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Solução no canavial

E grande a dependência de petróleo na América Central, com os cinco países da região comprando praticamente todo o combustível que consomem. Em 2002, os centro-americanos (excluindo Belize) consumiram 88,4 milhões de barris de petróleo, significando gastos de US$2,683 bilhões, segundo a Secretaria de Integração Econômica Centro-americana. Por outro lado, os sete engenhos de açúcar em operação em Honduras trabalham duro para produzir energia a partir do bagaço da cana.

Atualmente, os 65.000 hectares com plantações de cana-de-açúcar de Honduras produzem cinco milhões de toneladas, com o potencial de gerar 344 megawatts de energia elétrica. Segundo Carlos Melara, diretor da Associação de Produtores de Açúcar (APAH), esta cifra equivale a 51 milhões de galões de bunker – um sub-produto do petróleo – , que representa uma economia de US$56 milhões. Em outras palavras, apenas um engenho de Honduras é capaz de fornecer energia elétrica para iluminar uma cidade de 200.000 habitantes.

A indústria açucareira hondurenha vem apostando forte na produção de energia “limpa com investimentos de mais de US$54 milhões. Além disso, o governo irá apoiar programas de geração de 300 megawatts via energia elétrica renovável. Número pequeno se comparado com o Brasil, mas significativo para o pequeno país centro-americano. “A idéia é trocar aos poucos a forma de geração e depender o menos possível da energia térmica, destaca a ministra de Recursos Naturais, Patricia Panting.

A ministra tem motivos de sobra para estar otimista com o futuro: calcula-se que a redução do custo de produção de um kilowatt a partir do bagaço de cana será de 50%. Especialistas no setor afirmam que esta cifra será traduzida na economia de US$0,02 a US$0,03 por kilowatt.

Os números ilustram o desperdício que significa deixar de lado as oportunidades de geração de energia oferecida pela cana-de-açúcar. A safra de 2005 irá gerar cerca de 385.050 toneladas de açúcar. A partir do melaço, sub-produto da cana, também é possível produzir etanol para substituir as importações de combustível e ainda vender o produto para os Estados Unidos.

“A meta é produzir mais de 10 milhões de galões de etanol com este melaço, o que evitaria a importação da mesma quantidade de gasolina, estima Yamal Yibrín, presidente da APAH. Com isso, Honduras economizaria cerca de US$11 milhões por ano e até poderia exportar 50% da produção para os vizinhos centro-americanos. Para a América Central, isto implica na economia futura de quase US$150 milhões, de acordo com a Comissão Econômica para América Latina (CEPAL).

No momento, os países centro-americanos se movimentam para promover amplos programas de produção de etanol. Além disso, os investimentos industriais projetados na região ultrapassam a casa de US$200 milhões e o melhor de tudo é que para 2010 a região trabalha com o potencial de destilar 900 milhões de litros por ano.

Grandes produtores de açúcar, como Brasil e Estados Unidos, avançaram muito na utilização do etanol como combustível. A indústria açucareira da Colômbia também está no processo de transformação para iniciar a produção deste combustível.

As oportunidades de um melhor posicionamento no mercado surgem dentro do Caribbean Basin Initiative (atual CBTPA). “Contamos com uma tarifa zero para o etanol dentro de algumas condições previstas na assinatura do Tratado de Livre Comércio com os Estados Unidos (CAFTA), diz Yibrín.

Estima-se que até 2006 o consumo de etanol nos Estados Unidos saltará para mais de 12 bilhões de litros, fato que representará grandes oportunidades para os engenhos de Honduras.

Segundo Jacobo Weizemblut, diretor administrativo do engenho Açucareira Yojoa, localizado em San Pedro Sula, a segunda cidade de Honduras, as perspectivas para produzir combustíveis biológicos no país são interessantes, pois não contaminam o meio ambiente. Apesar disso, ele faz algumas ressalvas. “Existe a matéria prima, mas é preciso fazer uma análise dos custos e benefícios para desenvolver o projeto, diz.

Até o momento, entre o Banco Centroamericano de Integración Económica e outras entidades financeiras locais já foram investidos US$50 milhões para alavancar esses programas. Gerar um megawatt de eletricidade exige investimentos de US$1 milhão em tecnologia, dizem os executivos do setor.

Engenhos. No final do ano passado, foram aprovados 22 projetos que já estão gerando 134 megawatts a nível nacional. Para o presidente hondurenho Ricardo Maduro, o país espera produzir 69 megawatts adicionais de energia hidrelétrica, com a entrada de novas operações este ano.

Atualmente, engenhos como Açucareira Tres Valles, Yojoa e La Grecia produzem 35 megawatts, enquanto os engenhos Lean e Aguan só produzem meio megawatt cada um. A geração projetada para cada engenho do país varia entre 12,5 e 30 megawatts por ano.

A APAH prevê um futuro brilhante e trabalha com muito otimismo. “Temos capacidade instalada para gerar 80 megawatts e, com a introdução da nova tecnologia, chegaremos a 250, afirma Yamal Yibrín.