 2 bilhões e 2,5 bilhões de litros por ano. O que anima o ministro é que há empresas japonesas, como a Itochu (dona da Campo, empresa pioneira na produção de grãos no cerrado brasileiro), interessadas em produzir etanol no país e exportá-lo para o mercado japonês. “Isso nos ajudará tremendamente”, diz ele.
Lula quer inflação mais baixa
O presidente, revela um assessor direto, está felicíssimo com o patamar onde se encontra a inflação – em torno de 3,6% ao ano, abaixo, portanto, da meta oficial de 4,5%. Ele quer que ela fique por aí porque considera um “avanço extraordinário” o Banco Central ter trazido a inflação de 17% ao ano em meados de 2003, ano em que assumiu o primeiro mandato, para menos de 4% quatro anos depois.
Lula não acha uma boa idéia, no entanto, o governo, ao definir as metas futuras, fixar um alvo abaixo desse patamar. Isto significa que o presidente tende a concordar com uma meta um pouco inferior a 4,5% para 2009 – o Ministério do Planejamento e o BC fazem fé por 4%, mas a Fazenda, acreditando na tese de que um pouco mais de inflação traria mais crescimento econômico, está trabalhando por 4,5%.
Para desespero de alguns assessores da Fazenda, o presidente, que está informadíssimo do assunto, considera uma boa idéia a redução do intervalo de variação da banda do sistema de metas – de 2% para 1,5%, para cima ou para baixo. Outra prova de que Lula não quer tolerância com a inflação.
Se arrependimento matasse…
Como o desconfiômetro de Mangabeira Unger não funciona, um amigo do presidente Lula vai conversar com José Alencar para dissuadi-lo da nomeação do professor de Harvard para o ministério. O argumento é o de que, se antes de tomar posse, Mangabeira já trouxe tanto problema para o governo, imagine-se depois…
Por absoluta lealdade a Alencar, Lula se recusa a tratar do assunto com o vice, responsável solitário pela indicação de Mangabeira. Se Alencar não desistir do professor, a posse, prevista, mas não marcada, para a próxima sexta-feira, provocará um dos maiores constrangimentos da História da República.
Obrigado pelo Conselho de Ética do governo a renunciar ao posto de “trustee” da Brasil Telecom (BrT) nos EUA, Mangabeira mandou carta ao juiz Edward Donnelly Jr., assegurando que deixará a função, razão do litígio com a empresa. Fará isso, diz ele na carta, às “00:01 a.m. do dia 15”, o da suposta posse. Uma prova cabal de que continuará brigando judicialmente com a BrT.