Num momento em que executivos e tradings do setor fazem sua peregrinação anual a Nova York para a “Semana do Açúcar”, uma interrogação domina todas as cabeças – será que a maior produtora de açúcar da Europa vai abocanhar as operações da Bunge no país latino-americano?
Essa especulação foi alimentada por Thomas Kölbl, diretor financeiro do grupo alemão Südzucker, que disse recentemente a um jornal local que a empresa – que se mantém discreta devido a um enorme alerta de lucros – ainda pode se dar ao luxo de gastar de € 1 bilhão a € 2 bilhões de euros numa aquisição externa.
Ele disse que “o Brasil ainda é um mercado interessante para nós”. A indústria açucareira já assistiu à realização de vários negócios corporativos em 2014. A Cargill anunciou uma joint venture na área de açúcar com a Copersucar, e, poucos meses atrás, a Wilmar, de Cingapura, anunciou investimentos de US$ 200 milhões na produtora de açúcar e etanol Shree Renuka Sugars, a maior consumidora de açúcar da Índia.
Por seu lado, a estatal Cofco, da China, concordou em pagar uma parcela inicial de US$ 1,5 bilhão por uma participação controladora numa joint-venture de açúcar, soja e trigo com a Noble. Embora o foco do negócio seja os grãos, a China também é uma das principais consumidoras de açúcar, e diz-se que a Cofco estaria buscando uma aquisição na área de açúcar nos últimos dois a três anos.
Novos investidores, principalmente participantes internacionais do mercado, inundaram o setor brasileiro de processamento de cana cinco a seis anos atrás, atraídos pela promessa de crescimento da demanda por etanol à base de cana
Investidores e companhias estrangeiros controlam atualmente 25% do setor brasileiro, comparativamente aos 6% de cinco anos atrás, segundo um executivo. No entanto, o setor enfrenta dificuldades por vários motivos. O aumento dos custos de mão de obra e das terras puxou para cima os custos de produção, e o governo brasileiro não mostra disposição de elevar os preços dos combustíveis. Esses fatores resultaram num aperto das margens do etanol.
É nesse pano de fundo que a americana Bunge anunciou uma análise estratégica de suas operações sucroalcooleiras no Brasil, pregando, essencialmente, o cartaz “à venda” na fachada dos ativos de usina de açúcar que comprou há 4 anos, por US$ 1,4 bilhão.
Ao contrário de tradings de commodities que enfrentaram dificuldades, a Südzucker provavelmente terá mais habilidade para operar usinas brasileiras, que tendem a ter produção de cana agregada. Uma cooperativa de processamento de açúcar de beterraba no sul da Alemanha detém 52% do capital do grupo e, os agricultores estão dispostos a adotar uma visão de longo prazo, explica Jonathan Kingsman, diretor da consultoria em açúcar Kingsman. “Processamento de açúcar é produção agrícola. As tradings não são produtores agrícolas”, diz ele.
Por exemplo, o grupo francês de açúcar Tereos, controlado por uma cooperativa de fécula de batata, que tem presença no Brasil desde o início da década de 2000, deu mostras de perseverança.
No entanto, o setor brasileiro de cana-de-açúcar continua sendo uma área difícil para ganhar dinheiro. Elizabeth Farina, presidente da associação setorial Unica, manifestou preocupação, recentemente, com a saúde do setor de açúcar e etanol após um prolongado período de fragilidade dos preços, que estavam abaixo dos custos operacionais e financeiros na maioria das usinas brasileiras.
Cerca de dez usinas tendem a permanecer fechadas para esta temporada de moagem, e mais de 40 delas fecharam as portas nos últimos anos. Outras 30 estão em processo de reestruturação, e um punhado de outras amarga situação financeira precária, disse ela.
A menos que o governo brasileiro mude sua política de preços de combustíveis para dar sustentação ao setor de etanol, a Südzucker terá de ter vontade de ferro se e quando ingressar no mercado.
(Fontes: Emiko Terazono – Valor Econômico)