Mercado

Setor quer "arrumar a casa" para ampliar mercado

O setor sucroalcooleiro se prepara para alçar vôos mais altos na comercialização do etanol. Isto é o que demonstraram palestras sobre oportunidades de negócios no mercado nacional e internacional, realizadas durante a 7ª Conferência de Açúcar e Álcool, promovida pelo International Business Communications — IBC, em São Paulo, SP, em março último. O primeiro passo para conquistar outros mercados, é “arrumar a casa”, acreditam lideranças do setor, que estão envolvidas diretamente na comercialização de álcool. “A grande preocupação são os excedentes gerados na produção. Essa situação causa transtorno em função do pânico, porque ninguém quer ficar com o estoque. Os grupos de comercialização têm um consenso que se houver uma divisão do excedente, haverá estabilidade de preço e de estoque”, pondera o presidente da Crystalsev, João Carlos de Figueiredo Ferraz.

Nesta caminhada, ninguém pretende dar passo maior do que a perna, a ponto de provocar “escorregões” que comprometam um trabalho planejado e estruturado. “Devemos fechar contratos que não impliquem em riscos de abastecimento”, afirma José Nilton de Souza Vieira, coordenador geral de acompanhamento e avaliação do Departamento de Açúcar e Álcool do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento. O mercado de etanol é potencialmente forte. Internamente, a projeção da Câmara Setorial é de que o consumo desse combustível crescerá de 11 bilhões de litros em 2003 para 17 bilhões em 2010, sendo 11 bilhões de hidratado. No mercado externo, o álcool tem sido apontado cada vez mais como uma das soluções mais atraentes, a médio e longo prazo, enquanto combustível renovável de energia limpa. Países como o Japão, a Coréia e a Austrália estão redimensionando suas políticas internas para adotar esse caminho. Com a possibilidade de ratificação imediata do Protocolo de Kyoto – caso haja a adesão da Rússia -, a adição de 3% de álcool à gasolina, no Japão, deverá se tornar obrigatória, entre outras medidas que deverão ampliar o consumo do etanol..

O diretor da Sociedade Corretora de Álcool — SCA, Jacyr da Silva Costa Filho, lembrou em palestra, durante o evento do IBC, que a lista de países com programas de mistura de etanol combustível (dados da F. O. Licht e Anfavea), é mais ampla, e inclui Alemanha, Canadá, China, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, Índia, Paraguai, Peru, Suécia e Tailândia. De acordo com Jacyr, existem isenções fiscais para misturas de etanol na União Européia, que atingem 100% na Espanha, Alemanha e Suécia, 60% na França e 42% na Itália. A projeção de demanda, na Europa, é de 2,3 a 5,4 bilhões de litros para 2005, considerando uma mistura de 2% de etanol na gasolina, e de 8,4 a 14,1 bilhões de litros para 2010, levando-se em conta a adição de 5,75% de álcool.

Mesmo com a estrutura limitada, são pelos trilhos que as usinas querem expandir seus negócios. O transporte ferroviário, apesar da pouca opção oferecida, tem os custos mais baixos, entre 15% e 20%, comparado com os transportes via rodovia.

Os principais grupos exportadores de açúcar, como Cosan, Crystalsev, Copersucar, Tércio Wanderley, já estão aumentando a participação das ferrovias em sua estratégia de transporte rumo ao porto de Santos (SP). Uma estimativa do setor mostra que a malha ferroviária carrega cerca de 1,5 milhão de toneladas de açúcar de um total de cerca de 8 milhões de toneladas que seguem de São Paulo até os portos. O objetivo é aumentar o volume nos próximos dois anos por meio de parcerias, o que poderia gerar uma economia total de R$ 10 milhões anuais às usinas.