Mercado

Tricombustível deve conquistar 10% do mercado

Montadoras produzirão veículos movidos a álcool, gasolina e gás natural, ideais para quem roda mais de 100 Km por dia. No ano passado, afirmava-se que os carros bicombustível representariam, em pouco tempo, 100% do mercado nacional de automóveis de passeio. Com um quarto das vendas internas, pouco mais de um ano e meio depois de serem lançados, os carros movidos a álcool e/ou gasolina, misturados em qualquer proporção, são realmente um sucesso de mercado. Mas, segundo a indústria, haverá espaço ainda para os veículos tricombustível. Ao álcool e gasolina, acrescente-se o gás natural veicular.

“A tendência é de que no médio prazo as montadoras tenham carros tricombustível para abastecer 10% do mercado interno de carros”, calcula Fábio de Souza Ferreira, gerente de sistemas de injeção eletrônica da Bosch. O cálculo é baseado no número de conversão de motores, estimado entre 180 mil e 200 mil por ano. “Este potencial migrará para o mercado original, ou seja, os carros tricombustível produzidos pelas montadoras”, acredita.

“Além do gás da Bolívia, pelo qual o Brasil já pagou, temos novas reservas do combustível descobertas em Santos e no Rio. E temos também legislação, tecnologia e demanda que justifiquem a produção dos tricombustível”, diz Hugo Ferreira, presidente da Dana Corporation – South America, fabricante de autopeças com sede em Diadema, na Grande São Paulo.

No congresso da Sociedade dos Engenheiros da Mobilidade – SAE Brasil, realizado na última semana em São Paulo, pelo menos três companhias apresentaram tecnologia tricombustível: a Delphi, a Bosch e a Magneti Marelli. A General Motors foi a primeira a lançar um tricombustível, o Astra Sedan 2.0 Multipower, com sistema de injeção da Bosch.

“Muito em breve começaremos a fornecer sistemas de injeção tricombustível para uma montadora no País. Acredito que, daqui para frente, o mercado se divida entre sistemas bi e tricombustível”, afirma Gábor Deák, presidente da Delphi Automotive Systems para a América do Sul.

“A tecnologia foi desenvolvida porque existe combustível e demanda pelos carros no Brasil”, diz Deák, que assumirá presidência da SAE Brasil em janeiro de 2005, em substituição a Luso Ventura, ex-diretor da Daimler Chrysler.

Segundo Deák, o sistema de injeção da Delphi tem a vantagem de dispensar o reservatório de gasolina para partida a frio. “Um software sempre garante gás para a partida nos dias mais frios”.

Para Fábio Ferreira, da Bosch, a produção de carros tricombustível terá dois impactos significativos no setor automotivo que os bicombustível não registram: o preço adicional do veículo e o espaço ocupado pelo cilindro de gás. Além da perda de espaço, o tricombustível poderá custar até R$ 4 mil a mais do que seu equivalente bicombustível, afirma o gerente da Bosch.

Portanto, os carros movidos a álcool/gasolina/gás terão um nicho de mercado, segundo Ferreira, formado por consumidores que rodam mais de 100 km por dia. São taxistas, representantes de vendas, técnicos de manutenção e gente que mora longe do trabalho. “Para quem roda mais de 100 Km por dia, o retorno dá-se em nove meses”, calcula.