Sobraram US$37,3 bilhões na economia brasileira no ano passado, e ainda assim o câmbio está praticamente no mesmo patamar do ano 2000 (quando o excedente de dólares foi de US$12 bilhões). A sobra de dólares decorre do bom desempenho das exportações, pois pelo lado financeiro saíram do Brasil US$20,3 bilhões no ano passado.
Diante desses números, é pouco provável que o real se desvalorize em 2007, já que a balança entre exportações e importações deverá continuar positiva em mais de US$40 bilhões.
O Brasil tinha efetivamente apenas US$15 bilhões em reservas quando o câmbio estava em um patamar semelhante ao atual, no ano 2000, e em breve elas chegarão a US$100 bilhões. A dívida externa, que correspondia a 35% do Produto Interno Bruto (PIB), não passa agora de 17% (e se do endividamento forem descontadas as reservas, o percentual cai para menos de 9% do PIB).
Nessas condições, é até surpreendente que o real não tenha se apreciado mais.
O prêmio de risco que o mercado financeiro internacional cobra do Brasil na concessão de créditos está somente 0,15 ponto percentual acima da média das economias emergentes, e essa diferença em passado recente chegou a ser de 1,5 ponto percentual (dez vezes mais!). É possível que tal diferença desapareça por completo quando as reservas brasileiras baterem em US$100 bilhões.
Com o real fortalecido em relação às outras moedas, o câmbio se torna mais um aliado no combate à inflação, o que facilita o trabalho do Banco Central e permite que os juros continuem sendo cortados.
E por falar nisso, qual é a taxa real de juros de equilíbrio na economia brasileira? Se for tomada como parâmetro a dos países emergentes que estão em situação econômica melhor — e excluindo-se desse cálculo as economias asiáticas, que têm poupança interna muito elevada — essa taxa de equilíbrio seria de 5% a 6% ao ano.
No Brasil, considerando-se as transações no mercado financeiro pelo prazo de um ano, a taxa real de juros anda na faixa de 8%.
Há, portanto, um bom espaço para os juros caírem. Se o governo se mantiver na linha, é claro.
Angola pode vir a ocupar o lugar da Venezuela como fonte de abastecimento do mercado de petróleo dos Estados Unidos. A produção de petróleo lá caminha para 2,3 milhões de barris por dia, a mesma que a Petrobras pretende alcançar no fim deste ano no Brasil, só que lá a maior parte é do tipo leve, que tem preços mais altos no mercado internacional.
Embora o petróleo ganhe cada vez mais importância na economia angolana, o país africano vai apostar também na produção de álcool, com plantio de cana-de-açúcar e instalação de destilarias autônomas.
A forte alta dos preços do petróleo, no ano passado, fez com que o custo de aquisição ou aluguel de equipamentos usados na exploração ou produção de óleo aumentassem absurdamente. A Petrobras ainda não conseguiu encomendar novas plataformas (a P-57, por exemplo) porque os preços exigidos pelos construtores passaram de R$2 bilhões.
A P-50, com capacidade para produzir 150 mil barris diários de petróleo, custou em torno de R$650 milhões. A P-52, que processará 180 mil barris, deve sair por cerca de R$1 bilhão.
É claro que as novas plataformas absorverão tecnologias mais avançadas, que aumentam sua durabilidade e contribuem para reduzir o custo médio de extração de cada barril de petróleo. As antigas foram construídas aproveitando-se cascos de navios petroleiros desativados ou bases de outros tipos de plataforma. No entanto, mesmo levando-se todas essas questões em conta — incluindo o aumento dos preços do aço — está difícil explicar o encarecimento dos equipamentos. As companhias petrolíferas de fato estão ganhando muito dinheiro com a alta do óleo, mas o horizonte da indústria é de longo prazo. A Petrobras trabalha com a perspectiva de a cotação do barril recuar dos atuais US$55 para a faixa de US$35. Nesse caso, investimentos de R$3 bilhões (além da plataforma em si, gasta-se na abertura de poços e instalação de tubos, válvulas, âncoras etc., um valor também expressivo) nos campos com dimensões dos que estão sendo explorados no Brasil podem ficar inviabilizados.
O IBGE divulga no fim do mês a sua primeira estimativa do crescimento da economia brasileira no ano passado. Mas em abril o próprio IBGE divulgará a série do PIB, incluindo o ano de 2006, revista de acordo com a nova metodologia adotada pelo órgão.
Não são esperadas grandes alterações em relação aos números já conhecidos, porém em curto espaço de tempo teremos duas estimativas oficiais diferentes para o resultado do PIB do ano passado.
Para 2007, as previsões do mercado sobre o PIB estão sendo revisadas para cima. No último relatório de inflação, o Banco Central projetou um crescimento de 3,8% para a economia brasileira este ano, e tudo indica que o próximo documento virá com 4%.
A contribuição do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o PIB de 2007 seria de mais 0,2%.