Mercado

Sistema eletrônico é braço direito da gestão agrícola

Muitas das unidades da região Centro-Sul anteciparão a safra 2003-2004 sem sobressaltos. Parte da cana-de-açúcar estará pronta para a colheita a partir de abril, seja ela cortada crua ou queimada. Os talhões disponíveis serão detalhados em mapas, assim como as máquinas colhedoras ficarão a postos após passarem por checagem mecânica geral. A mão de obra encarregada para a função estará livre, sem sobrecarregar-se com outros afazeres.

O que garante o planejamento e a tranqüilidade do empresário, prestes a novamente começar antes o ciclo produtivo, atende pelo nome de sistemas de gestão agrícola. São programas de computador – ou softwares – acoplados a tecnologias e equipamentos sintonizados por meio de sinais de radiofreqüência, pela web ou pelo sistema de posicionamento global – gps.

Cerca de 100 fábricas, a maioria instalada no interior paulista, certamente farão uma antecipação de safra sem riscos. Elas utilizam sistemas de gestão integrada que lhes responde se valerá a pena investir em maturador para apressar o amadurecimento da cana-de-açúcar, diante os preços da matéria-prima no mercado, bem como do produto a ser fabricado.

“Essas informações resultam de trabalho feito pelo software junto ao banco de dados da unidade”, diz o engenheiro agrônomo Humberto Meirelles, da SoftFacil, desenvolvedora do programa SGI-Softfacil.

A fábrica São José, de Rio das Pedras –SP – também usufrui tecnologia semelhante. Ela é cliente da Mega Sistemas Corporativos, cujo Mega2000 oferece, entre os módulos, a gestão dos custos agrícolas. Já a Biosalc, que desenvolve sistemas do gênero, conta com 75 clientes corporativos do setor, alguns deles no Chile e na Colômbia.

Os fornecedores desse tipo de serviço começam a pipocar no mercado. Geralmente são empresas 100% nacionais, até porque a complexidade da gestão operacional brasileira difere em muito de outros países produtores e revela-se perda de tempo comprar um sistema importado que, mais dia menos dia, estará obsoleto tamanha a necessidade de ajustes com a legislação local.

O advento dessas ferramentas cresce também na proporção em que amplia o mercado consumidor, ou seja, na medida em que o empresário sabe que apenas com tecnologia de ponta fará a gestão remuneradora de seu negócio.

Estima-se que o mercado ofereça cerca de 20 desses sistemas de gestão. O número deve rapidamente avançar porque das estimadas 310 fábricas de açúcar e de álcool em operação no País, menos da metade opera com algum tipo de software direcionado para a gestão agrícola.

Ferramentas são desenvolvidas nas próprias unidades

O mercado de ferramentas de gestão agrícola cresce cauteloso, mas esbanja credibilidade. Motivo: boa parte delas é aperfeiçoada dentro das próprias fábricas de açúcar e de álcool. O SGI-Softfacil começou a ser empreendido em 1998 – e de uma só vez – no interior das unidades paulistas MB e Vale do Rosário, ambas de Morro Agudo; Jardest, de Jardinópolis; e Moema, de Orindiúva.

A Valore e a Fastwave Telecomunicações também geraram seu revolucionário sistema de telemetria – que transmite informações da colheita para o escritório quase online – dentro da Usina São João, de Araras – SP. A Usina São Manoel, com sede em São Manoel – SP – foi “berço” de módulos de gestão de software da Stice Soluções em Tecnologia da Informação e Consultoria Empresarial.

“Essa interatividade revela bons frutos para ambos os lados da parceria”, diz Edvaldo José de Souza, diretor da Softfacil Software Ltda. Nos últimos quatro anos a empresa apenas investiu no programa, que agora finalmente chega ao mercado.

“Contratamos recentemente um gerente comercial específico para o setor”, explica Souza, cuja softwarehouse conta com 30 funcionários e também atua nos setores citrícola e junto a transportadoras. A parceria com as unidades, acrescenta, serve de cartão-de-visitas para obter novos clientes.

A Softfacil fechou contratos, em 2002, e já implanta seu sistema nas Usinas Santa Fé, de Nova Europa, e na Santa Luiza S/A, de Motuca, ambas no interior paulista. “O objetivo é comercializar mais cinco produtos neste ano”, revela Júlio Campanhão Júnior, analista de sistemas da empresa e “pai” do SGI-Softfacil.

João Umbiruçu Campos Mundim, diretor da Valore, espera vender mais dois de seus sistemas de telemetria até dezembro próximo. O produto, implantado em agosto do ano passado em colhedoras da Usina São João, deverá abranger neste ano todas as 18 máquinas da companhia.

Fora a credibilidade de terem gerado seus softwares “porteira dentro”, os fornecedores desses serviços distinguem-se das desenvolvedoras de programas cujos funcionários estão centenas de quilômetros longe das unidades. Mundim, por exemplo, trabalhou por nove anos e meio na área de mecanização agrícola da Copersucar antes de fundar a Valore.

Já a Softfacil, que conta com engenheiros agrônomos em seu quadro, acaba de contratar o também engenheiro Luiz Fernando Foresti, ex-funcionário da Usina Corona, de Buritizal – SP – por 14 anos. Sua missão será prestar consultoria agrícola aos próprios clientes do software. “A idéia é tirar leite do programa”, diz ele, referindo-se aos resultados apresentados pelo produto e que nem sempre eram aproveitados pelo empresário.

Retorno do investimento pode vir em uma safra

As empresas fornecedoras de inovações tecnológicas agrícolas não gostam de divulgar, via imprensa, sobre os preços de seus produtos. Geralmente desconversam alegando que os valores dependem de cada projeto, do número de módulos a ser implantado etc.

“Estamos atualmente alterando o sistema de preços, até porque o software somente agora está pronto para ir ao mercado”, diz Edvaldo José de Souza, diretor da Softfacil Software Ltda. A implantação do produto, diz, costuma demorar 2,3 mil horas com dois técnicos de sua equipe na unidade industrial durante três dias por semana. Significa um período de 18 meses, com as horas pagas pelo empresário contratante.

Souza, contudo, aposta que o investimento feito com a aquisição do software pode retornar em um ano ou até menos. O normal é a recuperação do valor vir em uma safra e meia. No caso do sistema de telemetria da Valore e da FastWave não é diferente: a estimativa de retorno do aporte é de um ano.

Fora o produto em si, o empresário-cliente precisa levar em conta a tecnologia necessária para a transmissão. O sistema de radiofreqüência costuma ser o mais empregado pelos fornecedores de serviços porque tem custo fixo mensal, mas não cobra taxa pelo acesso. No caso da telefonia fixa, celular e dos satélites existem até planos de desconto nas tarifas, mas o acesso é cobrado pelo tempo de uso.

Outro porém nesse segmento: a confiabilidade da transmissão. O emprego do rádio exige uma estrutura de antenas e captadores e receptores seguros e aptos. Do contrário, uma mensagem online dificilmente sairá do campo e chegará ao escritório da unidade instantaneamente. “Não existe sistema de comunicação 100% e o rádio, sim, é passível de falhas”, reconhece o diretor da Valore.

Fora a comunicação em si, a configuração dos programas costuma ser uma dor-de-cabeça nos técnicos da área de Tecnologia da Informação das unidades. É o momento de interligar um módulo de programa recém-adquirido ao sistema já em funcionamento. A parametrização é perfeitamente viável, geralmente costumam dizer os técnicos das softwarehouses.

Tecnologia deve auxiliar na tomada de decisões

Este ano de 2003 será marcado pela inserção de novas tecnologias que permitirão ao próprio usuário efetuar as alterações necessárias, bem como auxiliá-lo na tomada de decisões. A opinião é de Diego Fernandez, presidente da Biosalc Sistemas e Equipamentos.

Segundo ele, tão importante quanto conquistar novos clientes, é obrigação do fornecedor de sistemas aprimorar o produto já implantado. “O cliente não pode mais perder tempo ligando para a empresa para receber uma atualização”, observa, acrescentando que a alternativa, nesse caso, é disponibilizar ferramentas de auto-instalação. “Para tanto, o fornecedor tem de ser idôneo e altamente confiável”. A Biosalc, observa, desenvolve por conta própria todos os seus produtos.

Fernandez lembra que, além da qualidade do produto em si, o fornecedor tem de passar pelo teste de raio X da fase de implantação. A maioria dos produtores de sistemas e programas tem sede no estado de São Paulo e, para atender clientes das regiões Oeste, Norte e Nordeste, tem três saídas: ou manda pessoal próprio, ou cria escritórios regionais ou, então, firma parcerias.

“As parcerias são uma opção, mas garantimos a eficácia de nossos produtos”, atesta Júlio Campanhão Júnior, o analista de sistemas da Softfacil. “Temos condições de ir onde o cliente estiver, com ou sem parcerias”, emenda João Umbiruçu Campos Mundim, diretor da Valore.

É voz corrente entre os fornecedores o detalhe de que, muitas vezes, o cliente culpa quem vendeu por falhas de funcionamento dos sistemas. Neste ponto entra em cena uma fase que depende de investimento extra da empresa-usuária: o treinamento dos funcionários. “Operar um computador de bordo hoje é tão comum como escrever o próprio nome”, compara Mundim.

No caso da operação do SGI-Softfácil, o usuário da máquina apenas registra o início de seu trabalho ao passar a caneta óptica sobre o código de barras inserido na Ordem de Serviços. “Depois ele faz o mesmo quando encerra o expediente”, explica Humberto Meirelles, técnico da empresa. O software se incumbe de gerir as informações do dia de trabalho.

Para que os sistemas respondam a altura do investimento e do que prometem cumprir, é preciso, portanto, o desembolso do empresário em cursos rápidos de operação. Mas há uma boa notícia: existe um crescimento do número de empresas especializadas em treinamento, o que demonstra o interesse das companhias do setor em consolidar a tecnologia com uma operação eficaz.

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