O Brasil começou a estimular a produção de álcool carburante na década de 70, no regime militar (governo Geisel), como alternativa para reduzir a dependência do petróleo importado. Ainda não havia a província petrolífera de Campos e o país comprava no exterior entre 70% e 80% do seu consumo de combustíveis.

Foi desenvolvida uma tecnologia para motores exclusivamente a álcool e adaptados os demais para receber uma mistura de etanol com gasolina. Entre altos e baixos, a indústria sucroalcooleira se modernizou e a utilização do carro a álcool, que havia entrado em baixa por causa da crise de abastecimento na década de 80, voltou, desta vez numa versão mais sofisticada: o flexfuel, capaz de também queimar gasolina ou gás. Um grande incentivo ao consumo do álcool carburante viria do front ecológico, do temor crescente de que, a continuar a tendência das emissões de carbono, o aumento da temperatura no planeta provocará catástrofes inimagináveis.

Assim, o álcool brasileiro e o programa de outros biocombustíveis limpos começaram a chamar a atenção do mundo.Recentemente, dos Estados Unidos.

Como, juntos, Brasil e Estados Unidos respondem por 70% da produção mundial de álcool, nada mais natural, na hora em que se planeja incentivar o consumo de biocombustíveis, que os dois países trabalhem de forma conjunta, conforme proposta do presidente Bush, bem aceita por Lula. O tema estava na agenda da conversa entre os dois prevista para ontem, em Camp David.

Mas, como a obviedade das razões técnicas não consegue superar barreiras ideológicas, parte da esquerda, com o MST à frente, bombardeia essa aproximação. Afinal, nada que implique o avanço da modernização no campo interessa a quem sonha com uma agricultura pré-capitalista baseada em minifúndios sem escala de produção, fadados a viver de subsídios estatais.

Os números provam que não há risco de existir um “deserto verde” de cana-de-açúcar no Brasil. Hoje, a área produtiva do país é de 62 milhões de hectares, dos quais cerca de seis milhões (10%) produzem cana, para a obtenção de açúcar e álcool. Segundo o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues há ainda 22 milhões de hectares adequados para a cana, sem contar 90 milhões de hectares cultiváveis numa enorme área de pastagens, o que significa não se avançar com canaviais sobre a Amazônia. O resto é luta política.