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Soros investe em usinas no Brasil mas vê sobreoferta de álcool

O megainvestidor George Soros pretende investir cerca de 900 milhões de dólares na produção de álcool no Brasil em cinco anos, mas enxerga uma possível superoferta no mercado local e obstáculos para a expansão do comércio internacional do biocombustível.

“A menos que o mercado no resto do mundo se abra, talvez exista uma produção excedente”, afirmou Soros, que participa nesta terça-feira do Ethanol Summit, evento promovido pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) em São Paulo.

Numa entrevista coletiva, o investidor criticou o protecionismo nos Estados Unidos e na Europa contra o etanol.

Segundo ele, o mercado vive uma situação paradoxal: há um excedente no Brasil e uma “tremenda fome” por álcool no mundo.

“Existe a proteção à indústria local (nos EUA e na UE), mas ela não consegue abastecer o mercado. Então tem que haver uma mudança política, e a indústria brasileira tem que requerer isso”, disse.

Soros tem investimentos pessoais no agronegócio brasileiro por meio da Adecoagro. Criada em 2002, a empresa atuava apenas no mercado agropecuário argentino até chegar ao Brasil em 2004, quando comprou fazendas na Bahia e Tocantins.

As atividades em agroenergia começaram em 2005, com a aquisição da usina Monte Alegre (MG), onde Soros esteve no domingo. A unidade processa 1 milhão de toneladas de cana/ano.

O próximo passo é a montagem de uma empresa de etanol em Mato Grosso do Sul, onde serão aplicados os investimentos de 900 milhões de dólares.

Serão três usinas, com uma área total de cana de 150 mil hectares, que até 2015 estarão processando 11 milhões de toneladas de cana e produzindo 1 bilhão de litros de álcool.

Com a nova operação, a receita anual do grupo no Brasil deve subir dos atuais 125 milhões de dólares para 600 milhões de dólares em oito anos. A Adeco atua também nas áreas de algodão, soja, milho e café no país.

Em março passado começaram a ser plantadas as primeiras áreas com cana em Mato Grosso do Sul e a ser construída a primeira das três usinas, que terá capacidade para moer 3,5 milhões de toneladas/ano. O início da operação está previsto para 2008.

Perguntado a respeito do que achava das críticas do presidente venezuelano, Hugo Chávez, ao etanol, Soros afirmou ser ele um “revolucionário bolivariano baseado nas altas receitas com o petróleo.” “Obviamente ele não quer nenhuma concorrência com o etanol”, observou.