O XVIII Encontro Anual de Açúcar e Álcool, promovido pelo Citi Brasil em Ribeirão Preto – SP, reuniu importantes lideranças do setor bioenergético no dia 3 de outubro. O evento contou com a participação de Silvio Cascione, analista da Eurásia, que abordou o cenário político-econômico do Brasil e dos Estados Unidos, destacando os impactos globais dessas dinâmicas. Em sua 18ª edição, o encontro consolidou-se como uma plataforma de discussões estratégicas sobre o futuro do setor de bioenergia.
Cascione analisou a instabilidade política nos Estados Unidos, onde as eleições de 2024 não têm um favorito claro, embora haja uma inclinação para Donald Trump. O analista alertou que o retorno de Trump ao poder pode aumentar a inflação nos EUA, o que traria desafios à política monetária brasileira. Além disso, mencionou o aumento dos riscos de instabilidade no Oriente Médio, o que pode impactar os mercados globais.
Apesar dos riscos geopolíticos, Cascione destacou que o Brasil tem uma oportunidade única de se sobressair globalmente, desde que continue avançando nas reformas internas. No curto prazo, ele considera que o governo brasileiro está em uma posição relativamente estável, mas alertou para possíveis dificuldades em 2025 e 2026.
Cascione elogiou o avanço das políticas de transição energética e a agenda ambiental no Brasil, que deve continuar até 2026. Ele destacou que o país ocupa uma posição estratégica no cenário global, sendo uma potência agrícola, energética e mineral, com potencial para liderar em sustentabilidade. “O governo tem uma política industrial que tenta aproveitar os ativos de sustentabilidade, com novos marcos regulatórios para o mercado de crédito de carbono, hidrogênio verde, energia eólica offshore e biocombustíveis”, afirmou Cascione, reforçando o papel do Brasil na economia verde.
André Cury, head do Commercial Bank do Citi para Brasil e América Latina, destacou o crescimento do setor bioenergético nos últimos anos, apesar das adversidades. Ele observou que a alavancagem das empresas do setor de açúcar e etanol foi reduzida pela metade, com 60% do financiamento agora proveniente do mercado de capitais, um aumento significativo em relação aos 10% de uma década atrás. “O mercado de capitais passou a ser um importante indutor de investimentos e fornecedor de crédito”, afirmou Cury. Ele também ressaltou que as empresas estão bem capitalizadas, o que as ajuda a mitigar o impacto de desafios como queimadas.
Especialistas como Gustavo Spadotti, Chefe-Geral da Embrapa Territorial, e Bruno Serapião, CEO da Atvos, também participaram do evento, discutindo inovações tecnológicas e tendências do setor. Spadotti enfatizou a necessidade de uma nova “revolução verde” no Brasil, com foco no aumento da produtividade sustentável em diferentes regiões do país. “Estamos buscando diminuir a diferença de produtividade entre as regiões mais tecnificadas e a média nacional”, declarou.
Serapião destacou as oportunidades oferecidas pelo etanol, especialmente no setor de aviação, onde é visto como uma solução viável para a descarbonização. Ele, no entanto, alertou para a necessidade de uma política industrial que favoreça a transformação do etanol dentro do Brasil, evitando que o país se limite a ser um fornecedor de matéria-prima.