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Setor está consciente com as questões ambientais

Por Andréia Moreno, da Redação

Reynaldo Lagonera Quinto, diretor de planejamento e engenharia da Qualitech, que estará no início de dezembro ministrando palestra no Curso de Meio Ambiente promovido pela Sinatub, explica em entrevista exclusiva para a ProCana, as melhorias ambientais e a preocupação do setor sucroalcooleiro para com os recursos naturais. O especialista também alerta para a importância do gerenciamento ambiental e os cuidados que as indústrias devem ter com o meio ambiente.

ProCana – O que representa o gerenciamento ambiental para o setor sucroalcooleiro?

Reynaldo Lagonera Quinto – A sociedade brasileira deseja e espera uma significativa mudança da forma de desenvolvimento que ocorre no Brasil, a qual continua sendo a pouca relevância dada à melhoria da qualidade ambiental e da vida, principalmente das populações que se concentram nos grandes centros industriais. As pressões exercidas por vários segmentos da nossa sociedade exigem um maior controle por parte das industrias das condições de emissões de agentes poluidores na atmosfera e de geração de efluentes líquidos e de resíduos sólidos nas suas regiões de abrangência, de modo a minimizar os impactos negativos ao meio ambiente causados por suas operações.

No passado, o setor sucroalcooleiro era muito criticado como um dos maiores poluidores das águas. Hoje isto está mudando gradativamente – muitas das empresas que atuam no setor já alcançaram elevados graus de conscientização e estão dispostas a compatibilizar o crescimento e o meio ambiente. A preservação ambiental no âmbito das suas atividades produtivas já é considerada parte do agronegócio da cana-de-açúcar.

O gerenciamento ambiental é a ferramenta básica responsável pelo êxito dessa transformação e várias empresas que atuam na agroindústria canavieira o considera como uma prioridade corporativa para assegurar o estabelecimento de políticas com programas e práticas que visem conduzir as atividades industriais de uma maneira ambientalmente sadia.

ProCana – Qual a importância deste curso para o público deste segmento?

Lagonera – As atividades produtivas das empresas que atuam no setor sucroalcooleiro deveriam, entre outros aspectos, ser baseadas em posturas pró ativas, visando a preservação ambiental e buscando-se todos os meios possíveis para a melhoria continua do desempenho ambiental. As empresas do setor que procuram zelar pelo seu bom nome devem adotar o compromisso total com a questão ambiental, da mesma forma com que fazem com a qualidade. Isto implica na busca da excelência no trato da questão ambiental, pois disso poderia depender sua sobrevivência no mercado. Evidentemente, isso somente ocorreria se houvesse um absoluto envolvimento na empresa, da sua direção e de seus empregados, concordando, todos, com as leis e regulamentos. Deste modo, as empresas devem buscar educar, treinar e motivar os empregados, tendo como alvo a melhoria continua do desempenho ambiental.

O Curso de Meio Ambiente promovido pela Sinatub é um ensaio que pretende contribuir para iniciar um novo estilo de trato com as questões ambientais, apresentando de forma objetiva e clara as várias fases e conceitos que devem formar as estratégias de controle ambiental das empresas que atuam nas diversas industriais brasileiras, particularmente da sucroalcooeira.

ProCana – Na sua opinião, o setor tem trabalhado mais a questão ambiental?

Lagonera – Certamente, de grandes vilãs do passado muitas usinas de açúcar e destilarias de álcool hoje já adotam o que há de mais moderno no campo de preservação ambiental e recuperação de solos e matas ciliares. De maneira geral, o setor sucroalcooleiro tem adotado medidas adequadas quanto ao destino dos resíduos agroindustriais como a vinhaça, por exemplo, um resíduo contaminante que antes era jogada nos mananciais e agora é reaproveitada como fertilizante na própria lavoura de cana. Também é comum a adoção de soluções para reduzir os efluentes líquidos e as emissões atmosféricas, tais como o emprego do circuito fechado de águas industriais e a instalação de lavadores de gases e retentores de fuligem.

A reestruturação produtiva e organizacional vem ocorrendo de forma significativa na agroindústria canavieira. Modernos mecanismos de gestão ambiental e controle do processo produtivo, como a utilização da informática e o uso de técnicas avançadas de gerenciamento, a utilização de novos equipamentos, a intensificação do corte mecanizado da cana-de-açúcar, têm sido adotados por empresas do setor, cujos reflexos recaem diretamente sobre a qualidade do meio ambiente onde se inserem as atividades agroindustriais do setor sucroalcooleiro brasileiro.

ProCana – O que o setor pode fazer para preservar o meio ambiente?

Lagonera – Algumas medidas que devem ser adotadas pelo setor sucroalcooleiro para preservar o meio ambiente são:

a) Como a água é um insumo vital para a realização das suas atividades agrícolas e industriais, as empresas do setor sucroalcooleiro devem investir em projetos de tratamento e reuso de efluentes hídricos para reduzir o consumo de água nos seus processos industriais.

b) Adotar práticas de manejo menos agressivas, tais como o sistema de plantio direto para substituir o sistema convencional e a colheita de cana-de-açúcar mecanizada ao invés da colheita com queima da palha.

c) Conduzir pesquisas em todas as fases da produção, com o propósito de melhorar os processos fabrís no sentido de minimizar os impactos ambientais.

d) Promover continuamente o diálogo com os empregados e a comunidade procurando atender os seus anseios para a melhoria do meio ambiente em que se inserem no planejamento e na implementação da gestão ambiental.

e) Promover auditorias internas e avaliações regulares para monitorar a eficácia do programa de gestão ambiental adotado.

f) Aplicar normas de Certificação ISO tanto nos sistemas e ferramentas de gestão ambiental como na lavoura de cana-de-açúcar.

ProCana – Comente o tema que o senhor vai ministrar durante o curso da Sinatub e a importância para o segmento canavieiro.

Lagonera – De fato fui convidado para apresentar dois temas no Curso de meio ambiente promovido pela Sinatub:

a) EIA-RIMA (Estudo de Impacto Ambiental – Relatório de Impacto ao Meio Ambiente)

b) Emissões de Matéria e Energia em Usinas de Ciclo Combinado

O primeiro tema, o EIA-RIMA, é um tema bastante atual. Trata-se de um importante subsídio que, se utilizado como técnica de planejamento, promoveria o desenvolvimento ecologicamente sustentável. Sua introdução na política ambiental constitui uma importante conquista à medida que analisa a viabilidade da implantação de obras que possam provocar significativas modificações nos ecossistemas, nas comunidades tradicionais, na saúde, nos aspectos sociais, econômicos, físicos, biológicos e, até mesmo na dimensão cênico-paisagista. Essas características do EIA-RIMA fazem com que ele se constitua num dos instrumentos mais importantes no desenvolvimento ecologicamente sustentável de todos os segmentos industriais em nosso país, inclusive da agroindústria canavieira.

O segundo tema refere-se às emissões de matéria e energia ocasionadas pelas usinas termelétricas que operam em ciclo combinado. A tecnologia de ciclo combinado consiste basicamente da conjugação dos ciclos de Brayton (turbina a gás) e de Rankine (turbina a vapor) num único ciclo termodinâmico. As termelétricas que operam em ciclo combinado destacam-se não somente por ser uma alternativa mais eficiente e mais econômica, mas sobretudo por possibilitar a queima de um combustível mais limpo, tal como o gás natural, o que favorece a preservação ambiental e aumenta a vida útil da máquina motriz.

O esgotamento dos recursos naturais para geração hidrelétrica e a fragilidade inerente de um parque gerador brasileiro que depende fortemente do regime de chuvas apontaram para a necessidade de se buscarem outras fontes energéticas, com capacidade de proporcionar maior equilíbrio à matriz geradora do país. Com a construção do gasoduto Bolívia-Brasil e a entrada do gás natural na matriz energética brasileira, a aplicação da tecnologia de ciclo combinado na geração de energia elétrica tornou-se bastante atraente, passando a ser considerada atualmente como a melhor opção.

Uma variante da tecnologia supracitada é o denominado BIG/GTCC (Biomass Integrated Gasification – Gás Turbine Combined Cycle) que consiste essencialmente na combinação de um gaseificador de biomassa (bagaço de cana-de-açúcar, madeira,etc.) com a termelétrica em ciclo combinado. Essa tecnologia promissora possibilita a produção eficiente de energia termelétrica através de um combustível limpo e renovável a custos bastante competitivos. O esforço na direção da transformação da matriz energética brasileira certamente passa pelo desenvolvimento e aplicação de novas tecnologias e a utilização de biomassa gaseificada em usinas termelétricas em ciclo combinado corresponde plenamente a este desafio.

O curso de Meio Ambiente “Gerenciamento Ambiental nas Indústrias” acontece em Ribeirão Preto (SP), nos dias 4 e 5 de dezembro. Contatos: www.sinatub.com.br.