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Setor sucroalcooleiro promete batalha contra o zoneamento

Os deputados da Região Centro-Oeste do País estão articulando uma audiência pública no Congresso Nacional para barrar a sanção do novo Zoneamento Agroecológico da cana-de-açúcar (ZAE). O projeto de lei que restringe o cultivo da cana em 81,5% do território nacional, se referendado, irá barrar a construção de usinas em 115 dos 141 municípios do Mato Grosso, sendo que os 26 que não serão impedidos de produzir são grandes produtores de grãos e, por conta da segurança alimentar, não plantam cana.

O ponto de partida para a mobilização foi uma audiência pública realizada na última semana pelos deputados mato-grossenses na Assembleia Legislativa do Estado. De acordo com Fernando Corral, vice-presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), o próximo estado a realizar o mesmo evento será o Mato Grosso do Sul. “É um consenso entre os produtores a nossa revolta pelo projeto de lei! “, disse. “Questionamos a forma agressiva na qual ele restringe o estado do Mato Grosso e que, no futuro, pode afetar outros setores”, completou. O setor representa R$ 2,37 bilhões para a economia mato-grossense.

Corral afirmou ainda que o projeto de lei, apesar de dizerem o contrário, não tem embasamento técnico nem científico. “O zoneamento está sendo feito só para dar uma resposta ao mundo de que o Brasil produz corretamente”, avaliou o vice-presidente da Famato.

No que depender do marketing internacional do agronegócio brasileiro, o zoneamento deve mesmo sair. Amanhã o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e o presidente da Câmara Federal, Michel Temer, participam, em Brasília, do seminário “O Setor Sucroenergético e o Congresso Nacional: construindo uma agenda positiva”. O seminário faz parte do Projeto Agora – Agroenergia e Meio Ambiente, iniciativa de comunicação institucional da cadeia produtiva sucroenergética que visa transmitir à classe política ! e à opinião pública os benefícios das energias renováveis.

Estoques de etanol

Com dois terços da safra 2009/2010 percorridos, o estoque de etanol acumulado pelas destilarias do Centro-Sul do Brasil entre abril e outubro é de 2,4 bilhões de litros, 36,9% menor que acumulado em igual período da safra passada. No sentido inverso, a demanda pelo combustível cresceu 16,81%, se comparados os mesmos períodos. Como a oferta de etanol caiu 3,08%, de 16,9 bilhões para 16,4 bilhões de litros no período o resultado natural foi a disparada nos preços do combustível nas unidades produtoras, de quase 59% entre o início de abril e o início de outubro.

Segundo a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Unica), o cenário só não foi pior porque as exportações de álcool recuaram 28% entre abril e outubro de 2008 e de 2009, o que corresponde a um volume de 821,48 milhões de litros que, teoricamente, foi produzido para o mercado interno. Outro fator que evitou uma disparada maior ! no preço do combustível foi o alto estoque de etanol no início da safra 2009/2010, de 2 bilhões de litros.

“Na prática, consumimos o estoque do ano passado, porque a oferta do álcool caiu até agora”, disse Luiz Carlos Corrêa Carvalho, diretor da Canaplan Consultoria. “Na minha vida eu nunca vi uma safra tão complicada como essa”, completou, numa referência ao atraso na moagem da cana e na produção de álcool em virtude das chuvas constantes durante a colheita.

O executivo considera natural que o controle na demanda venha a ocorrer pelo consumidor de hidratado que possui um carro flex fuel. O preço do etanol hidratado aumentaria até se tornar inviável economicamente diante do da gasolina. “Isso mostra a falta de maturidade e de planejamento do produtor e do governo, que sabem que cana é cultura que tem um risco e que deveriam avaliar antes de o problema ocorrer.” Antonio Pádua Rodrigues, diretor da Unica, reafirma que o mercado do etanol será regulado pelo consumidor de f! lex fuel, dono de 36% da frota brasileira de veículos, e que optará por abastecer com gasolina quando o preço do álcool atingir 70% do valor do combustível de petróleo. “O consumidor que está preocupado com a relação energética e com o bolso vai migrar para a gasolina.”