Mercado

Sinal de alerta na exportação

A indústria brasileira continua surfando a onda do crescimento mundial, mas com dificuldade cada vez maior para acompanhar os principais competidores. Têm diminuído os embarques de vários segmentos industriais, como o automobilístico, o têxtil, o de móveis e o de equipamentos eletrônicos, e alguns produtores só têm conseguido manter alguma rentabilidade graças à elevação de preços. Outros têm apertado suas margens de ganho para não perder a participação duramente conquistada no mercado internacional. Mas há limites para os dois expedientes. O aumento de preços torna-se impossível quando a demanda esfria ou quando a competição fica mais acirrada. Quanto à redução de margens, deixa de ter sentido quando a empresa começa a acumular perdas no comércio externo e não há sinais de mudança num prazo razoável. Esses problemas são atribuíveis a mais de uma causa e uma das mais importantes, neste momento, é o câmbio valorizado.

A receita de exportação da indústria automobilística, no primeiro trimestre, foi 9,4% menor que a de um ano antes. A quantidade embarcada foi 14% inferior à de janeiro a março de 2006. A redução dos negócios foi parcialmente compensada pelo aumento de 5,5% no preço médio dos veículos vendidos. A tendência não é nova. Nos 12 meses terminados em março, a quantidade vendida foi 5,7% menor que a do período imediatamente anterior, segundo análise da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).

Para os produtores de equipamentos eletrônicos, a situação se agravou rapidamente no primeiro trimestre. As vendas já estavam em queda no ano anterior. Em 2007, à redução da quantidade vendida (17%) somou-se a retração do preço médio dos produtos (1,5%). Como resultado, o faturamento obtido com a exportação ficou 18,4% abaixo do alcançado entre janeiro e março de 2006.

A demanda internacional tem favorecido quase exclusivamente os exportadores de commodities – matérias-primas e bens intermediários. A China, com crescimento econômico ainda superior a 10% ao ano, continua a absorver volumes imensos de insumos para sua indústria. Outras economias dinâmicas, principalmente no Oriente, vêm contribuindo para sustentar a demanda e as cotações desses produtos. Além disso, a febre do etanol tem resultado em preços maiores para o milho e, por tabela, para outros produtos agrícolas. A maior parte do agronegócio tem sido beneficiada pelas cotações internacionais. Os preços do café, nos últimos 12 meses, foram em média 6,7% superiores aos do período anterior. Os do açúcar aumentaram 38,5%. As cotações dos óleos vegetais, no primeiro trimestre deste ano, foram 18% superiores às de igual período de 2006, apesar da boa colheita brasileira de oleaginosas.

Especialistas têm discutido uma possível desindustrialização da economia brasileira. O diagnóstico é provavelmente exagerado neste momento, mas há uma divisão razoavelmente clara entre as exportações de manufaturados e as de commodities, quando se examina a evolução do faturamento.

Há alguns anos, faria sentido concentrar a discussão na diferença entre a produtividade da indústria brasileira e a de seus competidores. Mas a maior parte do setor manufatureiro modernizou-se nos últimos 15 anos e ganhou eficiência.

Além de investir e de adotar novos processos de produção e de administração, muitos grupos se empenharam, num grande esforço mercadológico, para tornar seus produtos conhecidos e conquistar espaço no comércio internacional. A maior parte desse trabalho foi realizada sem auxílio do governo federal, reconhecidamente inepto na promoção da imagem comercial do Brasil.

O risco de se perder boa parte desse esforço está longe de ser imaginário. Com o câmbio valorizado, todas as desvantagens do chamado custo Brasil se tornam mais sensíveis e mais onerosas. Se a demanda internacional enfraquecer, a competição se tornará muito mais dura e as perdas para alguns segmentos da indústria serão insuportáveis. Já se fez muita retórica sobre política de competitividade, mas faltou liderança, no governo, para se transformar o falatório em ação eficaz. Se isso não mudar com urgência, será preciso falar em política de pronto-socorro.