Antônio Pargana assinala, contudo, que as tradings brasileiras precisam de financiamentos a taxas mais competitivas. “As multinacionais possuem o maior peso nas transações. O desafio maior é incorporar as pequenas e médias empresas ao mercado exportador”, disse Pargana.
No ano passado, as exportações brasileiras somaram US$ 73,08 bilhões, dos quais 70% vieram das 250 maiores exportadoras do País.
Os técnicos do BNDES estruturaram os financiamentos à exportação compartilhada mediante a participação de uma grande empresa, que se convencionou chamar empresa âncora, que tanto pode ser uma trading, que compra produtos acabados para vendê-los ao exterior, ou mesmo uma empresa industrial, que adquire de micros, pequenas ou médias empresas as peças e os componentes a serem utilizados na produção destinada ao mercado externo.
Até agora, o BNDES já selecionou 22 Arranjos Produtivos Locais (APL) por todo o País. Alguns já são exportadores, como os produtores de mel especial com abelhas teúba no interior do Maranhão, mas o objetivo é que todas elas passem a exportar.
A tendência é de que a estratégia se espalhe, passando a beneficiar mais micros, pequenas e médias empresas, com seleção de novas empresas-âncora para exportação. Para este programa não há cartas-consultas, como fazem as empresas para obter linhas de crédito normais e sim a seleção de APL.
O custo das operações por meio de âncoras, em condições diferenciadas em relação ao tradicional Programa Pré-Embarque, será correspondente à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), acrescida da remuneração de 1% ao ano para o BNDES, com taxa de intermediação a ser negociada diretamente pela empresa âncora com o agente financeiro.
O prazo total é de até 18 meses, não podendo o último embarque ultrapassar o prazo de 12 meses e a liquidação da operação, 6 meses. No acompanhamento da operação, será exigida comprovação de exportações efetuadas em valor superior ao montante financiado, a ser calculado por meio de um índice de alavancagem a ser definido na análise de cada operação.
A Cisa Trading foi fundada em 1994 e há três anos alterou sua denominação de Caimex Internacional para Cisa Trading. A empresa é especializada em importações e exporta produtos manufaturados.
“Temos mais de 200 clientes, como GM, HP, Toyota, Loreal, Kodak e Xerox. Nossa especialidade é a administração de processos, logística e distribuição”, disse Pargana. A Cisa negocia anualmente cerca de R$ 2 bilhões e tem como meta atingir em cinco anos movimentação da ordem de R$ 10 bilhões graças à redução de custos.
Pargana afirmou que após o lançamento do BNDES Exim Pré-Embarque Empresa Âncora novos focos de negócios para exportação estão sendo estudados pela Cisa: frutas, móveis e granito. Todos negócios baseados em APL.
Já a Total Trading, fundada em 1999, passou pelos ramos de carne, calçado e madeira até a especialidade atual: exportar chapas polidas de granito. Os destinos do produto são os Estados Unidos (87%) e o Canadá (13%).
“Os produtores brasileiros de granito são pequenos e pouco organizados para manter uma estrutura exportadora para mercados complexos como o americano. A Total tem o papel de dar capilaridade a estes produtores”, disse o diretor financeiro da Total Trading, Carlos César de Oliveira.
No ano passado a Total Trading exportou R$ 11 milhões. Neste ano, o valor obtido em 2003 foi atingido em julho. O crescimento este ano deverá ser de 80% para aproximadamente R$ 20 milhões. A expectativa de Oliveira para o ano que vem é de um aumento de pelo menos 50%, para R$ 30 milhões.
Estratégia
O BNDES desenvolve uma estratégia de desenvolvimento das micros, pequenas e médias empresas e da exportação. O novo programa do BNDES foi lançado oficialmente em agosto, mas já vinha sendo testado há dois anos com a Caterpillar, que não é uma APL, mas um arranjo de fabricantes de autopeças que serviu para testar o sistema de empresa-âncora.
No caso de trading companies, desde 1999 o BNDES testa essa estratégia, ao apoiar micros, pequenas e médias empresas do setor de couro e calçados, por meio de operações que têm como âncora a South Service Trading, uma exportadora do Rio Grande do Sul.
A Total Trading receberá o financiamento para adquirir e exportar placas polidas de granito a serem fabricadas no município de Cachoeiro do Itapemirim (ES). A operação deve beneficiar indiretamente mais de 50 pequenos fornecedores da empresa âncora.
No sentido de beneficiar os pequenos fornecedores da cadeia, a empresa âncora terá como contrapartida ao financiamento o pagamento à vista aos produtores; a comprovação da exportação de 150% do valor financiado; e a comprovação limitada a 20% do valor financiado por fornecedor. Esta última exigência obriga a empresa âncora a pulverizar a aquisição e exportação dos produtos.
O primeiro crédito no âmbito da nova linha do BNDES foi liberado à South Service. A operação financia até US$ 8 milhões para a aquisição à vista e exportação de calçados e artefatos de couro, fabricados por micro e médias empresas do Sul.
A South Service, maior exportadora de calçados do País com US$ 110,5 milhões no ano passado, já realizou outras quatro operações similares com o BNDES, sendo esta, a primeira sob as novas condições da BNDES.
A produção exportada é adquirida de 281 micro, pequenas e médias empresas localizadas no Vale do Rio dos Sinos e Vale do Rio Taquari (RS) e Vale do Araranguá (SC).