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Superávit de maio ultrapassa US$ 3 bilhões e é recorde mensal

As exportações do país, em maio, foram US$ 3,12 bilhões maiores que as importações, um saldo recorde para o comércio exterior brasileiro. Pela primeira vez na história, o saldo ultrapassou US$ 3 bilhões em um mês. Esse resultado é, em parte, influenciado pelo atraso de embarques e desembarques com a greve de funcionários públicos em portos e alfândegas, em abril, mas reflete principalmente o bom desempenho das vendas externas, estimuladas pela desvalorização do real, e o aumento dos preços internacionais das mercadorias exportadas.

O saldo acumulado nos primeiros cinco meses do ano já chega a US$ 11,24 bilhões; nos últimos doze meses, as exportações somam US$ 79,9 bilhões, US$ 28 bilhões acima das importações no mesmo período.

“Estamos menos dependentes das oscilações de mercado no país A, B ou C; nossa vulnerabilidade no comércio exterior está sendo diminuída”, comemorou o ministro do desenvolvimento, Luiz Furlan.

As importações também vêm crescendo, e, em maio, foi notável o aumento de 24,2% nas compras de bens de consumo e de 20% nas dos chamados bens de capital – máquinas e equipamentos para a indústria, indicador do nível de investimentos no aumento da produção. O ministro ressaltou que esses números “mostram concretamente que existe um dinamismo no mercado interno”.

Apesar do excelente desempenho das exportações de soja, o crescimento das vendas do produto foi menor que a média de aumento das exportações totais, o que, para Furlan, mostra que o desempenho comercial brasileiro é sólido, ainda baseado principalmente nas vendas dos produtos manufaturados, de maior valor. “O saldo não foi inflado pelas vendas do complexo da soja”, enfatizou, ressaltando o forte aumento, em maio, das vendas de aviões (96,3% em relação ao ano passado), caminhões (quase 100%) e laminados planos (58,4%).

O crescimento das exportações totais, em maio, foi de 24,6% sobre maio de 2003; as importações cresceram 25%. Para a consultoria GlobalInvest, o crescimento das exportações diárias, na penúltima semana de maio, em média 70% acima da média das três primeiras semanas, seria uma indicação de que a valorização do dólar em relação ao real também teve um forte peso no resultado do mês. Para Furlan, porém, o impacto da desvalorização cambial “é pequeno e pontual, em alguns segmentos”, pois não teria afetado as vendas de aviões já encomendados, e da soja, por exemplo. Teria estimulado, porém, as vendas de automóveis, calçados e aço.

Em maio, a China, que havia impulsionado as exportações brasileiras no primeiro quadrimestre no ano e se tornado o terceiro maior mercado importador do Brasil, comprou menos 6,6% do Brasil. Em compensação, a Argentina aumentou em quase 70% as compras de mercadorias brasileiras.

Com esse resultado, a balança comercial (valor das exportações menos o das importações) praticamente trocou de sinal nos primeiros meses do ano: entre janeiro e maio do ano passado, o comércio entre os dois países mostrava um saldo em favor da Argentina, de US$ 534 milhões; neste ano, o saldo é em favor do Brasil: US$ 550 milhões. Desde junho do ano passado, o Brasil exporta mais do que importa do vizinho do Mercosul.

Furlan fez questão de chamar a atenção para o desempenho das exportações nos países que, recentemente, receberam a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Onde temos ido, tem espaço para crescer”, comentou, comparando as visitas presidenciais à uma “carga de cavalaria” na guerra. As missões comerciais dos ministros, como a que pretende fazer em junho com um grupo de empresários à China, são “como a infantaria, que vai ocupar o espaço aberto pela cavalaria”, disse.

As vendas para a Namíbia, segundo o ministro, aumentaram quase 50% desde a visita do presidente, em dezembro; as para a África do Sul, 40%; para o Egito, 97%, para a Líbia (“tão criticada”), 52% e, para a Síria, 800% (de US$ 8 milhões para US$ 74 milhões).

Entusiasmado, Furlan exagerou na comparação: “só o aumento das vendas para a Síria já paga o novo avião do presidente”, comentou, criticando a “incompreensão em relação às viagens presidenciais.

O ministro disse ainda acreditar que as greves do setor público em portos e alfândegas reduziram artificialmente as exportações de abril em US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão, que teriam sido efetuadas em maio. “Mas como as greves afetaram maio também, esse valor foi compensado no mês.”

Entre janeiro e maio, o maior crescimento nas exportações foi para produtos básicos (aumento de 30,8%), como soja em grão, minério de ferro, farelo de soja e petróleo. Os produtos semimanufaturados, como mercadorias de ferro e aço, celulose e couros e peles aumentaram suas vendas em 14,8%; e os manufaturados, principalmente aviões, automóveis, calçados e autopeças, tiveram crescimento de 24,3% nas vendas.