Não existem dúvidas que 2007 foi um ano positivo para o agronegócio. Para os mais céticos os números da análise do mercado de terras do instituto FNP, consultoria especializada em agronegócio, tiram qualquer incerteza da afirmação. O preço médio nacional da terra subiu de R$ 3.276/ha, em 2006, para R$ 3.860/ha no ano passado, alta de 17,8%.
E em Minas Gerais, a valorização foi ainda maior com e 22%no mesmo período de comparação. Especialista afirma que commodities em alta, como café e soja, e investimentos no setor sucro- alcooleiro formaram dupla que alavancou o aumento no país e, principalmente, em Minas.
Para a engenheira agrônoma e analista do FNP, Jacqueline Biehrals, tudo começou com a cana-de-açúcar ainda em 2006. “A cana foi o ponto de partida. Com o programa de biocombustível nos Estados Unidos e o programa de retirar álcool a partir do milho, o panorama mundial mudou. O preço de algumas commoditties disparou”, lembra.
Segundo ela, a preocupação com o meio ambiente já é mundial e o Brasil é destaque na produção com baixo custo do etanol. O resultado foi simples, produto em alta, atraiu investidores e as terras para o cultivo de cana-deaçúcar ficaram mais valorizadas. Mas o alarde foi tanto, que o feitiço virou contra o feiticeiro.
Depois de esperarem por uma demanda de exportação de etanol que não foi concretizada, produtores brasileiros viram o preço do produto despencar, por conta da oferta abundante. “A resposta na produção foi rápida, houve um desajuste, o preço da cana caiu e no mercado de terras paralisou”, analisa Jacqueline.
Na avaliação da engenheira com a “paralisada” na cana, o cultivo de grãos, especialmente de soja e milho, ganharam destaque no meio do ano passado, justamente pelo programa norte-americano de substituição da gasolina por etanol produzido a partir do milho.
Com isso, o preço das terras regulados em sacas de soja aumentou e manteve a valorização. “Eles passaram a direcionar a produção para transformação em combustível. Isso valorizou outros grãos em todo mundo”, explica.
Os preços de terra no Estado ficaram entre R$ 125/ha, valor encontrado na região do cerrado de Montes Claros e R$ 14.760/ha, preço registrado nas terras agrícolas com café nas cidades de Alfenas, Guaxupé e Varginha, região Sul do Estado. A média estadual foi de R$ 4.421/ha.
Perigo
Apesar de destacar os bons números, o relatório aponta que o agronegócio tem enfrentado vários problemas para se desenvolver. A política econômica de juros altos, câmbio valorizado e voracidade fiscal dificultam a ações.
Na avaliação de Jacqueline, o setor não deve esperar alterações e vai continuar desfavorecido diante da valorização do real frente ao dólar. Em janeiro de 2005 a moeda norte-americana custava R$ 2,14, hoje ela está abaixo de R$ 1,70. “Não adianta pensar que haverá mudanças, temos que trabalhar dentro deste cenário”, comenta.
Segundo a especialista, os problemas serão maiores caso a economia norte-americana confirme a recessão. O impacto de uma crise na maior potência mundial deve afetar diretamente no preço das commodities, uma queda nos preços dos produtos implicaria no mínimo na interrupção da valorização das terras.
Infra-estrutura
Para José Silva Soares, da Emater-MG, um conjunto de fatores possibilitou ao Estado apresentar uma valorização maior do que a média nacional. Soares destaca ações do governo estadual que teriam atraído novos investimentos para o agronegócio.
“Temos um conjunto de políticas públicas, que começa em melhorias nas estradas, expansão da rede de energia elétrica e vai até a revitalização de órgãos do Estado que estão ligado ao setor”, aponta. Segundo ele a implantação de usinas para produção de biodiesel na região Norte despertam interesse de novos investidores.
“A Petrobras vai abrir essas usinas e isso atrai, chama atenção,” afirma. Para Soares, tais incentivos aliados ao bom momento de algumas commodities explicam a valorização acima da média. “O Estado é essencialmente agrícola. As ações do governo e o bom momento da soja, milho e café foram responsáveis por isso”, comenta.
A valorização por regiões nos últimos três anos foi liderada pela região Nordeste, que obteve alta de 33,9%. Em segundo ficou a região Sudeste, com 30,7%. No ano passado o preço médio nacional subiu de R$ 3.276/ha para R$ 3.860/ha, alta de 17,8%.
Na região Sudeste, o maior preço encontrado chegou a R$ 22.436/ha, perdendo para o preço máximo registrado no Sul, de R$ 29.244/ha. No entanto, a média do Sudeste, a maior do país, fechou 2007 em R$ 7.205/ha. (Victor Hugo Fonseca)